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MERCADO FINANCEIRO
Investidores consideram que vão sobrar recursos para o país, cuja avaliação também poderia subir
Nota melhor da Rússia aumenta apetite pelo Brasil
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
A elevação da nota da Rússia pela Moody's para o chamado "grau
de investimento" catalisou a euforia do mercado brasileiro, que bateu vários recordes ontem.
A notícia afetou diretamente o
C-bond, principal título da dívida
externa brasileira, que teve alta de
0,67% e atingiu o valor de US$
0,935, recorde em todos os tempos. Com isso, o risco-país caiu
3,14% e fechou a 616 pontos, nível
mais baixo desde 31 de julho de
1998 -chegou a atingir 603 pontos durante a manhã de ontem.
O volume negociado pela Bovespa, que subiu 1,92%, chegou a
R$ 1,598 bilhão -o maior desde
janeiro de 2000, se forem desconsiderados eventos como leilões e
vencimentos de opções. E o dólar
caiu 0,45%, para R$ 2,847.
São duas as principais razões
para a forte valorização dos ativos
brasileiros: uma baseada em prováveis consequências práticas, e a
outra, em fortes expectativas de
que o Brasil terá em breve uma
melhoria em sua nota pelas agências de classificação de risco.
No entender do mercado, com a
a entrada da Rússia no almejado
time de países considerados "grau
de investimento" ("investment
grade"), sobrariam mais recursos
para outros emergentes que ainda
não chegaram lá.
É o caso principalmente do Brasil. Sinal disso é o fato de que o risco-país caiu 20 pontos ontem.
Essa queda ultrapassou o recuo
médio do risco dos países emergentes (medido pelo indicador
Embi+ do JP Morgan), que foi de
15 pontos ontem.
Com a elevação da nota da Rússia, muitos investidores que buscam risco alto e retornos elevados
tendem a deixar o país. Como o
Brasil é, seguido pela própria Rússia, o país com maior peso no Embi+ (21,7%), analistas esperam
que uma grande fatia do capital
especulativo que sairá do mercado russo migre para o brasileiro.
"O Brasil deve ser beneficiado
automaticamente. Afinal, quando
um país vira "grau de investimento", sobram mais recursos para os
outros emergentes", afirma Sérgio Werlang, diretor do Itaú.
Essa possível realocação é a consequência prática. Já as expectativas são que o Brasil também possa receber, em breve, uma melhora na sua avaliação pelas agências
de risco. No mercado, essa aposta
é alimentada pelo fato de que tem
havido uma onda de elevações de
notas. Ontem, além da Rússia,
Malásia, Indonésia e Tailândia tiveram notas elevadas -mas pela
Standard & Poor's.
Ressalvas
No entanto as próprias agências
de risco dizem que essa melhoria
na nota não deverá vir cedo para o
Brasil [leia texto à página B2].
Além disso, para analistas, o
país ainda tem um longo caminho
de melhorias macroeconômicas e
institucionais a trilhar.
Segundo Marcelo Mesquita, diretor do UBS Warburg, uma melhora da nota do Brasil só deverá
vir depois que as reformas tributária e previdenciária forem sancionadas pelo presidente Lula. Isso não deverá ocorrer antes de
novembro deste ano.
Melhorias macroeconômicas de
curto prazo também são esperadas. Já há sinais de recuperação
econômica. Mas indicadores monitorados pelas agências, como a
relação dívida/PIB -ainda superior a 50%-, precisam melhorar,
dizem economistas.
Mesmo com as ressalvas, a elevação da Rússia ao "grau de investimento" deixou o mercado
eufórico ontem.
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