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São Paulo, quinta-feira, 09 de outubro de 2003

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MERCADO FINANCEIRO

Investidores consideram que vão sobrar recursos para o país, cuja avaliação também poderia subir

Nota melhor da Rússia aumenta apetite pelo Brasil

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

A elevação da nota da Rússia pela Moody's para o chamado "grau de investimento" catalisou a euforia do mercado brasileiro, que bateu vários recordes ontem.
A notícia afetou diretamente o C-bond, principal título da dívida externa brasileira, que teve alta de 0,67% e atingiu o valor de US$ 0,935, recorde em todos os tempos. Com isso, o risco-país caiu 3,14% e fechou a 616 pontos, nível mais baixo desde 31 de julho de 1998 -chegou a atingir 603 pontos durante a manhã de ontem.
O volume negociado pela Bovespa, que subiu 1,92%, chegou a R$ 1,598 bilhão -o maior desde janeiro de 2000, se forem desconsiderados eventos como leilões e vencimentos de opções. E o dólar caiu 0,45%, para R$ 2,847.
São duas as principais razões para a forte valorização dos ativos brasileiros: uma baseada em prováveis consequências práticas, e a outra, em fortes expectativas de que o Brasil terá em breve uma melhoria em sua nota pelas agências de classificação de risco.
No entender do mercado, com a a entrada da Rússia no almejado time de países considerados "grau de investimento" ("investment grade"), sobrariam mais recursos para outros emergentes que ainda não chegaram lá.
É o caso principalmente do Brasil. Sinal disso é o fato de que o risco-país caiu 20 pontos ontem.
Essa queda ultrapassou o recuo médio do risco dos países emergentes (medido pelo indicador Embi+ do JP Morgan), que foi de 15 pontos ontem.
Com a elevação da nota da Rússia, muitos investidores que buscam risco alto e retornos elevados tendem a deixar o país. Como o Brasil é, seguido pela própria Rússia, o país com maior peso no Embi+ (21,7%), analistas esperam que uma grande fatia do capital especulativo que sairá do mercado russo migre para o brasileiro.
"O Brasil deve ser beneficiado automaticamente. Afinal, quando um país vira "grau de investimento", sobram mais recursos para os outros emergentes", afirma Sérgio Werlang, diretor do Itaú.
Essa possível realocação é a consequência prática. Já as expectativas são que o Brasil também possa receber, em breve, uma melhora na sua avaliação pelas agências de risco. No mercado, essa aposta é alimentada pelo fato de que tem havido uma onda de elevações de notas. Ontem, além da Rússia, Malásia, Indonésia e Tailândia tiveram notas elevadas -mas pela Standard & Poor's.

Ressalvas
No entanto as próprias agências de risco dizem que essa melhoria na nota não deverá vir cedo para o Brasil [leia texto à página B2].
Além disso, para analistas, o país ainda tem um longo caminho de melhorias macroeconômicas e institucionais a trilhar.
Segundo Marcelo Mesquita, diretor do UBS Warburg, uma melhora da nota do Brasil só deverá vir depois que as reformas tributária e previdenciária forem sancionadas pelo presidente Lula. Isso não deverá ocorrer antes de novembro deste ano.
Melhorias macroeconômicas de curto prazo também são esperadas. Já há sinais de recuperação econômica. Mas indicadores monitorados pelas agências, como a relação dívida/PIB -ainda superior a 50%-, precisam melhorar, dizem economistas.
Mesmo com as ressalvas, a elevação da Rússia ao "grau de investimento" deixou o mercado eufórico ontem.


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