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SINAIS MISTOS
Pressionada pelos reajustes no atacado, inflação sobe para 1,08% em fevereiro; para FGV, número "surpreendeu"
Preços no atacado puxam alta do IGP-DI
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
A inflação de fevereiro medida
pelo IGP-DI (Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna) foi
de 1,08%, com alta de 0,28 ponto
percentual em relação a janeiro.
Pressionado pelos preços no
atacado, principalmente dos produtos industriais, o número foi
considerado "surpreendente" pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), responsável pelo cálculo do
índice, e pode significar pressões
futuras sobre os preços no varejo.
A origem das pressões por aumentos está, basicamente, no
crescimento da economia internacional e na alta de impostos, segundo a FGV.
A divulgação de um índice de
inflação superior a 1% em fevereiro ocorreu no dia seguinte à divulgação de outros índices que registraram até deflação no mesmo
mês -o ICV (Índice de Custo de
Vida) do Dieese (Departamento
Intersindical de Estudos Estatísticos e Sócio-Econômicos) registrou queda de preços de 0,18% e o
IPC (Índice de Preços ao Consumidor) do Rio de Janeiro foi de
0,15% (contra 1,22% em janeiro).
A diferença é explicada, basicamente, por diferenças de métodos
e de abrangência de cada um desses índices.
O ICV mede apenas os preços
no varejo, e na cidade de São Paulo. O IGP-DI é híbrido, formado
por três outros índices -atacado,
varejo e custo da construção-, e
pesquisado nacionalmente. A
parcela do varejo do índice da
FGV registrou alta de apenas
0,28%, com desaceleração de 0,80
ponto percentual sobre o número
de janeiro (1,08%).
Acontece que o IPC (Índice de
Preços ao Consumidor), que mede os preços no varejo, representa
apenas 30% do IGP-DI. O IPA
(Índice de Preços por Atacado),
que tem peso de 60%, quase dobrou. De uma alta de 0,75% em janeiro, passou para 1,42% em fevereiro.
Grávido
"A gente pode dizer que o IPA
está grávido", disse o economista
Salomão Quadros, Coordenador
de Análises Econômicas da FGV.
A expressão significa que a alta
dos preços no atacado pode vir a
"nascer" na forma de alta no varejo. Os preços no varejo afetam diretamente o bolso do consumidor. É um índice de varejo, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo) do IBGE,
que é usado como meta de inflação, fixada em 5,5% para este ano.
"Há uma nova onda [de alta de
preços no atacado] que pode chegar ao varejo", disse Quadros, ressalvando que, por enquanto, não
há motivo para esperar que essas
pressões sejam duradouras.
A aceleração inflacionária no
atacado se concentrou na área industrial, basicamente nas matérias-primas semi-elaboradas, que
subiram 5,14% (3,75% em janeiro). O ferro gusa para fundição
subiu 14,20%, os vergalhões de
cobre, 16,27% e o etileno (base da
indústria petroquímica), 15,38%.
De acordo com Quadros, esses
aumentos refletem a maior demanda internacional por essas
commodities.
Mas o principal vilão da alta no
atacado foi um produto alimentício, o óleo de soja, que subiu
13,57%. Segundo Quadros, a pesquisa da FGV constatou que a alta
de produtos alimentícios foi justificada pelas empresas, principalmente, pelo aumento de tributos,
como a Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social, cuja alíquota passou de
3% para 7,6% em fevereiro).
Para o economista, o IGP-DI
tem duas leituras do ponto da influência que pode ter sobre a próxima decisão do BC (Banco Central) em relação à taxa de juros,
hoje em 16,5% ao ano. Uma é a de
que os preços no varejo não justificam não haver uma redução.
E outra, a de que piorou a situação dos preços industriais, já usados em fevereiro como argumento para a manutenção da taxa.
Quadros avalia que há espaço para uma redução de até 0,5 ponto
percentual, mas acha que o BC vai
preferir ser conservador por causa da sinalização dos preços industriais.
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