São Paulo, sábado, 10 de fevereiro de 2007

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Não sinto pressão para deixar BC, diz Meirelles

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
ENVIADO ESPECIAL A LISBOA

Perseguido nos últimos dias por especulações sobre sua saída do governo, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou ontem que não se sente pressionado e que as críticas são uma "ansiedade normal".
"À medida que a estabilização fica mais aparente, a ansiedade por crescermos mais rápido e termos juros mais baixos aumenta. Isso [a pressão] é normal."
Em Lisboa para participar de um fórum organizado pela Fundação Luso-Brasileira, Meirelles disse que os ataques à atuação do BC "não são unânimes" e que conta com apoio popular.
"A grande maioria da população apóia a queda da inflação e o conseqüente aumento do poder de compra. Sinto que o Banco Central tem o apoio do povo."
Ao falar sobre o ambiente "extraordinariamente positivo" que encontra no exterior em relação à economia brasileira, Meirelles indicou que há um viés político nas críticas à atuação do BC e na pressão por sua saída do cargo.
"Os analistas estrangeiros, não envolvidos na política nacional, tendem a olhar a situação com mais isenção."
Quanto à mais recente fonte de crise -a constante valorização do real diante do dólar-, o presidente do BC reafirmou que a instituição "não trabalha com metas de câmbio".
Com números, rebateu o argumento de que os juros elevados, que atraem fluxos financeiros, seriam os culpados pela desvalorização do dólar.
"O fluxo de dólares tem sido trazido pelo setor comercial e não pelo financeiro."

Controle cambial
Apresentando a evolução das taxas de câmbio nominal e real, Meirelles ponderou sobre a utilização de controles.
"Felizmente, hoje o governo não decide a taxa de câmbio. Ou, talvez, infelizmente. Se pudesse decidir, seria até mais fácil." Questionado sobre a frase, disse que não fez "juízo de valor" e não explicou se prefere o câmbio livre ou controlado.
O presidente do BC também rebateu os críticos que pedem a queda mais acentuada dos juros, lembrando que o processo tem sido gradual e contínuo.
"Tenho uma coleção de declarações de pessoas que pediam menores taxas de juros há três anos, e todas eram maiores do que as que temos hoje."
Meirelles mostrou ainda afinação com o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao falar sobre a importância do crescimento da demanda, apesar de ele ser um dos componentes de pressão inflacionária temidos pelo BC.
"Concordo integralmente. A demanda está aumentando fortemente e isso é positivo. Tem de aumentar a oferta também; esse é o desafio."

Perspectivas
Em sua apresentação, intitulada "Perspectivas para a Economia Brasileira", Meirelles defendeu a ação do Banco Central no controle da inflação e repassou os indicadores econômicos positivos.
Na platéia estavam presidentes de entidades brasileiras e portuguesas, como Paulo Skaf (Fiesp), Benjamin Steinbruch (CSN) e António Mexia (Energias de Portugal).


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