São Paulo, terça-feira, 09 de dezembro de 2008

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Bancos federais culpam BC por juro alto

Sob pressão de Lula para reduzirem taxas, eles dizem que não conseguem fazê-lo enquanto a Selic seguir em 13,75%

Diretor do BC teria ameaçado deixar cargo diante de pressão antes da última reunião do Copom para definir taxa de juros

SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pressionados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para induzir o crescimento em 2009, estimulando o crédito e reduzindo custo dos empréstimos, os presidentes dos bancos federais - Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e BNDES - transferiram a responsabilidade para o Banco Central.
Segundo a Folha apurou junto a membros do governo, Antonio Francisco de Lima Neto (BB), Maria Fernanda Coelho (Caixa) e Luciano Coutinho (BNDES) têm defendido que, sem a redução da taxa básica de juros (Selic), não há muito o que possam fazer.
A tese dos bancos federais aumentou a tensão nas reuniões da equipe econômica com o presidente e reforçou a posição do ministro Guido Mantega (Fazenda), crítico do conservadorismo do BC e defensor de uma flexibilização na política de juros.
O clima esquentou nos últimos 15 dias, quando Lula cobrou uma maior contribuição das instituições controladas pela União neste momento em que falta crédito e o que há disponível na praça está caro. Ontem, o presidente fez nova reunião no Planalto, e os bancos mostraram que, apesar de continuarem concedendo empréstimos, o ritmo é menor e não teriam mais o que fazer apesar da pressão do presidente.
O financiamento do consumo interno e da produção é o motor de sustentação do crescimento no ano que vem, já que a expectativa é que as exportações tenham uma contribuição menor, dado o cenário internacional ruim.

Pressão
A equipe do BC, comandada por Henrique de Meirelles, não gostou da pressão das últimas semanas, que ganhou ainda o reforço público do ministro Carlos Lupi (Trabalho). Lupi disse que esperava queda dos juros na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC) que inicia hoje o último encontro do ano e anuncia amanhã sua decisão.
Lula também considera que os juros podem cair e declarou publicamente que a taxa está acima do que indicava o bom senso. A tensão fez com que o diretor de Política Econômica do BC, Mário Mesquita, ameaçasse deixar o cargo se o BC fosse obrigado a reduzir os juros, hoje em 13,75%.
Ele é um dos que consideram precipitada uma diminuição da taxa neste momento e acha que o BC deve esperar, pelo menos até o início de 2009, para avaliar melhor o impacto da crise na economia brasileira.
O BC nega que Mesquita tenha ameaçado se demitir. No entanto, a posição dele foi confirmada por representantes do governo que participam das discussões e só fez irritar mais seus colegas de governo. A avaliação é que o BC esta fazendo disso uma disputa pessoal, o que é ruim para o debate econômico.
Depois da reclamação de Lula, nos últimos dias, BB e Caixa anunciaram redução dos juros cobrados dos clientes, mas deixaram claro que não têm como resolver sozinhos um problema que há pelo menos dez anos se discute no Brasil sem uma solução, o alto "spread" bancário das operações de crédito, que contribui para o Brasil ter uma das maiores taxas do ano, o que é ressaltado ainda mais agora que BCs do mundo todo cortam juros agressivamente.
O "spread" representa quanto os bancos cobram acima do custo de captação para conceder os empréstimos. Essa diferença inclui desde a margem de lucro dos bancos a impostos e risco de inadimplência. Na crise, com risco maior, o "spread" e o custo de captação dos bancos subiram.


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