São Paulo, domingo, 09 de dezembro de 2007

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Clientes de baixa renda já são maioria nas compras on-line

Pesquisa revela que varejo virtual tem um público potencial de 3,2 milhões nas classes C, D e E, contra 1,9 milhão nas mais altas

Adesão ao comércio eletrônico deriva da confiança e do tempo de navegação do internauta, segundo o Data Popular

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

O comércio eletrônico já tem mais consumidores nas classes C, D e E do que nas classes A e B em São Paulo. Pesquisa do Data Popular/McCann Erickson mostra que a expansão do crédito -particularmente do cartão de crédito- e a popularização do computador transformaram a internet em um varejo virtual com público potencial de 3,185 milhões de consumidores com renda familiar mensal de menos de R$ 2.836 em São Paulo. As classes A e B têm 1,885 milhão de pessoas aptas para comprar pela internet.
Na pesquisa, o Data Popular identificou 1,096 milhão de consumidores das classes C, D e E que já fizeram algum tipo de compra pela internet. Nas classes A e B, os que já compraram pela web somam hoje 1,066 milhão de pessoas. A pesquisa ouviu 900 pessoas em São Paulo.
Segundo Renato Meirelles, diretor do Data Popular, o tíquete de compras da baixa renda ainda é pequeno em relação ao das classes A e B. "As classes A e B têm limite alto no cartão. Se compra um laptop, já leva o tíquete médio para cima. O limite no cartão é menor na baixa renda. Vender para a baixa renda significa ganhar em volume. A partir do momento em que o varejo aceitar os cartões "private labor" [cartão de loja], que têm limite maior, o tíquete médio vai subir", disse.
Com 788.652 consumidores, a classe C já desponta como o maior público do comércio eletrônico em São Paulo. Os itens mais comprados são equipamentos de informática, eletrônicos, livros, CDs e DVDs.

Papel catalisador
A maioria da classe C (29,5%) é de "heavy users", com tempo de navegação superior a dez horas por semana. Muitos acessam a internet do trabalho e de lan houses, febre em bairros populares da cidade -só na favela de Heliópolis (zona sul de SP) há 32 lan houses, segundo a associação de moradores. Segundo a pesquisa, grande parte dos internautas de baixa renda aprendeu a usar o computador antes mesmo de ter um.
Para o Data Popular, o tempo de familiaridade com a internet determina a utilização da web para as compras. A pesquisa mostrou que quem tem internet em casa se sente mais confortável para comprar. No levantamento, 41% dos que acessam a internet de casa fizeram compras on-line, enquanto apenas 18,1% dos que freqüentam lan houses afirmam ter comprado pela web. "O acesso de lugares públicos é uma barreira para o comércio eletrônico. A experiência de comprar vem com o tempo de utilização da internet. Quanto mais usa, mais sente confiança na rede."
Para Ricardo Sodré, responsável pelo desenvolvimento de negócios da McCann Erickson, os chamados "filhos da classe C" seguem um padrão de consumo semelhante ao das classes A e B, desempenhando um papel de catalisador das compras on-line entre os parentes.
Sodré afirma que o comércio eletrônico deverá ganhar mais 2 milhões de consumidores de baixa renda em até dois anos, mesmo que o número de cartões de crédito e de computadores permaneça o mesmo, o que é improvável. "Crescerá só com o ganho de afinidade e de confiança da baixa renda com a internet. É um movimento que vai explodir daqui a pouco. O jovem da classe C tem um papel fundamental na inclusão digital. É um catalisador, que faz compras para toda a família. A família compra o computador e a banda larga para que o filho seja alguém na vida", disse.
A pesquisa mostrou ainda que 40% dos internautas que compram na rede visitam lojas físicas antes de decidirem pela compra na internet, e 30% dos jovens pesquisam na web antes de comprar o produto na loja.
A sensação de insegurança é o maior obstáculo para o crescimento. Nas classes C, D e E, mais de 50% dos consumidores dizem que comprar pela internet nunca é seguro, contra 35,9% da A e 40,3% da B.


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