São Paulo, sábado, 10 de janeiro de 2009

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Bradesco deve reagir com expansão orgânica agressiva

Sem opções de aquisição, banco usará marketing e preços para ganhar mercado

Apesar de pequenos no país, estrangeiros como Citibank e HSBC consideram o Brasil um país estratégico e relutam em vender operação

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Com oportunidades restritas de aquisições, só sobrou ao Bradesco a opção de focar sua expansão a partir do crescimento orgânico e de políticas agressivas de marketing e de preços, segundo analistas. O Bradesco perdeu no ano passado a liderança em tamanho entre os bancos privados e conserva agora a terceira posição em ativos, atrás de Itaú/Unibanco e Banco Brasil e pouco à frente de Santander/Real.
Diante dos últimos negócios envolvendo bancos, o Bradesco teria sondado a possibilidade de comprar as operações no país do Citibank e do HSBC -e até metade do Banco Votorantim. Os bancos não comentam.
Para João Augusto Salles, analista da consultoria Lopes Filho, não há mais possibilidades efetivas de compra para o Bradesco porque os bancos estrangeiros não querem deixar o país. "O Bradesco perdeu o primeiro lugar no ranking, mas continua remando a braçadas. Não vai comprar ninguém, até porque não tem ninguém à venda. O Citibank é uma caixa de surpresas, tudo emana da matriz, mas acho difícil porque a operação no Brasil é altamente rentável. Se vender, daqui dez anos vai ter de voltar."
Para Domingos Pandeló, professor do Ibmec-SP, os bancos correm o risco de "quebrar a cara" se entrarem em corrida por aquisições sem sentido. "Essa associação do Itaú com Unibanco mexeu com o tabuleiro do setor, em termos reais e principalmente psicológico. Não sobraram outros grandes bancos para ser adquiridos. Os bancos têm uma preocupação muito grande de serem o primeiro, mas não vejo relevância nisso. Uma política de aquisição maluca pode, ao invés de agregar, destruir valor."
Para Luis Miguel Santacreu, analista da Austin Ratings, o momento seria ideal para o Bradesco deslanchar uma política agressiva de preços com os principais concorrentes digerindo fusões e aquisições.
"Foi um choque o momento em que o Bradesco sentiu que perdeu a liderança, mas tem muito pouca opção [de aquisição]. Comprar para ficar no primeiro lugar não agrega. Crescer organicamente é a jogada do Bradesco. Ele está enxuto, capitalizado, não tem de se preocupar em digerir bancos adquiridos e pode ganhar participação de mercado. Itaú, Unibanco e Santander vão gastar uns anos em reestruturação", disse.
Entre as iniciativas para ganhar mercado, comenta-se que o Bradesco deverá se tornar o principal patrocinador do Corinthians, que tem 25 milhões de torcedores. A cota de patrocínio, que era da Medial Saúde, deverá custar até R$ 20 milhões. O Bradesco e o Corinthians negam o acordo.
O presidente do Bradesco, Marcio Cypriano, tem aposentadoria prevista para acontecer em março deste ano, de acordo com o estatuto do banco, que determina o afastamento de diretores a partir de 65 anos. Mas diante das mudanças no mercado bancário, a expectativa é que o estatuto seja revisto e que Cypriano continue no comando por mais algum tempo.


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