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CÂMBIO
Economistas elogiam e criticam proposta que permitirá a livre troca de moedas
Conversibilidade prevista pelo BC provoca polêmica
da Reportagem Local
A intenção do governo de facilitar a troca de reais por dólares a
partir do ano que vem foi aplaudida, aprovada com restrições e
execrada por economistas ouvidos pela Folha.
"É um disparate, é o contrário
do que o Brasil deveria fazer", disse Paulo Nogueira Batista Jr., professor da FGV (Fundação Getúlio
Vargas) em São Paulo. Para ele, já
houve abertura excessiva para a
saída de divisas a partir do governo Collor (1990-92), ampliando a
vulnerabilidade do país a fugas de
capitais e ataques especulativos.
Na avaliação de Batista Jr., a
conversibilidade traria dificuldades de administração do valor de
troca da moeda, que se tornou
mais volátil com a adoção do sistema de câmbio flutuante, em janeiro passado.
O ideal, para o professor da
FGV, seria a criação de um sistema moderno de controle de capitais. "O Brasil é como um time de
futebol de nível médio em um
campeonato da primeira divisão.
Se jogar desprotegido, vai levar
goleada. Tem de jogar na retranca, tanto em termos comerciais
quanto em movimento de capitais", afirma.
Com uma visão oposta, Paulo
Rabello de Castro, presidente da
RC Consultores, considera a medida salutar porque "avança na
direção de estabelecer força financeira para o real".
A conversibilidade seria, segundo o consultor, uma espécie de último trem para a maturidade do
real, antes que seja tragado pela
força dos mercados globais junto
com outras moedas fracas.
Embora não considere as condições plenamente propícias para
a adoção da conversibilidade, Rabello de Castro acredita que é preciso enfrentá-las. "Qualquer moeda que se preze compete", afirma.
A facilidade na troca de reais
por dólares seria, para o consultor, um passo importante para a
criação da moeda única do Mercosul. "O país vai precisar de seriedade nas contas públicas e no
trato da moeda. Não poderá fazer
bobagem unilateral, porque o vizinho não vai deixar."
Para Roberto Teixeira da Costa,
presidente do Ceal (Conselho de
Empresários da América Latina),
na prática a conversibilidade vem
acontecendo, viabilizada por mecanismos como a conta CC5, que
registra as remessas de não residentes no país.
Costa considera que a medida
oferece transparência nas operações, mas pode ampliar o potencial de saída, que hoje é inibido
pela burocracia. "As grandes fortunas já estão no exterior. O problema é criar facilidades para o
segmento de menor renda."
Além disso, considera que o
país tem grande dependência do
fluxo de capitais e não há tranquilidade absoluta sobre o funcionamento do câmbio flutuante. "Isso
só vai existir quando houver superávit na balança comercial", diz
Costa.
O projeto de conversibilidade
em gestação no Banco Central
não vai incluir autorização para
os brasileiros abrirem ou movimentarem contas bancárias em
dólares no país, disse ontem o diretor de política monetária do BC,
Luiz Fernando Figueiredo.
O objetivo da medida, segundo
Figueiredo, é facilitar a entrada e a
saída de dólares no país "exatamente como acontece na maioria
dos países de câmbio livre. É mais
uma medida para estimular a livre flutuação do dólar".
O diretor do BC afirmou que a
conversibilidade terá regras rígidas para evitar especulações com
o câmbio. "As regras serão claras,
porém simples", disse. A expectativa do BC é de que seja implementada ainda no primeiro semestre do ano 2000.
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