São Paulo, domingo, 9 de novembro de 1997.




Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

UMA JANELA PARA O MUNDO
Aumenta a incerteza

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

A continuação da instabilidade nas Bolsas indica que os desdobramentos econômicos da crise das últimas semanas estão apenas começando e podem ser bastante graves. Como dissemos na coluna da última semana, aumentou muito a incerteza quanto aos chamados "mercados emergentes" e os ajustes que se seguirão serão difíceis.
O principal desdobramento do choque das Bolsas no Brasil não são as perdas patrimoniais sofridas por muitos agentes, mas o abalo na confiança de que o mercado financeiro internacional e os fluxos que enviava para financiar o déficit externo estava imune a crises como esta.
As perdas nas Bolsas nos países industrializados ainda não são de tal porte que vá implicar um choque econômico maior para aqueles países. Talvez leve a uma pequena perda no crescimento, mas os principais fatores que dão base à saúde econômica daqueles países não foram afetados. Somente se a crise se agravar e trouxer perdas maiores é que o quadro ficará mais grave.
Mas, para o Brasil, tanto o choque representado pela elevação das taxas de juros quanto o abalo na confiança no futuro próximo da economia representam fortes pressões recessivas. Ademais, nessas últimas semanas praticamente estancou o financiamento externo de diversos tipos de empréstimos e colocações de bônus. Se essa situação perdurar, nossas dificuldades aumentarão.
O fato é que o desajuste das contas externas havia tornado a economia brasileira bastante vulnerável aos choques externos. Agora que o financiamento internacional está em retração será necessário apressar o ajuste do balanço de pagamentos.
Ajustar o setor externo significará transferir de 3% a 4% do PIB nacional para os credores externos. Aí é que está a dificuldade porque para fazer isso tanto é necessário conter a demanda interna quanto desvalorizar a taxa de câmbio. Uma transferência dessa ordem implica diminuição do salário real e contenção do consumo, coisas que não são nada populares.
A saída política do governo até o momento tem sido dizer que cabe ao Congresso apressar a votação das reformas constitucionais para superar a crise econômica. Mas mesmo que todas as reformas fossem aprovadas ainda este ano, seu impacto de curto prazo seria mínimo. Já a crise econômica é mais imediata e exigirá medidas impopulares.
Uma primeira conclusão é que essa crise não é passageira, como alguns chegaram a sugerir. Segundo, resta torcer para que o vendaval externo suavize, pois do contrário seu impacto por aqui será ainda maior.


Álvaro A. Zini Jr., 44, é professor titular da Faculdade de Economia e Administração da USP.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.