São Paulo, quinta-feira, 09 de outubro de 2008

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Governo britânico revela megapacote

Com 500 bi de libras (R$ 1,9 tri), plano é maior que o formulado pelos EUA para economia que é um sexto da americana

Único consenso entre analistas sobre projeto de estatização parcial do setor no Reino Unido é que não se sabe se medida será suficiente


PEDRO DIAS LEITE
DE LONDRES

O governo britânico revelou ontem os detalhes de um amplo pacote de 500 bilhões de libras (R$ 1,9 trilhão ou US$ 867 bilhões) para socorrer o sistema bancário do país, mas o único consenso entre os analistas é que ninguém sabe se vai ser suficiente ou não.
"Tempos extraordinários exigem medidas sólidas e de longo alcance", disse o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, falando que as medidas vão "ao coração do problema". O pacote é maior que o do governo norte-americano, para uma economia que é apenas um sexto da dos Estados Unidos, lembrou Martin Wolf, colunista do "Financial Times", em debate sobre as medidas.
O plano ataca em três frentes. Primeiro, o governo vai promover estatização parcial do setor, comprando até 50 bilhões de libras em ações dos maiores bancos do país. Depois, vai dar garantia de até 250 bilhões de libras para novos empréstimos entre bancos. Por fim, pôs 200 bilhões de libras à disposição dos bancos, para refinanciarem suas dívidas.

Opção
Os primeiros 50 bilhões de libras já eram esperados anteontem, quando os líderes políticos britânicos se reuniram com dirigentes dos bancos, e serão divididos em duas partes iguais. Caberá aos bancos falarem se querem o auxílio. O HSBC, por exemplo, elogiou a iniciativa, mas disse que não pretende usá-la. Já RBS e Barclays disseram que têm interesse. Pela ajuda, o governo ficará com participação nas instituições.
Detalhes finais do plano deverão ser divulgados até amanhã. Além de Barclays, RBS e HSBC, o socorro está disponível para HBOS, Lloyds TSB, Nationwide, Standard Chartered e Abbey. Em troca, o governo deve apertar bastante a fiscalização em cima dos bancos, exigir empréstimos para proprietários de imóveis e pequenos negócios e impor um limite à remuneração dos executivos.
"Todas as medidas estão lá para restaurar a confiança no sistema bancário, mas vamos ter de esperar alguns meses para saber se isso é suficiente ou não", disse Peter Thal Carsen, editor de Bancos do "FT", em entrevista ao site do jornal.
"O que aconteceu, na prática, foi que o governo garantiu todos os depósitos em seus bancos, como vários países já haviam feito. Além disso, deve dar liquidez no curto, médio e longo prazos. O pacote pode ter resolvido momentaneamente o problema aqui no Reino Unido de empréstimo dos bancos, mas nos Estados Unidos, na origem da crise, continua muito complicado, sem solução", afirmou à Folha Charles Dumas, analista da Lombard Street Research, importante consultoria do Reino Unido.
"O risco diminuiu com esse pacote", disse o editor de economia da BBC, Robert Peston. "Gordon Brown tomou medidas para ajudar nossa economia, mas ele não tem como resolver a economia global."
A julgar pelo desempenho das Bolsas ontem, o problema chegou a um ponto em que mesmo o megapacote não surte efeito. O principal índice da Bolsa londrina fechou em queda de 5,2% e caiu para o menor nível desde agosto de 2004.

O efeito do plano
Os bancos praticamente cessaram empréstimos entre eles e para empresas, temendo abrir mão do dinheiro que têm e não serem capazes de honrar compromissos. O pacote, dizem analistas, tenta desbloquear essa armadilha, dando aos bancos a segurança de que terão como se financiar e fonte para fortalecer seu caixa, se necessário.


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