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UMA JANELA PARA O MUNDO
Aumenta a incerteza
ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.
A continuação da instabilidade nas Bolsas indica que os
desdobramentos econômicos
da crise das últimas semanas
estão apenas começando e
podem ser bastante graves.
Como dissemos na coluna da
última semana, aumentou
muito a incerteza quanto aos
chamados "mercados emergentes" e os ajustes que se
seguirão serão difíceis.
O principal desdobramento
do choque das Bolsas no Brasil não são as perdas patrimoniais sofridas por muitos
agentes, mas o abalo na confiança de que o mercado financeiro internacional e os
fluxos que enviava para financiar o déficit externo estava imune a crises como esta.
As perdas nas Bolsas nos
países industrializados ainda
não são de tal porte que vá
implicar um choque econômico maior para aqueles países. Talvez leve a uma pequena perda no crescimento,
mas os principais fatores que
dão base à saúde econômica
daqueles países não foram
afetados. Somente se a crise
se agravar e trouxer perdas
maiores é que o quadro ficará mais grave.
Mas, para o Brasil, tanto o
choque representado pela elevação das taxas de juros
quanto o abalo na confiança
no futuro próximo da economia representam fortes pressões recessivas. Ademais, nessas últimas semanas praticamente estancou o financiamento externo de diversos tipos de empréstimos e colocações de bônus. Se essa situação perdurar, nossas dificuldades aumentarão.
O fato é que o desajuste das
contas externas havia tornado a economia brasileira bastante vulnerável aos choques
externos. Agora que o financiamento internacional está
em retração será necessário
apressar o ajuste do balanço
de pagamentos.
Ajustar o setor externo significará transferir de 3% a
4% do PIB nacional para os
credores externos. Aí é que
está a dificuldade porque para fazer isso tanto é necessário conter a demanda interna
quanto desvalorizar a taxa
de câmbio. Uma transferência dessa ordem implica diminuição do salário real e
contenção do consumo, coisas que não são nada populares.
A saída política do governo
até o momento tem sido dizer
que cabe ao Congresso apressar a votação das reformas
constitucionais para superar
a crise econômica. Mas mesmo que todas as reformas fossem aprovadas ainda este
ano, seu impacto de curto
prazo seria mínimo. Já a crise
econômica é mais imediata e
exigirá medidas impopulares.
Uma primeira conclusão é
que essa crise não é passageira, como alguns chegaram a
sugerir. Segundo, resta torcer
para que o vendaval externo
suavize, pois do contrário seu
impacto por aqui será ainda
maior.
Álvaro A. Zini Jr., 44, é professor titular
da Faculdade de Economia e Administração da USP.
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