São Paulo, domingo, 10 de janeiro de 1999

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MERCADO TENSO
Economista diz que o Japão deverá ser a maior ameaça à economia mundial
Dornbusch prevê desaquecimento em 99

CHICO SANTOS
da Sucursal do Rio

O economista alemão, naturalizado norte-americano, Rudiger Dornbusch, do MIT (Massachusetts Institute of Technology), afirmou, em ensaio a ser publicado na edição de janeiro da revista "Conjuntura Econômica", que a perspectiva para 99 é de "desaquecimento em todo o mundo".
De acordo com ele, a maior ameaça à economia mundial vem do Japão, que deve permanecer em recessão, com perspectivas "mínimas" de uma ação decisiva para sair dessa situação. "Com isso, continua ameaçada a economia mundial."
Dornbusch cita uma pesquisa da revista "The Economist" (inglesa), segundo a qual o crescimento econômico dos países industrializados cai de 2,2% em 98 para 1,5% em 99. Nos EUA, a queda seria de 3,6% para 2%; no Japão, a recessão passaria de -2,8% para -0,9%; e na Europa, o crescimento cairia de 2,8% para 2,2%.
A "Conjuntura Econômica" é uma publicação da FGV (Fundação Getúlio Vargas).
No artigo, Dornbusch diz que "os problemas dos mercados emergentes continuam a preocupar os mercados de capital". Ele afirma também que a América Latina segue preocupando tanto os EUA como a Europa e o Japão.
Um dos maiores críticos da atual política econômica brasileira, especialmente da política cambial, Dornbusch não faz nenhuma referência direta ao país no ensaio feito para a FGV. Ele concentra sua análise nas situações dos EUA, Japão e Europa.
Da mesma forma que vem há muito defendendo uma desvalorização do real, o economista defende que o Japão faça uma forte desvalorização da sua moeda, o iene, como um primeiro passo "para evitar a crescente espiral deflacionária (queda sistemática dos preços), que já está fugindo ao controle das autoridades".
Em relação aos EUA, Dornbusch ressalta como problema mais preocupante "o crescente déficit em conta corrente" (entradas menos saídas de dólares). Ressalva que "não há risco imediato de crise, desde que a inflação permaneça moderada e as finanças públicas continuem fortes".
Ainda sobre o déficit norte-americano, gerado pela falta de poupança interna, o economista afirma que ele "constitui, na verdade, um extraordinário problema futuro para o resto do mundo".
E pergunta: "Quando os EUA começarem a poupar, como é que o mundo vai gerar demanda para preencher a lacuna deixada?"
Já em relação à Europa, que ele chama de eurolândia (comunidades dos países que adotaram no último dia 2 o euro como moeda), ele afirma que o maior problema continuará sendo o desemprego.
"Seria preciso uma taxa de crescimento em torno de 2,7% (este ano) para que o desemprego permanecesse no nível que está, o que não deve acontecer", afirma.



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