|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
Habemus ministro da Justiça
Atenção com o novo ministro da Justiça, Márcio
Thomaz Bastos. Até agora, dentre todos os ministros de Lula,
foi o que demonstrou maior clareza sobre a missão de sua pasta
e sobre a maneira de atingir os
objetivos.
O Brasil tem um vício secular
de reduzir todos os problemas a
soluções legais. Problemas macroeconômicos? Apresente-se
um pacote. Problemas de criminalidade? Crie-se uma nova lei.
Esse academicismo ululante
sempre foi mais acentuado no
campo jurídico. Tanto que, nas
últimas décadas, toda discussão
sobre a morosidade da Justiça
girava em torno de uma genérica reforma do Judiciário, com
criação de controle externo e
quetais.
Nesta semana dei a palestra
de abertura do Ano Jurídico na
5ª Região da Justiça Federal, em
Fortaleza. O desafio que coloquei foi simples. Não existe nem
controle externo nem controle
interno do Judiciário por uma
razão óbvia: nem o Judiciário se
conhece.
É fenômeno semelhante ao
que afetou as empresas nos anos
90. O empresário julgava conhecer sua empresa. Quando era indagado sobre o custo de produção de cada produto, o tempo
médio de fabricação e de atendimento, o grau de satisfação do
seu cliente, o empresário de nada sabia. Simplesmente porque
não tinha conhecimento de ferramentas básicas de gestão e de
indicadores.
O mesmo sucede com o Judiciário. Há juizes denodados, que
trabalham noite e dia; e aqueles
que encostam o corpo. Quem é
um, quem é outro? Não se sabe
porque não existem estatísticas.
O preguiçoso não se sente cobrado nem o trabalhador estimulado.
Do mesmo modo, não existe
padronização nem racionalização de procedimentos. O ministro Márcio menciona processo
criminal que durou dez anos.
Desse total, sete anos decorreram de erros primários, desde
preenchimentos incorretos de
formulários até reconstituição
de crimes sem a presença dos
advogados de defesa.
Por outro lado, em várias instâncias do Poder Judiciário têm
aparecido experiências espontâneas de melhoria. Em dezembro
houve encontro de grupos de
qualidade do Judiciário em Recife, com experiências interessantíssimas. Em uma delas, a
correição passou a ser feita com
notebooks e bancos de dados estruturados. Em dois dias, no
máximo, se consegue levantar
todos os processos nas varas de
maior movimento, soltando relatórios e gráficos automaticamente.
As experiências já existem.
Falta serem levantadas, selecionadas, padronizadas e, depois,
multiplicadas. É aí que entra o
papel do ministro. O Poder Judiciário é independente e diversificado. Há a Justiça federal, os
tribunais estaduais, o Ministério Público e os clientes advogados e cidadãos. A idéia do ministro é juntar todas as pontas e
definir os padrões. Depois, partir para um banco de dados centralizado e à digitalização de todos os processos, acabando com
os papéis.
Aí se chegará a um novo patamar da Justiça. Com a digitalização, serão extraordinários os
saltos de qualidade e de eficácia.
No campo formal, formulários
previamente padronizados impedirão erros de preenchimento.
Haverá acompanhamento on-line da produtividade dos juízes
e do teor das sentenças. A correição passará a ser feita estatisticamente. Em pouco tempo será
possível identificar e atuar firmemente contra indústrias de
liminares ou de substituição de
garantias.
Já existe a massa crítica adequada de experiências bem-sucedidas no Judiciário. Já existem os soldados e comandantes
da qualidade total. É hora de
avançar na batalha final da
modernização gerencial da Justiça.
E-mail - lnassif@uol.com.br
Texto Anterior: Meirelles tem 1ª reunião no exterior Próximo Texto: Transição: Cotados a assumir BB enfrentam restrições Índice
|