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ANO DO DRAGÃO
Com a volta da inflação, as categorias profissionais querem evitar a corrosão da renda do trabalhador
Centrais pedirão nova política salarial ao PT
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A expectativa de que a inflação
se manterá elevada fará com que
as principais categorias profissionais, com data-base no primeiro
semestre do ano que vem, pressionem o governo petista a criar
uma política salarial para evitar a
corrosão da renda do trabalhador. Isto é, poderão voltar as discussões sobre a reposição automática dos salários -o gatilho-
e a antecipação de campanhas salariais.
Esse é o cenário traçado para o
início de 2003 pelos negociadores
tanto do lado dos empregados
quanto do dos empregadores.
"O início do ano que vem será
complicado para as negociações.
Será parecido com 1999, quando o
país teve de administrar uma inflação por causa da desvalorização do real", diz Wilson Amorim,
coordenador técnico do Dieese
(Departamento Intersindical de
Estatística e Estudos Sócio-Econômicos).
O começo do ano pode ser ainda mais difícil para as negociações
salariais, diz, porque o ambiente é
de elevada taxa de inflação e de
desemprego.
"Não deve mais existir padrão
de negociação. Categorias mais
organizadas podem zerar a inflação e as menos organizadas, não.
Repor as perdas já será uma conquista", diz Amorim.
A dificuldade em repor a inflação nos salários já foi constatada
neste ano. De 27 categorias representativas, 14 não conseguiram
sequer repor a inflação de um
ano, segundo informa o Dieese.
Os vigilantes de São Paulo, por
exemplo, com data-base em
maio, conseguiram reajuste de
6,42%, enquanto o INPC -Índice Nacional de Preços ao Consumidor- (12 meses) foi de 9,55%.
Os trabalhadores na construção
civil de São Paulo, outra categoria
com data-base em maio, obtiveram 8,8%.
Outras sete categorias, com data-base em novembro, como a
dos padeiros, a dos químicos, a
dos metalúrgicos, a dos gráficos e
a dos trabalhadores no setor têxtil
-todos de São Paulo-, conseguiram zerar a inflação: o reajuste
nos salários foi de 10,26%.
Do grupo de 27 categorias, apenas seis conseguiram aumento
real de salário: os trabalhadores
na indústria de calçados de Franca, na indústria da construção e
do mobiliário de Bento Gonçalves, na construção civil do Rio de
Janeiro, na indústria metalúrgica
de Blumenau, além das costureiras de São Paulo e Osasco e dos
canavieiros de Pernambuco.
"Quando os empresários prevêem uma inflação ascendente,
eles resistem menos a repassá-la
para os salários. Se prevêem queda, as negociações ficam bem
mais difíceis", diz Sérgio Mendonça, diretor-técnico do Dieese.
Também pesa nas discussões
entre empregados e patrões o desempenho econômico-financeiro
das empresas. As exportadoras,
por exemplo, como a indústria de
calçados, são mais flexíveis.
Quem depende mais do mercado
interno tende a defender reajustes
menores de salários.
Vendas menores
"As negociações salariais não
serão nada fáceis. De um lado, o
trabalhador vê seu salário ser corroído pela inflação. De outro, as
empresas estão mais fragilizadas
por causa da queda nas vendas",
afirma Fábio Silveira, economista
da MB Associados.
"O início do ano que vem vai ser
triste. Os sindicalistas vão querer
reajustes, só que as indústrias não
vão poder dar o que eles querem",
afirma Pedro Evangelinos, diretor-titular do Departamento de
Integração Social da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo).
O setor industrial, segundo
Evangelinos, deve registrar neste
ano queda de 3% a 5% na comparação com o ano passado.
"A orientação que vamos dar é
que todas as categorias devem
buscar aumento real de salário e
não só a reposição da inflação",
afirma João Felício, presidente da
CUT.
"Vamos torcer para que a inflação não volte. Mas, se os preços
dispararem, vamos ter de antecipar as campanhas salariais. Não
vai dar para esperar até novembro
de 2003", diz Felício.
Aumento real
Para João Carlos Gonçalves, secretário-geral da Força Sindical,
os funcionários públicos têm
grande expectativa de aumento
real de salário com o novo governo petista.
"Outras categorias irão atrás.
Não vão querer perder com a inflação", diz Gonçalves.
"Vamos fazer de tudo para recompor os salários dos trabalhadores", diz Antonio Carlos dos
Reis, presidente da CGT (Central
Geral dos Trabalhadores). "As
reivindicações históricas não vão
mudar porque o novo presidente
do país é um ex-sindicalista."
As dificuldades para negociar
reajustes neste ano existem em
decorrência das perspectivas de
manutenção de elevadas taxas de
juros e de inflação e de baixo crescimento econômico. Apenas as
categorias que têm data-base no
segundo semestre poderão ter
mais sucesso nas negociações.
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