São Paulo, sexta-feira, 09 de novembro de 2007

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País entra na elite do petróleo, diz governo

Segundo Dilma, descoberta pode levar Brasil a se tornar exportador e integrar o grupo dos dez maiores produtores

Extração comercial pode ocorrer em sete anos; governo retira de licitação 41 blocos de exploração perto da área descoberta

JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

A confirmação de uma descoberta de grande reserva de petróleo e gás na bacia de Santos eleva o Brasil para a elite mundial dos produtores, na avaliação do governo federal.
A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, afirmou que os testes já realizados indicam que o país poderá se tornar exportador de petróleo e dispor de volume de óleo similar ao dos dez maiores produtores mundiais. Hoje, o país é o 24º produtor de petróleo e gás.
Segundo a Petrobras, o campo de Tupi, na bacia de Santos, tem um volume estimado de 5 bilhões a 8 bilhões de barris de petróleo e gás natural. O volume pode representar até 60% das reservas atuais, de 14,4 bilhões de barris de óleo equivalente (petróleo e gás).
O anúncio fez com que as ações da Petrobras subissem 14% ontem, elevando seu valor de mercado em US$ 28 bilhões num único dia, chegando a um valor total de US$ 221,9 bilhões, passando gigantes americanas como o Google e o Bank of America, um dos maiores bancos do planeta.
A exploração experimental do campo pode ocorrer a partir de 2010 ou 2011 com 100 mil barris por dia, e a comercial, talvez, em 2014.
O anúncio ocorre após a crise no abastecimento de gás ter elevado temores de um apagão energético no país e num momento de forte aumento da demanda global por energia, que levou o barril de petróleo a atingir quase US$ 100.
Em razão da descoberta, o governo anunciou a exclusão da 9ª Rodada de Licitações de 41 blocos de exploração vizinhos ao local da grande reserva no leilão do final do mês.
A exclusão foi anunciada ontem, após reunião do CNPE (Conselho Nacional de Política Energética), na sede da Petrobras, no Rio, que contou com a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sete ministros de Estado.
Lula não participou do anúncio público da confirmação da descoberta. Coube à ministra Dilma Rousseff -apontada como possível candidata do PT à Presidência em 2010- capitalizar a boa notícia e dar o tom nacionalista da cerimônia, ofuscando o ministro interino Nelson Hubner (Minas e Energia).
Rousseff afirmou que a decisão do governo de excluir áreas próximas da reserva tinha como foco a preservação do interesse nacional e negou que a atitude tenha um viés estatizante. Segundo ela, não há motivo para comparar a decisão do governo com as ações de nacionalização de reservas de países vizinhos, como a Bolívia.
Com base na descoberta anunciada ontem e outros testes, existem indicações de que há muito mais petróleo e gás do que se estima atualmente.
"Esse campo é uma das indicações mais fortes de que, além dele, existem vários outros campos numa área de 800 quilômetros com 200 quilômetros de largura", afirmou Rousseff. A área vai do litoral do Estado do Espírito Santo até Santa Catarina.

Ganho tecnológico
A descoberta pode trazer também ganho tecnológico porque se encontra na chamada camada pré-sal, em profundidades maiores que as vigentes. Para explorá-la, serão necessários mais investimentos e tecnologia. Segundo a Petrobras, o petróleo abaixo da camada de sal é de boa qualidade, óleo leve de maior valor comercial. "O que nós descobrimos é que abaixo da camada de sal havia um volume significativo de petróleo aprisionado", afirmou o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli.
A Petrobras, isolada ou em parcerias, perfurou 15 poços e testou oito deles na área pré-sal, entre 5.000 e 7.000 metros de profundidade.


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