São Paulo, Terça-feira, 09 de Novembro de 1999
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LUÍS NASSIF

O caso Telesp

A novela em torno da unificação das ações da Telesp pode ser entendida a partir do seguinte roteiro.
* A Telesp Participações S/A é uma empresa de capital aberto, com ações negociadas na Bolsa de Nova York. Seu único ativo são ações da Telesp S/A (Telecomunicações de São Paulo S/A.
* Já a Telesp S/A é a operadora dos serviços de telefonia de São Paulo e controladora da CTBC (Companhia Telefônica da Borda do Campo), que opera na região do ABC. A Telesp tem parte de suas ações de propriedade da Telesp Participações (justamente o bloco de controle) e outra parte negociada nas Bolsas brasileiras, assim como a CTBC.
* A SPT Participações S/A é uma holding que foi montada pela Telefónica de España para participar da privatização das telecomunicações. A SPT adquiriu o controle da Telesp Participações e, por tabela, o da Telesp propriamente dita.
Após a mudança da política cambial, as ações da Telesp Participações -negociadas em Nova York- passaram a ter maior procura por parte dos investidores estrangeiros do que as ações de sua controlada, a Telesp. Isso gerou um ágio da Participações em relação à empresa operacional.
No caso das ações ordinárias (com direito a voto) o ágio não foi tão alto, porque a Telefónica aproveitou a oportunidade para comprar mais ações e aumentar sua participação no controle da companhia. O ágio foi elevado -chegou a 40%- no caso das ações preferenciais (sem direito a voto).
Com a volta da confiança e do dinheiro externo, a diferença de cotações começou a diminuir. Nesse momento, os controladores da Telesp Participações propuseram uma reorganização societária pela qual a Telesp incorpora a CTBC e é posteriormente incorporada pela Telesp Participações. A reorganização já era esperada. O que surpreendeu foram os critérios de avaliação das empresas envolvidas no negócio. Em vez de avaliar todas as companhias por um mesmo critério, os controladores estão propondo dois passos:
1) na incorporação da CTBC pela Telesp, ambas serão avaliadas por seu valor patrimonial;
2) na incorporação da Telesp pela Telesp Participações, ambas serão avaliadas de acordo com suas cotações em Bolsa pela média dos últimos 60 dias -período em que houve uma trajetória de alta, devido ao próprio anúncio da reestruturação. Com isso, os controladores se valeriam da diferença momentânea na cotação das ações para valorizar sua participação na holding, em relação aos acionistas minoritários e, especialmente, aos acionistas preferenciais.
Caso a reestruturação seja aprovada, a participação dos controladores no capital total da Telesp aumentará de 12,94% para 14,24%, sem precisar desembolsar um tostão. A diluição da participação dos minoritários será de aproximadamente R$ 800 milhões.
Além disso, os controladores esperam transferir para a Telesp o crédito tributário que detém devido ao ágio pago no leilão de privatização. O ganho será tão maior quanto maior for o lucro da companhia. Só que -reclamam os minoritários- nos últimos tempos os lucros da Telesp reduziram-se abaixo das expectativas do mercado, em virtude da terceirização de serviços para empresas de propriedade dos próprios acionistas controladores. Caso os acionistas controladores tragam o crédito tributário para a empresa, aumentarão sua participação para 20,6%, novamente em detrimento da participação dos minoritários.

Concordata Brasil
1) Nesta semana o Banco Central inicia reuniões com a Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos) para discutir especificamente a questão da renegociação dos passivos de clientes e redução dos "spreads" bancários.
2) O governo reeditou a medida provisória do Refis (Programa de Refinanciamento dos Passivos Fiscais). Se não houver mudança na questão do lucro presumido e nas garantias, o programa vai pegar não mais que meia dúzia de empresas.


E-mail: lnassif@uol.com.br



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