São Paulo, quarta-feira, 09 de outubro de 2002

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AÇÃO NA FRONTEIRA

Cerca de 2.000 manifestantes enfrentam policiais e agentes do fisco na divisa do Brasil com o Paraguai

Sacoleiros reprimem fiscalização da Receita

Aurea Cunha/"Gazeta do Povo"
Protesto de sacoleiros contra a fiscalização na ponte da Amizade, na divisa Brasil-Paraguai


ALEXANDRE PALMAR
FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM FOZ DO IGUAÇU

Cerca de 2.000 sacoleiros entraram em choque ontem de manhã com policiais em Foz do Iguaçu (PR), na fronteira do Brasil com o Paraguai. Eles reagiram à apreensão de 20 veículos com mercadorias, realizada dentro da "Operação Fim de Ano" de combate ao contrabando.
Após a apreensão, às 9h30, sacoleiros fecharam a rodovia de acesso à aduana e montaram barricada com a queima de pneus. Um policial rodoviário federal tentou dispersar a multidão com dois tiros de espingarda, mas acabou provocando a revolta dos manifestantes.
Os sacoleiros marcharam em direção à barreira policial. Eles destruíram e incendiaram o posto de fiscalização da Polícia Rodoviária Federal. Depois, seguiram em direção à aduna, onde ficam agentes e seguranças da Receita Federal. Acuados, os servidores fugiram.
Durante o percurso, também destruíram cercas de arame, arrancaram correntes de proteção e blocos de concreto que separam a pista, além de danificarem vidros de automóveis particulares e de carros da Polícia Rodoviária Federal.
Os seguranças da Receita reagiram com tiros para o alto. A massa, entretanto, só foi contida com a chegada do pelotão de choque da Polícia Federal e, posteriormente, do Grupo de Operações Especiais e das polícias Militar e Rodoviária Federal. No total, eram cerca de 60 policiais.
O policiais reagiram com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha, transformando a região numa praça de guerra. Depois de quase uma hora de confronto, foram presas pelo menos cinco pessoas, entre elas uma mulher. Outras cinco ficaram feridas.

Solidariedade paraguaia
Segundo o delegado do Núcleo de Operações da Polícia Federal, Cesar Luiz Busto de Souza, os manifestantes "agrediram fisicamente policiais e servidores. Eles ilharam o pessoal na aduana". Os detidos responderão a processo por desobediência, desacato e danos ao patrimônio público.
A prisão de manifestantes parecia ter encerrado a confusão, porém, ao meio-dia, trabalhadores informais paraguaios fecharam a ponte da Amizade "em solidariedade aos colegas brasileiros". O bloqueio só foi desfeito às 12h45, depois de a polícia prometer que não ocorreriam novos enfrentamentos.
"Tanto os brasileiros como os paraguaios precisam do comércio informal para sobreviver. Queremos um serviço, e não roubar", disse o motorista paraguaio Panfilo Flor, 45, que teve o pára-brisa do seu carro atingido por uma bala de borracha, segundo ele.
A "Operação Fim de Ano", iniciada há uma semana pela Receita Federal e outros sete órgãos federais e estaduais, tem revoltado os sacoleiros.
Na sexta-feira, eles fecharam o trevo da ponte da Amizade e uma praça de pedágio da região. O tráfego foi retomado após 200 ônibus de sacoleiros serem liberados sem que houvesse vistoria.


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