São Paulo, Terça-feira, 09 de Novembro de 1999
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Para mercado, taxas vão a 18,5%

MARCELO DIEGO
da Reportagem Local

Analistas do mercado financeiro acreditam que o governo irá reduzir os juros básicos em até 0,5 ponto percentual amanhã. Atualmente os juros diários projetam 19% ao ano.
A Selic (média das operações de um dia vinculadas a títulos públicos federais) é conhecida como taxa básica porque tem forte influência sobre os juros de toda a economia.
A projeção mais forte é que ela caia para 18,5% amanhã e feche o ano em 18%.
Analistas, porém, não descartam que o governo opte por reduzir em apenas 0,25 ponto percentual.
A manutenção da taxa ou uma subida dos juros é considerada improvável. Nas operações interbancárias (entre bancos), o juro negociado já está na casa de 18,7% ao ano.
A decisão sobre o futuro da taxa de juros acontecerá amanhã, em Brasília, na reunião mensal do Copom (Comitê de Política Monetária), formado por diretores do Banco Central.
Desde 22 de setembro, os juros não são alterados. Na última reunião, em 6 de outubro, o Copom decidiu não mexer na taxa, mas mudar a tendência dos juros, passando-a de neutra para a de baixa.
O BC poderia reduzir os juros em qualquer momento do mês. Como o mercado financeiro sofreu grande turbulência em outubro, a taxa não foi mexida.
Para o economista-chefe do Banco Santos, Rogério Mori, a situação é diferente agora. A recente flexibilização da meta do FMI (Fundo Monetário Internacional) para as reservas líquidas internacionais ampliou o poder de intervenção do BC no mercado. A medida conteve a cotação do dólar, que recuou do valor de R$ 2,00 para R$ 1,92 em média.
O dólar alto tende a provocar pressão inflacionária. O BC já sinalizou que usa a taxa de juros como mecanismo de controle para cumprir a meta inflacionária -que prevê taxa de 6% a 10% acumulada neste ano.
Segundo Mori, a previsão é que a inflação seja menor em novembro, o que permite uma redução dos juros. A queda seria "conservadora", entre 0,25 e 0,50 ponto percentual.
"No mercado, a Selic já está em 18,75%. Por isso, o corte deve ser um pouco mais", disse Joaquim Paulo Kokudai, diretor de renda fixa do Lloyds Bank.
Para ele, uma conjunção de fatores explicaria a possibilidade do corte. "Baseado no recuo da cotação do dólar, nos indicativos de que a inflação vai ficar contida, na tranquilidade do cenário externo e na melhora de cotação dos títulos do Brasil no exterior, não dá para acreditar que não haverá uma redução", afirmou.

Dívida pública
Para José Cândido de Melo, gerente de câmbio e renda fixa do Banco Tendência, uma queda nos juros seria favorável ao governo, por diminuir a remuneração paga nos títulos da dívida pública.
A maior parte da dívida do governo é pós-fixada. Queda nos juros significa menos dinheiro pago aos portadores dos papéis.
"A verdade é que a taxa de juros continua alta no país, havendo espaço para queda", afirmou Melo. Ele, entretanto, não acredita em reduções impactantes até o fim do ano. "O máximo que vão conseguir é a de 18%. A situação não está tão confortável para pensar em queda maior", disse.
Desde março, já houve 11 quedas nos juros, que chegaram a alcançar 45% ao ano.
"A medida correta seria uma taxa mais discreta agora, mantendo o "viés de baixa". As autoridades iriam sinalizar, tecnicamente, que estão atentas com um repasse de preços por causa do repique inflacionário", disse Carlos Aírton Biasetto, diretor administrativo do Hexabanco.
"Se o dólar se acomodar, se as pressões refluírem, o governo estaria apto a fazer uma redução mais significativa em dezembro, entrando no ano 2000 com sua nova política de administração e podendo negociar a mudança da dívida pública", afirmou Biasetto.
Para ele, a queda para 18,5% já poderia ser qualificada de "discreta".


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