São Paulo, terça-feira, 09 de setembro de 2008

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Governo ensaia harmonia pré-Copom

SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na véspera de mais uma reunião do Copom, o comitê do Banco Central que define a trajetória dos juros, o governo ensaia um clima de harmonia econômica. O presidente do BC, Henrique Meirelles, pavimentou o caminho com o presidente Lula para fazer o que for necessário para evitar descontrole dos preços -leia-se elevar os juros. Lula, por sua vez, não gosta de altas de 0,75 ponto percentual na Selic, mas está satisfeito com o ritmo de crescimento da economia, que traz dividendos políticos. Enquanto isso, Guido Mantega (Fazenda) e sua equipe comemoram o bom nível de atividade e o recuo da inflação.
Essa combinação que parece agradar a todos no governo no curto prazo, porém, depende de fatores externos para se sustentar por mais tempo e não convence quem acompanha as eternas disputas da equipe econômica nos bastidores.
Para o ex-ministro Delfim Netto, um dos consultores prediletos de Lula, "há um cabo-de-guerra entre BC e Fazenda. E o BC, para reafirmar que é independente, precisará aumentar os juros em 0,75 ponto percentual nesta semana. Ficarei surpreso se ele não fizer isso".
Em agosto, o IPCA ficou em 0,28%, abaixo da expectativa do mercado. O resultado pôs em xeque a manutenção da política de alta dos juros, que a Fazenda acha exagerada. Na ata da última reunião, o comitê sinalizou nova alta de 0,75 ponto.
Meirelles e os diretores que o acompanham no comitê têm desfiado nos bastidores uma série de motivos que justificam aperto monetário.
Publicamente, porém, o presidente do BC se esquiva de falar sobre o assunto. Segundo a Folha apurou, para o BC, o resultado de agosto veio "em linha com o esperado", refletindo a queda nos preços dos alimentos. Porém os demais itens que compõem a inflação, sobretudo os preços do setor de serviços, permanecem em alta.
Além disso, uma grande incógnita para o BC é qual será o peso do comportamento do câmbio para a inflação. Mesmo se confirmado o cenário de queda nas commodities, é preciso saber se a esperada desvalorização do real não anulará o ganho que a redução dos alimentos poderá trazer.
A economia, avaliam os diretores do BC, deverá ter um ritmo menor, mas ainda acelerado, sustentado por ganhos salariais e mais oferta de empregos. Como a economia brasileira ainda é bastante fechada, o impacto da queda esperada no crescimento mundial não deverá ter um peso muito grande.
Por isso, avaliam, não é possível descuidar da inflação, sob pena de pagar um preço alto em 2010, às vésperas da escolha do sucessor de Lula.


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