São Paulo, sexta-feira, 10 de janeiro de 2003

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INFRA-ESTRUTURA

Projetos serão aceitos se forem de algum setor considerado prioritário para o desenvolvimento do país

Novo BNDES vai correr mais riscos em empréstimos

PEDRO SOARES
ANTÔNIO GOIS

DA SUCURSAL DO RIO

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) aceitará, em sua nova administração, assumir mais riscos na concessão de empréstimos, desde que o projeto analisado seja de setor considerado prioritário para o desenvolvimento do país.
"Para alcançar os grandes objetivos nacionais, é razoável que [o banco" aceite se expor mais ao risco [de crédito"", afirmou o futuro diretor do banco Roberto Timótheo da Costa.
Ele ressaltou, porém, que o BNDES, como toda instituição financeira, terá a preocupação de emprestar dinheiro com o menor risco possível. "Pode-se conjugar as duas coisas: analisar risco e avaliar os grandes objetivos nacionais", afirmou.
Cauteloso e dizendo que suas opiniões não representam, necessariamente, o novo modelo gerencial do banco, Timótheo da Costa rejeitou a hipótese de que o BNDES possa virar um "hospital de empresas", como foi apelidado no passado, por socorrer companhias em dificuldade financeira.
"O BNDES não vai ser uma agência de doação de recursos. Nunca foi", disse.
Timótheo da Costa foi superintendente de administração do BNDES no anos 80. Ele diz contar com a simpatia dos funcionários da instituição. É membro eleito por eles para o conselho do fundo de pensão do BNDES. É um dos seis nomes já escolhidos pelo futuro presidente do banco, o economista Carlos Lessa, para integrar a diretoria da instituição no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Mudanças estruturais
Timótheo da Costa declarou que existem estudos da nova diretoria sobre o organograma do banco, mas não quis dizer se haverá mudanças na estrutura administrativa.
"Fica difícil fazer uma avaliação prévia [antes de assumir". Agora, uma coisa que se constata é que o BNDES tem um número grande de executivos. Se isso é bom ou ruim, eu ainda não sei dizer. É uma impressão. Quando se fala que tem muitos, estou comparando com o padrão antigo [da década de 80"", afirmou.
Segundo a Folha apurou, há o receio, principalmente entre técnicos mais ligados às últimas gestões, que a nova diretoria assuma já com um novo plano estratégico "pronto" para o BNDES. Esse plano reduziria de 23 para sete o número de superintendências, concentrando mais as decisões.
Segundo um ex-presidente do BNDES, que não participou das duas últimas administrações e pediu para não ser identificado, o plano atual foi resultado de um ano e dois meses de trabalho de 400 pessoas, que participaram do projeto respondendo a questionários e em seminários internos.
Procurados pela Folha, os membros da nova diretoria e o futuro presidente, Carlos Lessa, não quiseram dar declarações sobre o plano estratégico antes da posse, marcada para terça-feira da próxima semana.
Iniciadas na gestão do ex-presidente Francisco Gros, as modificações visam tornar o BNDES mais ágil na concessão de crédito e reduzir o risco de perdas do banco. Também previam fomentar o mercado de capitais.
O objetivo era que cada vez mais investidores privados aplicassem recursos nas empresas, reduzindo a contrapartida do banco estatal nos projetos do setor privado.
Na gestão de Gros e do atual presidente, Eleazar de Carvalho Filho, o BNDES assumiu, segundo a análise do próprio Lessa, um caráter mais corporativo -com uma cara mais de instituição financeira e menos de banco de desenvolvimento.
"Com essas reformas [iniciadas em 2001", o banco perdeu a periferia, perdeu a cultura de um banco de desenvolvimento", disse Lessa em 3 de janeiro, na cerimônia de posse do ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, antes de ser oficializado na presidência da instituição, na segunda.
Gros criou no BNDES uma gestão em que cada projeto da iniciativa privada era analisado separadamente, tendo em conta os riscos e a importância estratégica de cada pedido de financiamento.
"Foi uma inovação na cultura do banco", disse Timótheo da Costa, afirmando não querer fazer nenhum julgamento de valor.
O futuro diretor afirmou que não haverá rejeição de seu nome nem da nova diretoria pela equipe de técnicos do banco.
"Tenho grandes amigos no banco. Desfruto da confiança dos meus colegas. Sou respeitado e os respeito profundamente", disse.


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