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CRISE NA AMÉRICA LATINA
Mesmo com freada americana, PIB do país caiu só 0,2% em 2001; retomada pode vir já neste ano
Recessão mexicana não assusta investidor
GIULIANO GUANDALINI
DA REDAÇÃO
Na esteira da freada norte-americana, o México entrou em recessão no ano passado. Seu déficit na
balança comercial saltou quase
22%, e suas exportações encolheram 5%. De resto, perdeu receita
com a queda do preço do petróleo, produto que gera um terço de
sua renda.
O cenário seria de alerta para
um país latino-americano, de economia "emergente". Um país cuja
moeda, há apenas sete anos, sofreu uma abrupta desvalorização,
fato que desestabilizou os mercados mundo afora, no que ficou
conhecido como "efeito tequila".
Um país que já declarou moratória oito vezes e era tido com um
pária da economia globalizada.
Mas, ao contrário do que se poderia imaginar, o México atravessou 2001 sem muitos sobressaltos.
Na semana passada, conquistou a
classificação "nível de investimento" da Standard & Poor's.
Como Fitch e Moody's já haviam
feito o mesmo, o país é considerado como um porto seguro para as
três principais agências de classificação de risco.
A explicação para a estabilidade
está ao norte de sua fronteira. "O
México fez uma opção estratégica, que foi a melhor entre as possíveis", disse o economista Gilberto
Dupas, coordenador-geral do Gacint (Grupo de Conjuntura Internacional), da USP (Universidade
de São Paulo). "Assumiu o risco
da integração com os EUA."
Desde que o Nafta (acordo de livre comércio da América do Norte, na sigla em inglês) foi implantado, em 1994, os mexicanos triplicaram suas trocas comerciais
com os EUA. Hoje, perto de 90%
das exportações do país vão para
o vizinho rico. O Canadá, segundo principal parceiro, compra 2%
dos US$ 170 bilhões exportados
pelo México a cada ano.
Além de abrir a economia, o
país privatizou estatais. Passou
ainda por uma pequena revolução política, em 2000, ao derrubar, nas urnas, o PRI (Partido Revolucionário Institucional), que
estava no poder havia 71 anos.
No começo do ano passado, o
presidente Vicente Fox, que assumiu em dezembro de 2000, previa
crescimento de 4,5%, mas não tinha idéia do impacto do pouso
americano. No ano passado, o
PIB (Produto Interno Bruto) do
país sofreu redução de 0,2%.
Dependência
Com o avanço da integração
com os EUA e com a economia
norte-americana em pleno boom,
o México deixou para trás o tombo sofrido durante a crise cambial
de 1995 (naquele ano, seu PIB desabou 6,2%). Cresceu 6,9% em
2000 e, nos últimos anos, mantém
um ritmo bem mais acelerado do
que na década perdida dos anos
80, quando sua expansão anual
média era de 0,8%.
Mas o escorregão do ano passado não seria um sinal de que o
país estaria condenado a viver ciclos de expansão e contração, como a maior parte das economias
latino-americanas?
"Acreditamos que, quando os
EUA voltarem a crescer, no segundo semestre, o México crescerá rapidamente", afirmou para a
Folha, na sexta-feira, Graciana del
Castillo, analista da Standard &
Poor's em Nova York.
A previsão oficial do governo é
que o PIB aumente 1,7% neste
ano. Segundo projeção do Banco
Mundial, o crescimento médio,
no período 2000/4, será de 4,3%.
De acordo com a analista da
S&P, há outras razões para acreditar na estabilidade do país. Uma
delas é a reforma fiscal proposta
por Fox, que deverá tornar o governo menos dependente da receita do petróleo. "Será ampliada
a base de arrecadação, com a inclusão de mais contribuintes",
disse Graciana
Entre os latino-americanos,
apenas o Uruguai e o Chile já carregavam o selo "investment grade" ("nível de investimento") outorgado pela agências de classificação de risco. O México conquista agora o acesso a mais crédito a
uma taxa menor de juros, uma
meta também para o Brasil, mas
que não será atingida antes do final do governo Fernando Henrique Cardoso.
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