São Paulo, quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

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Governo descarta risco de racionamento

Ministro afirma que nível de reservatórios de hidrelétricas não é alarmante e nega ameaça de apagão em 2008 e 2009

Diretor-geral da Aneel havia afirmado que racionamento "não é impossível" neste ano; Lula se reúne com cúpula do setor energético

HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Ministério de Minas e Energia não considera alarmante a situação nos reservatórios das hidrelétricas e descarta racionamento em 2008 e 2009. "A situação é bastante confortável no Sudeste, não tem sinal de alerta. Não estamos em situação de emergência", disse o ministro interino de Minas e Energia, Nelson Hubner.
A posição do ministério contraria o alerta dado na terça-feira pelo diretor-geral da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), Jerson Kelman. Ele havia dito que o governo deveria fazer uma campanha de redução de consumo e elaborar um plano para um eventual racionamento. Ainda de acordo com Kelman, um racionamento em 2008 é possível, embora improvável.
A posição do diretor-geral da Aneel gerou mal-estar na cúpula do setor elétrico. "Ele colocou uma posição individual", disse o ministro. Para Hubner, não cabe à Aneel tratar da possibilidade de falta de energia, e sim ao ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico).
"Eu questionei a direção da Aneel, para saber se ela tinha uma posição divergente de quem, de direito, efetua esses cálculos, que é o ONS", afirmou. "Já chamei o doutor Kelman, discutimos e acho que nós temos espaço para discussão de todas as divergências que nós temos", afirmou. Procurado, Kelman não comentou as declarações do ministro.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, alertado pela fala de Kelman, convocou uma reunião com a cúpula da área ontem à noite no Planalto.
De acordo com relatos feitos à Folha, na reunião, Hubner, o diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, e o presidente da Empresa de Pesquisa Energética, Maurício Tolmasquim, disseram a Lula que as previsões de Kelman partiam de premissas técnicas equivocadas e ignoravam questões e problemas já resolvidos. O ministro também afirmou a Lula, segundo esses relatos, que não há risco de apagão nem de racionamento.
O grau de preocupação do presidente Lula com o setor energético pode ser medido pelo fato de a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), em férias, ter sido chamada à reunião, assim como Tolmasquim.
Dilma já estava em Brasília, mas só retomaria o trabalho hoje. Ela foi ministra das Minas e Energia e é considerada a "responsável" pela área hoje.
Apesar do discurso de tranqüilidade, os principais dirigentes do setor elétrico têm tido reuniões freqüentes com Lula. Outra reunião havia ocorrido na sexta passada. Hubner está para ser substituído pelo senador Edison Lobão (PMDB-MA) como ministro.
Além disso, o CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico), composto pelas principais autoridades do governo na área de energia, reúne-se hoje para avaliar a situação de segurança no abastecimento.
Durante a entrevista, questionado sobre os riscos de falta de energia, Hubner disse que, se não chover, faltará não apenas energia. "Se não chover de jeito nenhum, falta energia, falta água, falta tudo." Na terça, os reservatórios de água das hidrelétricas das regiões Sudeste e Centro-Oeste estavam com 44,65% de sua capacidade. No ano passado, na mesma data, esse percentual era de 61,2%.
Ainda segundo o ministro, caso a situação piore, o governo está preparado e irá adotar medidas. Ele não detalhou quais medidas, mas disse que já há um plano de contingência para aumentar o fornecimento de gás para termelétricas, se for necessário. Para isso, a Petrobras consumiria menos gás nas suas refinarias e trocaria o combustível pelo óleo diesel.
Hubner disse ainda que o governo poderia gerar mais energia de termelétricas. Desde o final da semana passada, no entanto, a maior parte das termelétricas disponíveis já está gerando o máximo possível de energia. O ministro interino não detalhou quantas termelétricas adicionais poderiam ser ligadas e qual a quantidade de energia que poderia ser gerada.
Nem todas as termelétricas do país podem gerar energia porque falta gás para atender a todos os consumidores (usinas, indústrias, residências e carros) ao mesmo tempo. As termelétricas a gás, em tese, poderiam gerar 8.000 MW, mas a Petrobras, fornecedora do gás, só garante a geração de 3.900 MW. Até o final de 2011, a estatal se comprometeu a elevar essa quantidade para 6.737 MW.
A decisão faz parte de termo de compromisso entre Petrobras e Aneel, que já foi descumprido em julho, o que gerou multa de R$ 84,7 milhões, aplicada pela agência reguladora.


Colaborou LETÍCIA SANDER, da Sucursal de Brasília


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