São Paulo, sexta-feira, 09 de novembro de 2007

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Brinquedo que vira "ecstasy" terá recall

Inmetro determina o recolhimento imediato em todo o país do Aqua Dots, da linha Bindeez, após recall no exterior

Bolinhas têm substâncias que podem causar efeitos entorpecentes em crianças ao entrarem em contato com água e serem ingeridas

Robson Ventura/Folha Imagem
O Aqua Dots é produzido na China e já foi proibido nos EUA


DA REPORTAGEM LOCAL

Nem bem chegou às lojas brasileiras e o brinquedo Aqua Dots, da linha Bindeez, terá de ser retirado do mercado, segundo determinação do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial).
A Pro Teste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor) já havia pedido a interdição. "A resposta tem de ser tão rápida quanto a dos americanos, canadenses e australianos", afirmou Ana Luisa Ariolli, supervisora da instituição de defesa do consumidor, que enviara notificação ao Inmetro e ao DPDC (Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor) e à importadora Long Jump para que os produtos sejam retirados das lojas.
Até o fechamento desta edição, a empresa não informou quantas unidades foram vendidas no Brasil. Nos EUA, a CPSC (Comissão de Proteção ao Consumidor de Produtos, na sigla em inglês) determinou ontem que 4,2 milhões de unidades do brinquedo saiam do mercado.
Fabricados na China, eles são compostos de um conjunto de bolinhas coloridas usadas para criar figuras tridimensionais. Ao serem molhadas, essas bolinhas grudam umas nas outras ganhando novas formas.
O problema é que, em contato com a água, uma substância presente nas bolinhas se transforma em outra semelhante ao GHB (ácido gama-hidroxibutírico), droga conhecida como "ecstasy líquido".
Duas crianças americanas teriam sido intoxicadas pela substância similar ao GHB após ingerir as bolinhas e foram hospitalizadas. Uma delas tem um ano e oito meses e sentiu tontura e vomitou diversas vezes após a ingestão.
Os sintomas incluem ainda dificuldades respiratórias, espasmos, podendo levar ao coma. O GHB é uma droga usada por bandidos no golpe conhecido como "boa noite, Cinderela". Depois de ingeri-la, geralmente misturada em bebida sem que se perceba, a vítima fica desacordada enquanto é roubada e até violentada.
Segundo a Long Jump, o produto é importado desde junho e custa R$ 20. O conjunto é vendido em diversas versões -algumas vêm acompanhadas de acessórios como um miniventilador, uma caneta para compor as figuras e placas sobre as quais dispor as bolinhas.
Embora casos de intoxicação pela ingestão das bolinhas no Brasil ainda não tenham sido registrados, a Pro Teste está usando o episódio para contestar o método de certificação do Inmetro. "O produto é para maiores de quatro anos", afirma Ariolli. "Todo mundo sabe que qualquer criança nessa idade coloca tudo na boca e ninguém achou isso estranho?"
Segundo ela, a Pro Teste quer que o Inmetro mostre como são feitos os testes para os brinquedos importados, especialmente os que vêm da China, principal exportador mundial de brinquedos, com 22 bilhões de unidades vendidas no ano passado, o que representa 60% da produção mundial.
A produção de brinquedos -e de outros produtos- na China neste ano foi alvo de diversos recalls. No dia 1º deste mês, o diário chinês "China Daily" informou que, de 1.726 fábricas inspecionadas no país, 1.454 apresentaram algum tipo de irregularidade.
As autoridades reguladoras do país destacaram 200 mil funcionários para inspecionar produtos como remédios, alimentos e brinquedos para evitar que esses episódios afetem suas exportações.
O governo determinou que 764 fabricantes de brinquedos não poderão mais exportar e 690 receberam ordem de renovar ou melhorar a qualidade de seus produtos.
Em um dos casos mais alarmantes, a gigante americana Mattel retirou 18 milhões de brinquedos em agosto desse ano, incluindo bonecas Barbie e do Batman, porque conteriam quantidades de tintas tóxicas acima do permitido e peças perigosas para crianças.
A Mattel se desculpou publicamente, explicando que os problemas se deviam mais a seu design do que a problemas com os fabricantes que seguiriam os padrões da Mattel.


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