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São Paulo, segunda-feira, 10 de fevereiro de 2003
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COMBUSTÍVEIS Agência admite que não está equipada para identificar se o produto traz benefícios para os consumidores Gasolina aditivada é incógnita até para ANP
FÁTIMA FERNANDES DA REPORTAGEM LOCAL Pagar mais para encher o tanque do carro com gasolina aditivada não é garantia de que o combustível é melhor para o veículo. A ANP (Agência Nacional de Petróleo), encarregada de fiscalizar o mercado brasileiro de petróleo, ainda não está equipada para identificar se a gasolina aditivada tem algum componente a mais em benefício do carro. Isto é, o consumidor, por hora, tem de acreditar mesmo nas informações das distribuidoras e dos postos, se optar por pagar até R$ 0,10 a mais pelo litro do combustível. O consumidor passou a prestar mais atenção na gasolina aditivada depois que alguns postos do país passaram a vendê-la pelo preço da comum. A suposta promoção levantou as seguintes questões: Por que a gasolina aditivada é mais cara? Quais os benefícios que ela traz ao veículo? Como o consumidor pode saber se de fato ela é melhor do que a comum? As distribuidoras informam que a gasolina aditivada é mais cara porque, como o próprio nome revela, tem um aditivo que traz benefícios para o carro -por exemplo, um detergente que limpa e remove a sujeira do motor. Cada distribuidora possui o seu aditivo, considerado segredo comercial e revelado só para a ANP. Cada aditivo tem a sua função ou funções. Retardamento do envelhecimento da gasolina ou atuação anti-corrosiva. Essas características podem estar juntas em um só produto. Mas, se a gasolina aditivada vendida tem mesmo essas funções ninguém sabe, nem os donos de postos. "Eles [distribuidoras" dizem que a gasolina aditivada tem uma substância química que proporciona melhor desempenho do carro. É o que eu digo para os clientes", afirma Gilmar Roberto da Silva, administrador de um posto na zona leste de São Paulo, que vende a gasolina comum e a aditivada por R$ 2,19 o litro. Carlos Gorgueira, proprietário do CM Auto Posto, tem sua explicação: "O aditivo não deixa criar sujeira no bico injetor do carro." O seu posto vende há mais de um ano a gasolina aditivada pelo preço da comum -R$ 2,29 o litro. Por causa da promoção, comercializa cerca de 7.000 litros da aditivada por dia e apenas 1.000 litros da comum diariamente. A ANP informa que ainda não desenvolveu metodologia para identificar a presença de aditivo na gasolina e, portanto, não tem como informar se a gasolina vendida nos postos como aditivada o é de fato. Mas, em dois meses, a agência pretende estar equipada. "Vários tipos de aditivos estão disponíveis no mercado. Estamos desenvolvendo um método capaz de identificar qualquer um, o que deverá estar concluído em dois meses. Por enquanto, o consumidor tem de acreditar na boa-fé das distribuidoras e dos postos", diz Antonio Bonomi, superintendente de qualidade da ANP. "O consumidor precisa saber qual é a função da gasolina aditivada que coloca no carro. Isso tem de estar especificado nas bombas ", afirma Aldo Guarda, vice-presidente da Fecombustíveis, federação que reúne 34 sindicatos e 28 mil postos no país. "O consumidor tem o direito de obter informações sobre qualquer produto, ainda mais quando paga mais caro por ele, como é o caso, na maioria das vezes, da gasolina aditivada" afirma Flávia Lefevre Guimarães, advogada do conselho diretor da Pro Teste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor). Falta fiscalização As distribuidoras informam que a ANP tem o registro de cada aditivo que elas acrescentam à gasolina. Quem conhece o mercado de combustíveis afirma que isso pouco adianta se a agência ou outro instituto não verifica se o que está à venda no mercado é o que está registrado. O IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) também não tem condição de identificar aditivo, diz Heloísa Antonoff, responsável pelo laboratório de combustíveis do instituto. "Para mim falar em gasolina aditivada é o mesmo do que em picanha maturada. Todos falam que esse tipo gasolina e esse tipo de carne têm melhor qualidade. Tem mesmo? Sem fiscalização não dá para saber", afirma Ildo Sauer, professor de pós-graduação em energia da USP (Universidade de São Paulo), nomeado para o cargo de diretor de Energia e Gás Natural da Petrobras. A Shell admite que fórmula da gasolina aditivada é segredo -assim como a da Coca-Cola-, mas informa que o consumidor tem acesso às características dos produtos na sua rede postos. Segundo Gilberto Pose, engenheiro de combustíveis da companhia, um adesivo nas bombas especifica os grupos químicos da gasolina aditivada. Hoje, diz, a Shell está revendo o texto explicativo. Hoje, muitos consumidores acreditam que a gasolina é aditivada só porque ela tem uma cor diferente da comum, que é amarelada. Mas, segundo especialistas, pode ser apenas um corante. Texto Anterior: Líder teve 21,6% de valorização Próximo Texto: Produto é comercializado desde 1992 Índice |
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