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Governo descarta risco de racionamento
Ministro afirma que nível de reservatórios de hidrelétricas não é alarmante e nega ameaça de apagão em 2008 e 2009
Diretor-geral da Aneel havia afirmado que racionamento
"não é impossível" neste ano; Lula se reúne com
cúpula do setor energético
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Ministério de Minas e
Energia não considera alarmante a situação nos reservatórios das hidrelétricas e descarta racionamento em 2008 e
2009. "A situação é bastante
confortável no Sudeste, não
tem sinal de alerta. Não estamos em situação de emergência", disse o ministro interino
de Minas e Energia, Nelson
Hubner.
A posição do ministério contraria o alerta dado na terça-feira pelo diretor-geral da
Aneel (Agência Nacional de
Energia Elétrica), Jerson Kelman. Ele havia dito que o governo deveria fazer uma campanha de redução de consumo
e elaborar um plano para um
eventual racionamento. Ainda
de acordo com Kelman, um racionamento em 2008 é possível, embora improvável.
A posição do diretor-geral da
Aneel gerou mal-estar na cúpula do setor elétrico. "Ele colocou uma posição individual",
disse o ministro. Para Hubner,
não cabe à Aneel tratar da possibilidade de falta de energia, e
sim ao ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico).
"Eu questionei a direção da
Aneel, para saber se ela tinha
uma posição divergente de
quem, de direito, efetua esses
cálculos, que é o ONS", afirmou. "Já chamei o doutor Kelman, discutimos e acho que nós
temos espaço para discussão de
todas as divergências que nós
temos", afirmou. Procurado,
Kelman não comentou as declarações do ministro.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, alertado pela fala de
Kelman, convocou uma reunião com a cúpula da área ontem à noite no Planalto.
De acordo com relatos feitos
à Folha, na reunião, Hubner, o
diretor-geral do ONS, Hermes
Chipp, e o presidente da Empresa de Pesquisa Energética,
Maurício Tolmasquim, disseram a Lula que as previsões de
Kelman partiam de premissas
técnicas equivocadas e ignoravam questões e problemas já
resolvidos. O ministro também
afirmou a Lula, segundo esses
relatos, que não há risco de
apagão nem de racionamento.
O grau de preocupação do
presidente Lula com o setor
energético pode ser medido pelo fato de a ministra Dilma
Rousseff (Casa Civil), em férias, ter sido chamada à reunião, assim como Tolmasquim.
Dilma já estava em Brasília,
mas só retomaria o trabalho
hoje. Ela foi ministra das Minas e Energia e é considerada a
"responsável" pela área hoje.
Apesar do discurso de tranqüilidade, os principais dirigentes do setor elétrico têm tido reuniões freqüentes com
Lula. Outra reunião havia ocorrido na sexta passada. Hubner
está para ser substituído pelo
senador Edison Lobão
(PMDB-MA) como ministro.
Além disso, o CMSE (Comitê
de Monitoramento do Setor
Elétrico), composto pelas principais autoridades do governo
na área de energia, reúne-se
hoje para avaliar a situação de
segurança no abastecimento.
Durante a entrevista, questionado sobre os riscos de falta
de energia, Hubner disse que,
se não chover, faltará não apenas energia. "Se não chover de
jeito nenhum, falta energia, falta água, falta tudo." Na terça, os
reservatórios de água das hidrelétricas das regiões Sudeste
e Centro-Oeste estavam com
44,65% de sua capacidade. No
ano passado, na mesma data,
esse percentual era de 61,2%.
Ainda segundo o ministro,
caso a situação piore, o governo
está preparado e irá adotar medidas. Ele não detalhou quais
medidas, mas disse que já há
um plano de contingência para
aumentar o fornecimento de
gás para termelétricas, se for
necessário. Para isso, a Petrobras consumiria menos gás nas
suas refinarias e trocaria o
combustível pelo óleo diesel.
Hubner disse ainda que o governo poderia gerar mais energia de termelétricas. Desde o final da semana passada, no entanto, a maior parte das termelétricas disponíveis já está gerando o máximo possível de
energia. O ministro interino
não detalhou quantas termelétricas adicionais poderiam ser
ligadas e qual a quantidade de
energia que poderia ser gerada.
Nem todas as termelétricas
do país podem gerar energia
porque falta gás para atender a
todos os consumidores (usinas,
indústrias, residências e carros) ao mesmo tempo. As termelétricas a gás, em tese, poderiam gerar 8.000 MW, mas a
Petrobras, fornecedora do gás,
só garante a geração de 3.900
MW. Até o final de 2011, a estatal se comprometeu a elevar essa quantidade para 6.737 MW.
A decisão faz parte de termo
de compromisso entre Petrobras e Aneel, que já foi descumprido em julho, o que gerou
multa de R$ 84,7 milhões, aplicada pela agência reguladora.
Colaborou LETÍCIA SANDER,
da Sucursal de Brasília
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