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Governo britânico revela megapacote
Com 500 bi de libras (R$ 1,9 tri), plano é maior que o formulado pelos EUA para economia que é um sexto da americana
Único consenso entre analistas sobre projeto de estatização parcial do setor no Reino Unido é que não se sabe se medida será suficiente
PEDRO DIAS LEITE
DE LONDRES
O governo britânico revelou
ontem os detalhes de um amplo
pacote de 500 bilhões de libras
(R$ 1,9 trilhão ou US$ 867 bilhões) para socorrer o sistema
bancário do país, mas o único
consenso entre os analistas é
que ninguém sabe se vai ser suficiente ou não.
"Tempos extraordinários
exigem medidas sólidas e de
longo alcance", disse o primeiro-ministro britânico, Gordon
Brown, falando que as medidas
vão "ao coração do problema".
O pacote é maior que o do governo norte-americano, para
uma economia que é apenas
um sexto da dos Estados Unidos, lembrou Martin Wolf, colunista do "Financial Times",
em debate sobre as medidas.
O plano ataca em três frentes. Primeiro, o governo vai
promover estatização parcial
do setor, comprando até 50 bilhões de libras em ações dos
maiores bancos do país. Depois, vai dar garantia de até 250
bilhões de libras para novos
empréstimos entre bancos. Por
fim, pôs 200 bilhões de libras à
disposição dos bancos, para refinanciarem suas dívidas.
Opção
Os primeiros 50 bilhões de libras já eram esperados anteontem, quando os líderes políticos
britânicos se reuniram com dirigentes dos bancos, e serão divididos em duas partes iguais.
Caberá aos bancos falarem se
querem o auxílio. O HSBC, por
exemplo, elogiou a iniciativa,
mas disse que não pretende
usá-la. Já RBS e Barclays disseram que têm interesse. Pela
ajuda, o governo ficará com
participação nas instituições.
Detalhes finais do plano deverão ser divulgados até amanhã. Além de Barclays, RBS e
HSBC, o socorro está disponível para HBOS, Lloyds TSB,
Nationwide, Standard Chartered e Abbey. Em troca, o governo deve apertar bastante a fiscalização em cima dos bancos,
exigir empréstimos para proprietários de imóveis e pequenos negócios e impor um limite
à remuneração dos executivos.
"Todas as medidas estão lá
para restaurar a confiança no
sistema bancário, mas vamos
ter de esperar alguns meses para saber se isso é suficiente ou
não", disse Peter Thal Carsen,
editor de Bancos do "FT", em
entrevista ao site do jornal.
"O que aconteceu, na prática,
foi que o governo garantiu todos os depósitos em seus bancos, como vários países já haviam feito. Além disso, deve dar
liquidez no curto, médio e longo prazos. O pacote pode ter resolvido momentaneamente o
problema aqui no Reino Unido
de empréstimo dos bancos,
mas nos Estados Unidos, na
origem da crise, continua muito complicado, sem solução",
afirmou à Folha Charles Dumas, analista da Lombard
Street Research, importante
consultoria do Reino Unido.
"O risco diminuiu com esse
pacote", disse o editor de economia da BBC, Robert Peston.
"Gordon Brown tomou medidas para ajudar nossa economia, mas ele não tem como resolver a economia global."
A julgar pelo desempenho
das Bolsas ontem, o problema
chegou a um ponto em que
mesmo o megapacote não surte efeito. O principal índice da
Bolsa londrina fechou em queda de 5,2% e caiu para o menor
nível desde agosto de 2004.
O efeito do plano
Os bancos praticamente cessaram empréstimos entre eles
e para empresas, temendo abrir
mão do dinheiro que têm e não
serem capazes de honrar compromissos. O pacote, dizem
analistas, tenta desbloquear essa armadilha, dando aos bancos
a segurança de que terão como
se financiar e fonte para fortalecer seu caixa, se necessário.
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