|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
análise
Crescer 5% em 2007 fica cada vez mais difícil
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A derrapada da indústria
no terceiro trimestre, que sinaliza um desempenho ainda tímido da economia brasileira, reduziu projeções para
a taxa de crescimento neste
ano e torna ainda mais ambiciosa e difícil de cumprir a
meta de crescer 5% no ano
que vem.
A indústria cresceu apenas
0,4% no terceiro trimestre, o
que fez com que analistas do
setor privado revissem suas
projeções para o crescimento da economia neste ano,
ajustando-as para valores ao
redor de 3%, com grande
parte dizendo esperar taxa
até mais modesta, transformando os 3% na projeção
dos otimistas.
"Uma pessoa otimista poderia esperar algo como 3%
ou 3,2% [em 2006], mas se a
produção se comportar mais
ou menos como se comportou até agora, fica em 2,2%",
disse José Francisco de Lima
Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, que estima para este ano crescimento em torno de 2,8%.
A projeção dos analistas da
MB Associados é a mesma.
Sergio Vale, economista da
consultoria, diz que apenas
um desempenho muito atípico no último trimestre deste ano poderia fazer com que
a economia cresça a taxas
mais vitaminadas do que os
modestos 3%, algo que ele
diz considerar improvável.
Vale explica: no ano passado, o quarto trimestre já foi
atípico, com a indústria, excepcionalmente, pisando no
acelerador no mês de dezembro. O resultado, diz ele, foi a
necessidade de ajustar estoques no início deste ano, e
carregar estoques indesejados traz custos adicionais.
Para o economista, é improvável que o setor industrial
repita o erro neste ano.
"A indústria deve ter
aprendido a lição, essa situação não vai se repetir", argumenta ele, que lembra ainda
que as condições hoje são
ainda mais desfavoráveis para o setor, enfrentando a
concorrência forte de importados, estimulados pela alta
do real frente ao dólar.
Quanto pior o desempenho neste ano, argumentam
os analistas, mais difícil será
crescer os 5% esperados pelo
governo. Primeiro, uma boa
parte dos economistas diz
acreditar que o Brasil não investe o suficiente para crescer a essa velocidade sem gerar gargalos e, por conseqüência, pressões inflacionárias. Segundo, nem a estatística ajudará. Caso estivéssemos crescendo mais rápido
agora, o PIB do próximo ano
"carregaria" parte do crescimento por meio do efeito
que os estatísticos chamam
de "carry over": como o PIB
no final do ano é maior que o
do resto do ano, ainda que
não cresça nada nos primeiros trimestres, a economia
cresce em relação à media
dos 12 meses anteriores. Assim, o efeito no começo de
2007 será menor com crescimento baixo no final de
2006.
Neste ano, pelo menos, a
sensação de bem-estar que o
crescimento esperado de 3%
ou menos deve ser um pouco
maior do que o dado geral sugere. O consumo das famílias, esperam os analistas,
deve crescer em torno de 5%,
vitaminado por importados
baratos, ganhos de renda e de
poder de compra por conta
da inflação menor. Mas o cenário não deve se repetir
com tanta facilidade em
2007. "O lado da demanda,
do consumo tende a se estabilizar. A inflação não deve
fugir de controle, mas não vai
recuar mais. Não devem se
repetir [na mesma intensidade] os efeitos que tivemos
neste ano, com ganhos de
renda, expansão do crédito e
valorização da moeda", diz
Gonçalves, do Fator.
Apesar de todos estes estímulos em 2005, argumenta o
economista, já foi impossível
chegar a 5% neste ano. Em
2007, diz ele, a procura por
bens e serviços não deve ter
desempenho tão favorável.
"Crescer a qualquer custo é
possível, mas o preço será
pago em 2008. O governo sabe que é melhor ir devagar
agora e melhorar as coisas
para crescer mais depois",
diz o analista do Fator.
O câmbio atrapalhou a indústria, a impediu de crescer,
mas mesmo um real menos
forte não criaria todas as
condições para crescer à velocidade que deseja o governo, diz Vale, da MB. "A grande questão, além da questão
conjuntural do câmbio, é estrutural, gira em torno da
questão fiscal. Precisa ter
uma reforma completa da
Previdência, dos gastos públicos, com menos gastos
correntes e mais gastos de
investimentos", completa.
Texto Anterior: Queda da indústria não preocupa, diz Lula Próximo Texto: Ministério da Fazenda vai reduzir previsão de crescimento da economia para este ano Índice
|