São Paulo, sábado, 10 de janeiro de 2009

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Governo volta atrás e eleva compra de gás da Bolívia

Decisão foi política, diz assessor internacional de Lula

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
LORENNA RODRIGUES
DA FOLHA ONLINE, EM BRASÍLIA

Horas depois de ter anunciado o desligamento de praticamente todas as usinas termelétricas brasileiras e o corte da importação do gás boliviano, de 30 milhões de m3 para 19 milhões de m3 por dia, redução que já vinha sendo adotada desde o começo do mês, o governo brasileiro deu uma surpreendente guinada e anunciou ontem à noite o oposto: o religamento de duas usinas e a elevação do gás boliviano de 3 milhões de m3 a 4 milhões de m3/dia além dos 19 milhões.
Apesar de o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, dizer o contrário, a decisão final foi eminentemente política, como afirmou com todas as letras o assessor internacional da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia. Ele e o secretário-geral do Itamaraty, embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, participaram e, de certa forma, comandaram a reunião da guinada. À Folha Garcia classificou o resultado das negociações, que ocorreram ontem em Brasília, como "uma solução tecnicamente viável e politicamente conveniente para os dois lados".
O que significa "politicamente conveniente"? Segundo ele, "num momento de crise econômica, é fundamental preservar os ingressos lá [na Bolívia], onde 40% dos recursos vêm do gás". Ele acrescentou que decisões assim nunca são apenas técnicas, mas sim políticas: "Se fossem, para que fazer eleições de quatro em quatro anos? Bastava fazer concurso público para os técnicos".
O anúncio do corte tinha sido feito pela manhã pelo ministro de Minas e Energia, em reunião com o ministro do Planejamento e Desenvolvimento da Bolívia, Carlos Villegas, da qual participou o presidente da Petrobras, José Gabrielli.
Após a inclusão de Garcia e do embaixador Samuel, na reunião da tarde, foi novamente Lobão quem teve de dar a notícia. Demonstrando irritação, ele negou que a decisão tenha sido política e disse que a elevação do gás comprado à Bolívia poderá ser maior, dependendo do consumo da indústria.
Aliado ao desligamento de termelétricas, o corte no consumo do gás boliviano representaria uma economia de US$ 600 milhões para o Brasil e tinha sentido técnico, porque, com as chuvas, os reservatórios das hidrelétricas estão cheios e não há necessidade de geração de energia pelas térmicas -mais caras e mais poluentes.
Ao tentar explicar a guinada, Lobão disse uma frase de difícil compreensão: "Na parte da manhã, não havia a necessidade dessas duas térmicas, cuja necessidade surgiu à tarde".
Serão religadas as térmicas de Araucária (PR) e Canoas (RS), que têm capacidade para gerar cerca de 600 MW.


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