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LUÍS NASSIF
As guerras entre nações
Há uma análise que se aplica
a tempos de guerra, da chamada guerra psicossocial. São estratégias que se adotam visando
minar a vontade do adversário. É
interessante dissecar um pouco essa visão quase militar da guerra
entre as nações.
Nas disputas entre países, as armas utilizadas basicamente por
aqueles que estão em um estágio
superior de consciência (e, por isso
mesmo, são hegemônicos) baseiam-se nessas estratégias psicossociais.
O subdesenvolvimento é um estado de espírito, assim como a miséria. O obstáculo maior de toda
política desenvolvimentista é convencer a opinião pública de que o
país, um dia, pode ambicionar a
ser hegemônico. O objetivo de todo país hegemônico é o oposto, o
de convencer os países de sua zona de influência a se contentar em
serem caudatários.
Em um tempo em que o grau de
consciência nacional era menor,
em que as informações eram menos difundidas, tal visão passava
por teoria conspiratória ou paranóia. À medida que as grandes
disputas comerciais desnudam o
jogo entre as nações, essas hipóteses passam a ser verossímeis.
Há três elementos que são trabalhados dentro dessa guerra: a
imagem, as palavras e a música.
Quando se define que tal teoria é
"moderna" e que seus adversários
são "jurássicos", está se recorrendo claramente à palavra.
A música "Imagine", de John
Lennon, foi um elemento importante para derrubar a vontade
norte-americana na Guerra do
Vietnã.
A repetição do termo globalização é um aspecto de construção do
imaginário, visando vender uma
hegemonia pactuada dos EUA.
Quando sai de cena Clinton e entra a era Bush, muda-se a estratégia para a hegemonia imposta.
Não coincidentemente, a palavra
globalização sai de moda.
A mais objetiva dessas ferramentas é a imagem, porque é sensorialmente direta. O caso do arrastão no Rio de Janeiro, sempre
em vésperas de eleições, é tipicamente o uso da operação utilizando imagens. Imagens de guerra
são censuradas nos EUA por seu
efeito corrosivo sobre a opinião
pública.
Por isso mesmo, um dos pontos
centrais da visão de estadista de
Vargas foi trabalhar a auto-estima nacional. Foi um processo que
se iniciou nos anos 30 e que se valeu da literatura, da palavra, da
música e das artes plásticas.
Com o advento do regime militar, a política passa a ser excludente. Ocorre um divórcio entre
opinião pública e governo, entre
povo e empresários. Mas mantém-se o ideário desenvolvimentista.
No Brasil, conseguiu-se destruir
o imaginário nacional aproveitando a perda de rumo (normal)
no período de transição para o regime democrático, especialmente
dois governos anormalmente desastrosos, o de Figueiredo e o de
Sarney.
Desmoronou o trabalho de décadas de Getúlio, Capanema, Villa-Lobos, Portinari, Jorge Amado, de construção de uma identidade nacional.
O desafio, agora, é iniciar a reconstrução. Nesse ponto, é relevante o papel internacional de
Lula, assumindo sua condição de
brasileiro com a mesma objetividade de um texano rude.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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