São Paulo, terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

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China quer ferro da Vale 40% mais barato

País responde por 20% do faturamento da empresa, que só aceita redução de 10% no preço do minério

"China Daily" - 19.jan.09/Reuters
Siderúrgica em Dalian, na China; minério de ferro e derivados somam 33% de todas as exportações brasileiras ao país asiático

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

A China quer pagar 40% a menos pelo minério de ferro importado do Brasil em 2009, enquanto a Vale aceita um corte de 10%. A discussão do novo preço é fundamental para a Vale -a China responde por 20% do faturamento da empresa.
A negociação será "dura e demorada", segundo disse à Folha o diretor da Associação Chinesa de Ferro e Aço, Shen Wenrong, que é do conselho de diretores da Sha Steel, maior siderúrgica privada do país.
"O preço precisa cair pelo menos 40%, 50%", diz Shen. A negociação acontece entre empresas chinesas e a brasileira Vale e as angloaustralianas BHP e Rio Tinto.
O impasse pode afetar ainda mais a balança comercial brasileira com a China, que já sofreu déficit de US$ 3,6 bilhões com o gigante asiático em 2008; 33% das exportações brasileiras à China são de ferro e derivados.
A analista-sênior da consultoria Umetal, Du Wei, diz que reajustes de preços recentes tiveram quedas parecidas, como o ferro do Cazaquistão, vendido por 41% a menos para a Rússia, e os preços domésticos na China, que caíram de 30% a 40%.
Ela diz que a redução nos últimos dois meses dos estoques de ferro no país, que chegou a ter 200 milhões de toneladas acumuladas, alimentou expectativas de uma recuperação que está longe de acontecer.
"O melhor que o governo chinês pode fazer é impedir que a economia continue a se deteriorar, não estamos nada otimistas", diz Du. "Só sei ao certo que as importações em 2009 serão menores que as de 2008."
Para a analista, a relação da Vale com as empresas chinesas já está "normalizada", após a declaração de um boicote pela Associação em setembro.
"A Vale quis reajustar o preço em setembro, quando começou uma grande desaceleração aqui, foi o momento errado", diz Du. A queda na demanda por ferro escancarou a desaceleração da economia chinesa em setembro passado.
Quase 50% do ferro é consumido pela construção civil, e a venda de apartamentos no país despencou pela primeira vez em dez anos. Várias obras ficaram paralisadas, e prédios novos não acham compradores.
A crise do ferro e do aço fez com que o único grande investimento chinês anunciado no Brasil em anos, o da construção de uma siderúrgica no Espírito Santo, fosse abandonado. A Baosteel cancelou a obra, orçada em US$ 4 bilhões.
"A Baosteel perdeu muito dinheiro nos últimos dois meses, com sucessivas quedas na Bolsa, não é uma boa hora para investir", diz a analista Du Wei.
"Os chineses têm comprado empresas e participação em siderúrgicas em que podem ter alguma voz de comando, minas no Peru, empresas na Austrália, mas a Vale é muito grande", diz.

Dependência
Metade do minério de ferro que a China consome é importado. O país consome entre 30% e 40% do ferro mundial. Seus maiores fornecedores são Austrália, Brasil e Índia.
O país não consegue produzir mais, por barreiras ambientais cada vez maiores e porque seu minério é de qualidade inferior. Apenas entre 20% e 30% do minério extraído na China é ferro, contra de 60% a 67% no Brasil, o que faz que a extração seja mais cara no país asiático.
O otimismo para a normalização do consumo em médio prazo se sustenta pelo processo de urbanização da China, ainda em estágio intermediário (54% dos chineses vivem no campo).
A construção das novas cidades chinesas gera enorme apetite por matérias-primas, mas a construção de infraestrutura leva tempo. O governo anunciou no ano passado um plano de estímulo de US$ 580 bilhões, principalmente em obras de infraestrutura.
"Mas uma linha de trem de alta velocidade, como Pequim-Xangai, pode levar de cinco a oito anos para ficar pronta, as obras não são feitas de uma hora para outra", diz Du Wei.


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