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Exploração hidrelétrica volta à Amazônia
Leilão para construir usina de Santo Antônio, no rio Madeira, retoma as obras na "grande fronteira energética" do país
Ambientalistas admitem utilização do potencial da região, mas temem impacto que empreendimentos de grande porte podem causar
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Até aqui o maior negócio do
PAC (Programa de Aceleração
do Crescimento) -uma obra de
custo estimado em R$ 9,5 bilhões-, a usina de Santo Antônio, em Rondônia, marca a retomada dos grandes projetos
de hidrelétricas na Amazônia,
na avaliação do governo. Projeções oficiais indicam a exploração de pelo menos 43 mil MW
na região na próxima década, o
que corresponde a três usinas
de Itaipu.
Os projetos em estudo pela
EPE (Empresa de Pesquisa
Energética) ou com pedido de
licenciamento ambiental correspondem a quase 14 vezes a
potência da hidrelétrica de
Santo Antônio, cuja construção
e operação serão disputadas
amanhã por três consórcios
privados, em parceria com estatais. Ganhará o negócio quem
oferecer a menor tarifa pela
energia a ser gerada a partir do
final de 2012.
"Esse leilão é um marco histórico por vários motivos, sobretudo pelo sinal de que o Brasil não fechou a porta ao grande
potencial hidrelétrico que falta
explorar na Amazônia", destacou Maurício Tolmasquim,
presidente da EPE.
O Plano Nacional de Recursos Hídricos estima em pouco
mais de 132 mil MW o potencial energético dos rios amazônicos, incluindo a bacia do Tocantins. Resta inexplorada a
maior parte desse potencial
-equivalente a sete usinas de
Três Gargantas, na China, a
maior hidrelétrica do mundo.
"Sem dúvida, a Amazônia é a
grande fronteira energética do
país", reconhece Raul do Valle,
do ISA (Instituto Socioambiental), uma das ONGs envolvidas
no debate. Ele avalia que a exploração dessa fronteira equivale a um "xeque-mate" nacional. "Não vai ser tão fácil implantar esses projetos", afirma
Ricardo Baitelo, do Greenpeace, antecipando as pressões de
organizações ambientalistas e
de grupos indígenas contrários
a grandes empreendimentos
na Amazônia.
A construção de hidrelétricas
de grande porte na região está
paralisada há quase 30 anos. A
retomada desse tipo de empreendimento foi sinalizada no
início do ano, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
lançou o PAC.
Vários projetos
A primeira usina a sair do papel foi Estreito, no rio Tocantins, quase na fronteira com o
Pará. Com 1.087 MW de potência instalada, a hidrelétrica deverá entrar em operação em
2010. Quase três vezes maior, a
usina de Santo Antônio -a primeira do complexo do rio Madeira- enfrentou um processo
mais complicado de licenciamento ambiental, entraves à
concorrência e vários atrasos
até a Aneel (Agência Nacional
de Energia Elétrica) divulgar o
edital do leilão de amanhã. Daí
ter-se tornado um símbolo.
Depois das duas usinas do
Madeira -Santo Antônio e Jirau-, o cronograma dos su
perempreendimentos amazônicos prevê a hidrelétrica de
Belo Monte, no rio Xingu. O
projeto, com potência estimada
em 11.181 MW, encontra-se ainda em fase preliminar de licenciamento no Ibama (Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis). O governo pretende levar
a usina a leilão até o final do
mandato de Lula.
Na seqüência dos grandes
projetos, viria a hidrelétrica de
Marabá, no rio Tocantins, também em estágio preliminar de
licenciamento, e a usina de São
Luiz, no rio Tapajós, ambas no
Pará. Com usinas de menor
porte que são objeto de estudo
de viabilidade ou de inventário,
o PAC apontou a possibilidade
de exploração de mais de 58,7
mil MW na região Norte.
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