|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Governo volta atrás e eleva compra de gás da Bolívia
Decisão foi política, diz assessor internacional de Lula
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
LORENNA RODRIGUES
DA FOLHA ONLINE, EM BRASÍLIA
Horas depois de ter anunciado o desligamento de praticamente todas as usinas termelétricas brasileiras e o corte da
importação do gás boliviano, de
30 milhões de m3 para 19 milhões de m3 por dia, redução
que já vinha sendo adotada
desde o começo do mês, o governo brasileiro deu uma surpreendente guinada e anunciou ontem à noite o oposto: o
religamento de duas usinas e a
elevação do gás boliviano de 3
milhões de m3 a 4 milhões de
m3/dia além dos 19 milhões.
Apesar de o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão,
dizer o contrário, a decisão final foi eminentemente política, como afirmou com todas as
letras o assessor internacional
da Presidência da República,
Marco Aurélio Garcia. Ele e o
secretário-geral do Itamaraty,
embaixador Samuel Pinheiro
Guimarães, participaram e, de
certa forma, comandaram a
reunião da guinada. À Folha
Garcia classificou o resultado
das negociações, que ocorreram ontem em Brasília, como
"uma solução tecnicamente
viável e politicamente conveniente para os dois lados".
O que significa "politicamente conveniente"? Segundo ele,
"num momento de crise econômica, é fundamental preservar os ingressos lá [na Bolívia],
onde 40% dos recursos vêm do
gás". Ele acrescentou que decisões assim nunca são apenas
técnicas, mas sim políticas: "Se
fossem, para que fazer eleições
de quatro em quatro anos?
Bastava fazer concurso público
para os técnicos".
O anúncio do corte tinha sido feito pela manhã pelo ministro de Minas e Energia, em
reunião com o ministro do Planejamento e Desenvolvimento
da Bolívia, Carlos Villegas, da
qual participou o presidente da
Petrobras, José Gabrielli.
Após a inclusão de Garcia e
do embaixador Samuel, na reunião da tarde, foi novamente
Lobão quem teve de dar a notícia. Demonstrando irritação,
ele negou que a decisão tenha
sido política e disse que a elevação do gás comprado à Bolívia
poderá ser maior, dependendo
do consumo da indústria.
Aliado ao desligamento de
termelétricas, o corte no consumo do gás boliviano representaria uma economia de US$
600 milhões para o Brasil e tinha sentido técnico, porque,
com as chuvas, os reservatórios
das hidrelétricas estão cheios e
não há necessidade de geração
de energia pelas térmicas
-mais caras e mais poluentes.
Ao tentar explicar a guinada,
Lobão disse uma frase de difícil
compreensão: "Na parte da
manhã, não havia a necessidade dessas duas térmicas, cuja
necessidade surgiu à tarde".
Serão religadas as térmicas
de Araucária (PR) e Canoas
(RS), que têm capacidade para
gerar cerca de 600 MW.
Texto Anterior: Fluxo de veículos pesados caiu 3,7% em dezembro Próximo Texto: Comércio exterior: Exportações do agronegócio têm aumento de 23% em 2008 Índice
|