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OPINIÃO ECONÔMICA
Corre-corre
BENJAMIN STEINBRUCH
A principal notícia da semana passada foi que o governo federal decidiu tocar obras
de infra-estrutura e gastar uma
parte de seu enorme superávit,
que no ano passado excedeu em
quase R$ 20 bilhões ao valor inicialmente estimado.
Já nesta semana, se as promessas forem cumpridas, começam a
ser liberados R$ 440 milhões para
a operação tapa-buracos em 26
mil quilômetros de rodovias em
situação crítica. Na segunda
quinzena de janeiro, o presidente
Lula vai conversar com 14 governadores para acertar a segunda
etapa do plano de recuperação
definitiva de rodovias federais,
com a utilização de recursos de
R$ 1,8 bilhão, sendo 70% desse
valor oriundo dos cofres federais,
e 30%, dos estaduais. Em maio,
serão licitadas quatro usinas hidrelétricas, em projetos para
acrescentar 752 MW ao sistema
elétrico nacional. Ao mesmo tempo, entrarão em licitação duas
grandes hidrelétricas do complexo do rio Madeira, em Rondônia,
que no longo prazo podem gerar
6.600 MW, metade de uma Itaipu. No setor ferroviário, o plano é
construir 150 km da ferrovia Norte-Sul, entre Aguiarnópolis e Araguaína, em Tocantins, com investimentos de R$ 350 milhões. Outros R$ 500 milhões estão previstos para a ferrovia Transnordestina, ligando o município de Eliseu
Martins, no Piauí, aos portos de
Suape, em Pernambuco, e Pecem,
no Ceará.
O pacote já vem muito tarde e é
modesto diante das necessidades.
Infelizmente, o governo passou
três anos debruçado sobre as
pranchetas do arrocho monetário
e fiscal e falhou no planejamento
para corrigir as enormes deficiências da infra-estrutura.
De qualquer forma, pessoas
sensatas precisam admitir que a
emergência se justifica na operação tapa-buracos por uma razão
elementar: a buraqueira provoca
acidentes e mata pessoas nas estradas. Além disso, aumenta absurdamente o custo dos transportes. Caminhões obrigados a trafegar a 5 km por hora são presas fáceis para assaltos nas rodovias.
Na BR-251, na divisa entre Minas
e Goiás, há tanto buraco que os
caminhões e carros só conseguem
passar trafegando pela contramão.
Em situações como essa, obviamente, não há como aguardar pela tramitação morosa das concorrências públicas. Mas a sociedade
pode e deve exigir duas coisas. A
primeira, transparência de critérios na contratação das empreiteiras. A segunda, vigilância implacável de órgãos como Ministério Público, tribunais de Contas,
Justiça e Legislativo para que as
obras, mesmo sem licitação, sejam conduzidas dentro da lei.
Além das rodovias, não há dúvida de que os setores energético e
de transporte ferroviário necessitam de investimentos. O pacote
anunciado não é nenhuma revolução em matéria de obras. A própria emergência é filha da falta de
planejamento. De qualquer forma, representa um avanço, porque não se falava tão objetivamente em recuperar e ampliar a
infra-estrutura havia muitos
anos.
A privatização não é solução
universal para rodovias. Em regiões distantes dos principais centros, o valor do pedágio a ser cobrado para garantir a manutenção da rodovia e a remuneração
de empreiteiras tornaria inviável
a operação. Mas cerca de 6% da
malha rodoviária pavimentada
está hoje entregue a empresas privadas e essa experiência tem tido
sucesso. Pode, então, ser imediatamente ampliada no Sudeste,
Sul, Centro-Oeste e até em algumas regiões do Nordeste.
Fora desses centros mais ricos, a
responsabilidade é pública. Falta
de recursos não é desculpa. Eles
existem desde que foi criada a Cide (Contribuição de Intervenção
no Domínio Econômico), em
2001, com o propósito específico
de recolher fundos para a recuperação das estradas. De janeiro de
2002 a setembro de 2005, a Cide
arrecadou R$ 28,1 bilhões. Apenas R$ 6,7 bilhões desse valor foi
para as estradas. A maior parte
engordou o superávit público. Assim não dá.
Benjamin Steinbruch, 52, empresário,
é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho
de administração da empresa e primeiro
vice-presidente da Fiesp (Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo).
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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