São Paulo, quarta-feira, 10 de março de 2004

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NO AR

Wagner Canhedo é preso pela PF em Brasília sob acusação de ser depositário infiel

Dívidas com o INSS levam presidente da Vasp à prisão

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O empresário Wagner Canhedo, presidente da companhia aérea Vasp, foi preso anteontem pela Polícia Federal quando chegava a sua casa, em Brasília, em cumprimento a mandado de prisão expedido pela 8ª Vara de Execuções Fiscais da Justiça Federal em São Paulo.
Canhedo é acusado pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) de ser depositário infiel: a empresa teria descontado a contribuição previdenciária dos funcionários, mas deixou de repassar os valores à Previdência Social.
Em nota distribuída ontem, a Vasp informou que o empresário foi preso por ter discordado da decisão da Justiça de penhorar o faturamento mensal da Vasp para pagar a dívida com a Previdência.
No mandado, o juiz alega que a prisão se deve à "incontrastável [evidente] inércia" do depositário no cumprimento de seu dever. Em novembro de 2003, a 5ª Turma do TRF (Tribunal Regional Federal) da 3ª Região penhorou 5% do faturamento da Vasp, para pagar os débitos da empresa com o INSS, que em maio de 2002 já superavam R$ 65 milhões.
Na época, o TRF decretou que a penhora deveria ser feita pelo próprio empresário sobre o faturamento bruto mensal da Vasp. Em resposta na própria petição do despacho do Tribunal, Canhedo disse que não poderia cumprir a ordem, sob pena de "deixar de cumprir com suas obrigações essenciais, tais como o pagamento de salários aos seus funcionários".
De acordo com a Polícia Federal, o empresário chegava de uma viagem a São Paulo. Seu carro foi interceptado por agentes federais na região conhecida como Península dos Ministros, no Lago Sul, onde moram alguns integrantes do primeiro escalão do governo federal.
Até a conclusão desta edição, dois advogados o acompanhavam na superintendência da PF, aguardando a decisão da Justiça sobre um pedido de habeas corpus impetrado ontem.
No mandado de prisão, o juiz federal David Rocha Lima de Magalhães e Silva especificou que, "na medida do possível, o preso [Canhedo] não deverá ser colocado entre criminosos comuns".
O empresário foi mantido sozinho em uma cela comum durante todo o dia de ontem, num espaço de 20 metros quadrados. A cela especial da superintendência está ocupada por Norma Regina Emílio Cunha, ex-mulher do juiz federal João Carlos da Rocha Mattos, preso na Operação Anaconda. Os dois foram denunciados pelo Ministério Público Federal por integrar uma quadrilha especializada na comercialização de sentenças.
A Folha apurou que o empresário ainda tentou ficar em uma sala especial, contígua à área das celas. Delegados da PF, porém, determinaram a ida para uma cela comum, apesar dos protestos dos advogados do empresário.
Segundo relato de policiais, o empresário aparentava estar bem. Ele teria solicitado a entrega de comida, evitando a refeição da carceragem.
O mandado de prisão chegou à PF de Brasília no fim da tarde de anteontem. A superintendência de São Paulo informou, então, que o empresário se deslocava para a capital. Depois de aguardarem alguns minutos, os policiais identificaram o carro de Canhedo e o detiveram em plena rua.


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