São Paulo, domingo, 09 de novembro de 2008

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Bird quer gasto público contra crise

Proposta do presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, acirra debate em reunião do G20 em SP

No Brasil, presidente do Banco Mundial aponta que debate sobre aumento nos gastos opõe o Ministério da Fazenda e o Banco Central

SHEILA D'AMORIM
EM SÃO PAULO

Em vez de preocupação com pressões na inflação, o mundo - especialmente as economias emergentes- deve focar em políticas de aumento de gastos públicos, como forma de promover mais crescimento nos próximos anos, minimizando o impacto recessivo da crise.
A proposta, lançada na reunião dos ministros de Fazenda e presidentes de bancos centrais do G20, grupo que reúne as maiores economias do mundo, não foi consenso entre os presentes e acentuou divergências internas das próprias delegações, como a brasileira.
Segundo o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, o uso de uma política fiscal expansionista como instrumento de combate aos efeitos da crise dependerá de cada economia, já que nem todas têm espaço nas suas contas para elevar os gastos.
Questionado especificamente sobre a situação do Brasil, que no passado sofreu com problemas de inflação que foram controlados com adoção de um forte ajuste fiscal, ele insinuou que isso ainda não é consenso entre o Ministério da Fazenda e o BC. "Eu sei que isso parece ser ainda uma discussão entre os participantes brasileiros.
Então eu não vou entrar nisso."
Segundo Zoellick, os países desenvolvidos, entre eles o Japão, já estão implementando essa política expansionista e essa linha deverá ser seguida pelo presidente eleito dos EUA, Barack Obama. "Não vejo como Obama possa mudar isso."
O discurso do ministro Guido Mantega (Fazenda) na reunião de ontem também endossou essa tese. O ministro defendeu a redução de impostos para assegurar a manutenção do ritmo de investimentos nas economias emergentes. "Precisamos reduzir impostos porque cabe ao Estado fazer os investimentos necessários". Ele destacou ainda que mudou a "filosofia" no mundo. "Antes, o FMI dizia que deveríamos gastar menos e, com Dominique Strauss-Kahn [diretor-gerente do FMI], se fala em gastar mais", disse.
Segundo Mantega, "não é mais pecado fazer política fiscal expansionista". A China também manifestou opinião semelhante à do Brasil, afirmando que tem espaço para mais gastos.
O representante da África do Sul reclamou que a injeção de recursos necessária para salvar bancos e empresas reduziu o volume de recursos que seria destinado a investimentos nas economias emergentes.
Mas, na avaliação de Zoellick, nem todos poderão partir para essa política de mais gastos públicos. Ele defendeu que esses gastos sejam orientados para área social e de infra-estrutura.
"O país que decidir ir por esse caminho deve ser disciplinado porque uma das conquistas das últimas décadas foi a estabilidade fiscal", disse.
A ministra francesa da Economia, Christine Lagarde, afirmou que o primeiro dia de discussões foi marcado pela busca de um consenso. "Temos de ir fundo na análise e decidir como trabalhar coletivamente."
"O G20 é o organismo certo para lidar com esses problemas. Todos os países importantes estão representados", disse Dominique Strauss-Kahn, diretor-gerente do FMI.
Para a a ministra das Finanças da Indonésia, Sri Mulyani Indrawaty, os países emergentes têm um papel importante na discussão sobre inflação.
"Espero que todos entendam que temos de trabalhar juntos para solução da crise."

Colaborou MAURICIO MORAES



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