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Bancos federais culpam BC por juro alto
Sob pressão de Lula para reduzirem taxas, eles dizem que não conseguem fazê-lo enquanto a Selic seguir em 13,75%
Diretor do BC teria ameaçado deixar cargo diante de pressão antes da última reunião do Copom para definir taxa de juros
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pressionados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para induzir o crescimento em
2009, estimulando o crédito e
reduzindo custo dos empréstimos, os presidentes dos bancos
federais - Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e
BNDES - transferiram a responsabilidade para o Banco
Central.
Segundo a Folha apurou
junto a membros do governo,
Antonio Francisco de Lima
Neto (BB), Maria Fernanda
Coelho (Caixa) e Luciano Coutinho (BNDES) têm defendido
que, sem a redução da taxa básica de juros (Selic), não há
muito o que possam fazer.
A tese dos bancos federais
aumentou a tensão nas reuniões da equipe econômica
com o presidente e reforçou a
posição do ministro Guido
Mantega (Fazenda), crítico do
conservadorismo do BC e defensor de uma flexibilização na
política de juros.
O clima esquentou nos últimos 15 dias, quando Lula cobrou uma maior contribuição
das instituições controladas
pela União neste momento em
que falta crédito e o que há disponível na praça está caro. Ontem, o presidente fez nova reunião no Planalto, e os bancos
mostraram que, apesar de continuarem concedendo empréstimos, o ritmo é menor e não
teriam mais o que fazer apesar
da pressão do presidente.
O financiamento do consumo interno e da produção é o
motor de sustentação do crescimento no ano que vem, já que
a expectativa é que as exportações tenham uma contribuição
menor, dado o cenário internacional ruim.
Pressão
A equipe do BC, comandada
por Henrique de Meirelles, não
gostou da pressão das últimas
semanas, que ganhou ainda o
reforço público do ministro
Carlos Lupi (Trabalho). Lupi
disse que esperava queda dos
juros na reunião do Copom
(Comitê de Política Monetária
do BC) que inicia hoje o último
encontro do ano e anuncia
amanhã sua decisão.
Lula também considera que
os juros podem cair e declarou
publicamente que a taxa está
acima do que indicava o bom
senso. A tensão fez com que o
diretor de Política Econômica
do BC, Mário Mesquita, ameaçasse deixar o cargo se o BC fosse obrigado a reduzir os juros,
hoje em 13,75%.
Ele é um dos que consideram
precipitada uma diminuição da
taxa neste momento e acha que
o BC deve esperar, pelo menos
até o início de 2009, para avaliar melhor o impacto da crise
na economia brasileira.
O BC nega que Mesquita tenha ameaçado se demitir. No
entanto, a posição dele foi confirmada por representantes do
governo que participam das
discussões e só fez irritar mais
seus colegas de governo. A avaliação é que o BC esta fazendo
disso uma disputa pessoal, o
que é ruim para o debate econômico.
Depois da reclamação de Lula, nos últimos dias, BB e Caixa
anunciaram redução dos juros
cobrados dos clientes, mas deixaram claro que não têm como
resolver sozinhos um problema
que há pelo menos dez anos se
discute no Brasil sem uma solução, o alto "spread" bancário
das operações de crédito, que
contribui para o Brasil ter uma
das maiores taxas do ano, o que
é ressaltado ainda mais agora
que BCs do mundo todo cortam
juros agressivamente.
O "spread" representa quanto os bancos cobram acima do
custo de captação para conceder os empréstimos. Essa diferença inclui desde a margem de
lucro dos bancos a impostos e
risco de inadimplência. Na crise, com risco maior, o "spread"
e o custo de captação dos bancos subiram.
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