São Paulo, quarta-feira, 10 de março de 2004

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SINAIS MISTOS

Pressionada pelos reajustes no atacado, inflação sobe para 1,08% em fevereiro; para FGV, número "surpreendeu"

Preços no atacado puxam alta do IGP-DI

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

A inflação de fevereiro medida pelo IGP-DI (Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna) foi de 1,08%, com alta de 0,28 ponto percentual em relação a janeiro.
Pressionado pelos preços no atacado, principalmente dos produtos industriais, o número foi considerado "surpreendente" pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), responsável pelo cálculo do índice, e pode significar pressões futuras sobre os preços no varejo. A origem das pressões por aumentos está, basicamente, no crescimento da economia internacional e na alta de impostos, segundo a FGV.
A divulgação de um índice de inflação superior a 1% em fevereiro ocorreu no dia seguinte à divulgação de outros índices que registraram até deflação no mesmo mês -o ICV (Índice de Custo de Vida) do Dieese (Departamento Intersindical de Estudos Estatísticos e Sócio-Econômicos) registrou queda de preços de 0,18% e o IPC (Índice de Preços ao Consumidor) do Rio de Janeiro foi de 0,15% (contra 1,22% em janeiro).
A diferença é explicada, basicamente, por diferenças de métodos e de abrangência de cada um desses índices.
O ICV mede apenas os preços no varejo, e na cidade de São Paulo. O IGP-DI é híbrido, formado por três outros índices -atacado, varejo e custo da construção-, e pesquisado nacionalmente. A parcela do varejo do índice da FGV registrou alta de apenas 0,28%, com desaceleração de 0,80 ponto percentual sobre o número de janeiro (1,08%).
Acontece que o IPC (Índice de Preços ao Consumidor), que mede os preços no varejo, representa apenas 30% do IGP-DI. O IPA (Índice de Preços por Atacado), que tem peso de 60%, quase dobrou. De uma alta de 0,75% em janeiro, passou para 1,42% em fevereiro.

Grávido
"A gente pode dizer que o IPA está grávido", disse o economista Salomão Quadros, Coordenador de Análises Econômicas da FGV. A expressão significa que a alta dos preços no atacado pode vir a "nascer" na forma de alta no varejo. Os preços no varejo afetam diretamente o bolso do consumidor. É um índice de varejo, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) do IBGE, que é usado como meta de inflação, fixada em 5,5% para este ano.
"Há uma nova onda [de alta de preços no atacado] que pode chegar ao varejo", disse Quadros, ressalvando que, por enquanto, não há motivo para esperar que essas pressões sejam duradouras.
A aceleração inflacionária no atacado se concentrou na área industrial, basicamente nas matérias-primas semi-elaboradas, que subiram 5,14% (3,75% em janeiro). O ferro gusa para fundição subiu 14,20%, os vergalhões de cobre, 16,27% e o etileno (base da indústria petroquímica), 15,38%. De acordo com Quadros, esses aumentos refletem a maior demanda internacional por essas commodities.
Mas o principal vilão da alta no atacado foi um produto alimentício, o óleo de soja, que subiu 13,57%. Segundo Quadros, a pesquisa da FGV constatou que a alta de produtos alimentícios foi justificada pelas empresas, principalmente, pelo aumento de tributos, como a Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social, cuja alíquota passou de 3% para 7,6% em fevereiro).
Para o economista, o IGP-DI tem duas leituras do ponto da influência que pode ter sobre a próxima decisão do BC (Banco Central) em relação à taxa de juros, hoje em 16,5% ao ano. Uma é a de que os preços no varejo não justificam não haver uma redução.
E outra, a de que piorou a situação dos preços industriais, já usados em fevereiro como argumento para a manutenção da taxa. Quadros avalia que há espaço para uma redução de até 0,5 ponto percentual, mas acha que o BC vai preferir ser conservador por causa da sinalização dos preços industriais.


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