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São Paulo, quinta-feira, 09 de outubro de 2003

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ECONOMIA

Americano e inglês desenvolveram estudos que permitem previsões sobre séries temporais, como evolução do PIB

Modelos estatísticos rendem Prêmio Nobel

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O Prêmio Nobel de Economia foi concedido ontem a dois professores que desenvolveram modelos estatísticos que permitiram a melhor compreensão e análise de séries econômicas temporais, como evolução do PIB, preço de ações e taxa de juros. A premiação de US$ 1,3 milhão será dividida entre o norte-americano Robert Engle e o britânico radicado nos Estados Unidos Clive Granger.
Ambos trabalharam juntos na Universidade da Califórnia em San Diego, nos anos 70 e 80, e contribuíram para construir a reputação da instituição como uma referência mundial na econometria -aplicação de modelos matemáticos e estatísticos ao estudo das relações econômicas.
A escolha de Engle, 60, e Granger, 69, neste ano foi considerada uma surpresa porque o Nobel de Economia havia sido concedido para estudos econométricos em 2000. Normalmente, a premiação dessa área da economia se repete em intervalos mais longos.
"Eu tinha certeza de que eles receberiam o Nobel, mas acreditava que isso ocorreria só daqui a alguns anos", disse à Folha João Victor Issler, 44, professor da FGV-RJ (Fundação Getúlio Vargas) que conviveu com os premiados de 88 a 93, quando fez doutorado em San Diego. Engle foi seu orientador, e Granger participou da banca que analisou sua tese.
Os estudos que levaram à premiação foram feitos nos anos 80. A Real Academia Sueca de Ciências atribuiu a escolha de Engle ao desenvolvimento de métodos de análise de séries econômicas temporais que apresentam volatilidade, como preços de ações.
Granger foi escolhido por criar modelos de análise de séries que revelam tendências comuns. Seu método é aplicado ao estudo e previsão do comportamento de indicadores que podem variar indefinidamente, entre os quais PIB, taxa de investimento e poupança. Também permite estabelecer relações entre cada um desses índices e estimar tendências.
Os dois estudos possibilitaram a realização de previsões que antes eram impossíveis, pois não havia modelos de análise dessas variáveis no tempo. O método de Engle é usado hoje por instituições financeiras para estimar o comportamento de ativos de risco. "Ele criou um método que permite prever a incerteza, elemento essencial para avaliar o preço dos ativos", diz Issler. Segundo ele, bancos de investimento de todo o mundo utilizam o modelo de Engle, conhecido como ARCH (sigla em inglês para Heterocedasticidade Condicional Autoregressiva), que dá a medida da volatilidade de um ativo.
Desde 2000, Engle é professor da Stern School of Business da Universidade de Nova York. Granger se aposentou em junho, quando deixou a Universidade da Califórnia em San Diego.
Engle soube da premiação na cidade de Annecy, na França, onde tem uma casa. Para ele, a principal contribuição de sua teoria é dar instrumentos para medir e prever o risco de portfólios.
Engle esteve no Brasil pela segunda vez no ano passado, quando participou do evento "Common Features in Rio", promovido pela FGV. "Saímos para jantar e tomamos bons vinhos. O professor Engle aprecia vinhos e gosta de viajar e comer bem", diz Issler. Segundo ele, o ganhador do Prêmio Nobel havia estado no Brasil anteriormente em 1994.
Granger visitou o Brasil nos anos 80 para participar de um congresso de econometria. Além de ter sido orientando de Engle, Issler publicou dois trabalhos com ele, em 1993 e 1995.


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