São Paulo, domingo, 10 de fevereiro de 2002

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CRISE NA AMÉRICA LATINA

Mesmo com freada americana, PIB do país caiu só 0,2% em 2001; retomada pode vir já neste ano

Recessão mexicana não assusta investidor

GIULIANO GUANDALINI
DA REDAÇÃO

Na esteira da freada norte-americana, o México entrou em recessão no ano passado. Seu déficit na balança comercial saltou quase 22%, e suas exportações encolheram 5%. De resto, perdeu receita com a queda do preço do petróleo, produto que gera um terço de sua renda.
O cenário seria de alerta para um país latino-americano, de economia "emergente". Um país cuja moeda, há apenas sete anos, sofreu uma abrupta desvalorização, fato que desestabilizou os mercados mundo afora, no que ficou conhecido como "efeito tequila". Um país que já declarou moratória oito vezes e era tido com um pária da economia globalizada.
Mas, ao contrário do que se poderia imaginar, o México atravessou 2001 sem muitos sobressaltos. Na semana passada, conquistou a classificação "nível de investimento" da Standard & Poor's. Como Fitch e Moody's já haviam feito o mesmo, o país é considerado como um porto seguro para as três principais agências de classificação de risco.
A explicação para a estabilidade está ao norte de sua fronteira. "O México fez uma opção estratégica, que foi a melhor entre as possíveis", disse o economista Gilberto Dupas, coordenador-geral do Gacint (Grupo de Conjuntura Internacional), da USP (Universidade de São Paulo). "Assumiu o risco da integração com os EUA."
Desde que o Nafta (acordo de livre comércio da América do Norte, na sigla em inglês) foi implantado, em 1994, os mexicanos triplicaram suas trocas comerciais com os EUA. Hoje, perto de 90% das exportações do país vão para o vizinho rico. O Canadá, segundo principal parceiro, compra 2% dos US$ 170 bilhões exportados pelo México a cada ano.
Além de abrir a economia, o país privatizou estatais. Passou ainda por uma pequena revolução política, em 2000, ao derrubar, nas urnas, o PRI (Partido Revolucionário Institucional), que estava no poder havia 71 anos.
No começo do ano passado, o presidente Vicente Fox, que assumiu em dezembro de 2000, previa crescimento de 4,5%, mas não tinha idéia do impacto do pouso americano. No ano passado, o PIB (Produto Interno Bruto) do país sofreu redução de 0,2%.

Dependência
Com o avanço da integração com os EUA e com a economia norte-americana em pleno boom, o México deixou para trás o tombo sofrido durante a crise cambial de 1995 (naquele ano, seu PIB desabou 6,2%). Cresceu 6,9% em 2000 e, nos últimos anos, mantém um ritmo bem mais acelerado do que na década perdida dos anos 80, quando sua expansão anual média era de 0,8%.
Mas o escorregão do ano passado não seria um sinal de que o país estaria condenado a viver ciclos de expansão e contração, como a maior parte das economias latino-americanas?
"Acreditamos que, quando os EUA voltarem a crescer, no segundo semestre, o México crescerá rapidamente", afirmou para a Folha, na sexta-feira, Graciana del Castillo, analista da Standard & Poor's em Nova York.
A previsão oficial do governo é que o PIB aumente 1,7% neste ano. Segundo projeção do Banco Mundial, o crescimento médio, no período 2000/4, será de 4,3%.
De acordo com a analista da S&P, há outras razões para acreditar na estabilidade do país. Uma delas é a reforma fiscal proposta por Fox, que deverá tornar o governo menos dependente da receita do petróleo. "Será ampliada a base de arrecadação, com a inclusão de mais contribuintes", disse Graciana
Entre os latino-americanos, apenas o Uruguai e o Chile já carregavam o selo "investment grade" ("nível de investimento") outorgado pela agências de classificação de risco. O México conquista agora o acesso a mais crédito a uma taxa menor de juros, uma meta também para o Brasil, mas que não será atingida antes do final do governo Fernando Henrique Cardoso.



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