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ANÁLISE
Com colapso mais do que anunciado, contágio argentino deve ser limitado
JAMES THORNHILL
DA REUTERS, EM LONDRES
O contágio em outros mercados emergentes, caso a Argentina entre em colapso financeiro, seria provavelmente limitado, porque os investidores tiveram tempo de sobra para se posicionar para um cenário que agora
parece cada vez mais próximo.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou na quarta-feira que não completaria a mais recente revisão da situação argentina agora, retardando o desembolso de US$ 1,3 bilhão em empréstimos. A notícia coloca em questão
a capacidade argentina para manter em dia o serviço de sua dívida.
(Uma parcela vence no dia19.)
Mas outros mercados emergentes
têm se mantido firmes.
"A crise russa de 1998 apanhou
muita gente de surpresa, mas todos estão cientes da Argentina. Isso deve limitar o contágio", diz
Henry Stipp, da Zurich Scudder
Financial Investments.
Os analistas ressaltam que os
administradores de fundos de investimento tiveram meses para
fazer o ajuste de suas estratégias,
levando em conta o risco de uma
moratória ou ainda uma desvalorização do peso.
Enquanto isso, o perfil do investimento em mercados emergentes sofreu uma mudança considerável, com muitos dos investidores fugindo dos papéis desses países, devido aos problemas argentinos e à crise financeira turca.
"Neste ano houve pouca procura por essa classe de ativos. Investidores que não sejam especializados saíram. Esse tipo de investimento ficou nas mãos de fundos
de mercados emergentes apenas",
afirma Alex Garrard, estrategista
de mercados emergentes do UBS
Warburg.
Brasil
A maior parte dos analistas considera que o Brasil é o país com
mais chances de ser afetado pelo
contágio da Argentina, mas eles
estão impressionados com a capacidade que o mercado brasileiro demonstrou de se descolar do
vizinho nas últimas semanas.
"A percepção geral entre os investidores é a de que o mercado
brasileiro seja capaz de continuar
suportado a pressão da Argentina", afirma Garrard, do UBS.
Outros ressaltam o progresso
brasileiro no combate aos problemas fiscais, em contraste com a
confusão nas finanças públicas
argentinas.
"O Brasil fez o trabalho duro da
reforma fiscal nos últimos dez
anos, enquanto a Argentina mal
começou", diz Jerome Booth, diretor de pesquisa da Ashmore Investment Management.
No entanto, Garrard considera
que o Brasil continua em risco,
devido ao caótico final de jogo na
Argentina e aos resgates que ele
pode causar nos fundos exclusivos de investimento em mercados
emergentes.
O analista menciona uma desvalorização forçada do peso como
um cenário potencialmente caótico, mas acrescentou que a dolarização (adoção da moeda norte-americana como moeda nacional
na Argentina) ou a desvalorização
controlada sejam cenários mais
prováveis.
Stipp, da Zurich Scudder, ecoa a
opinião de Garrard: "Muito depende do rumo que a Argentina
vai tomar agora. Se eles desvalorizarem sua moeda, o Brasil será
afetado".
Cita também as eleições presidenciais brasileiras, em outubro
de 2002, como um fator que pode
fazer com que investidores se tornem ainda mais avessos a riscos.
Stipp aponta para o Chile como
outra vítima potencial de contágio na região. Uma desvalorização poderia pressionar o peso chileno, já que o país compete em
mercados semelhantes aos da Argentina.
Rússia
Se os fundos de investimentos
em mercados emergentes virem
um aumento nos saques depois
de uma medida extrema na Argentina, a Rússia talvez se mostre
vulnerável.
Garrard, do UBS, diz que os resgates provavelmente atingiriam
os países que mais pesam nas carteiras dos investidores. O forte desempenho dos títulos da dívida
russa neste ano sugere que ela se
enquadre na categoria. O fato de
que a Rússia acaba de sair de uma
crise também pode colocá-la em
risco.
"Quando as pessoas começarem a perguntar quem será o próximo, os países que tiveram problemas recentemente podem ser
atingidos", diz Stipp, da Zurich
Scudder.
Os emergentes da Europa como
um todo são vistos como bem isolados do contágio argentino. Esses países têm uma dependência
maior da União Européia (e não
dos EUA), o que os diferencia da
América Latina e da Ásia. Os investidores os vêem em uma trilha
de convergência econômica, a
longo prazo, em direção à União
Européia.
Os mercados asiáticos mal reagiram aos mais recentes problemas argentinos, e os analistas não
esperam que essa tendência se altere.
"Não houve qualquer efeito perceptível da crise Argentina. A fraqueza do iene é uma questão muito mais importante para os mercados asiáticos", afirma John
Stuermer, analista de mercados
emergentes do Bear Stearns.
Uma desvalorização do peso
pode causar especulação amena
contra o dólar de Hong Kong e
sua âncora cambial, disse Stuermer, ainda que ele tenha acrescentado que as autoridades haviam agido rapidamente para negar que Hong Kong estivesse pensando em abandonar seu câmbio.
Tradução de Paulo Migliacci
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