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LUÍS NASSIF
Um abraço negro
Nessa discussão sobre
racismo negro, para jogar
um pouco de luz na escuridão e
colocar preto no branco, recorro à excelente análise do advogado Roberto Militão, militante do movimento negro contra
o racismo e a discriminação.
Diz ele que, como advogado,
é contra as cotas raciais, por
embasamento jurídico. Isoladamente, as cotas são inconstitucionais, por ferirem o princípio geral da isonomia. Ele não
tem dúvidas de que o Supremo
Tribunal Federal decretará
sua inconstitucionalidade.
Porém -prossegue ele- as
políticas de ação afirmativa
são admitidas pela Constituição, no artigo 5º, que pela primeira vez incluiu a "igualdade" como uma das garantias
individuais invioláveis.
Para ser implementada, há a
necessidade de uma lei. O caminho poderia ser o projeto de
lei "Estatuto da Promoção da
Igualdade", do senador Paulo
Paim (PT-RS). Em sua gestão
na presidência da Câmara dos
Deputados, João Paulo Cunha
(PT-SP) não o incluiu na pauta. Militão espera que o novo
presidente da Casa, Severino
Cavalcanti (PP-PE), tenha
mais sensibilidade "por sua
própria trajetória de menor receio de confrontar o conservadorismo social".
Com sua aprovação, o direito
da "não-exclusão" deixará de
ser ação subjetiva e passará a
se constituir em obrigação objetiva, sujeitando o não-cumprimento a punições legais. Se
não existir a pré-exclusão do
pai, diz Militão, não haverá
necessidade de cotas para o filho. Se a mulher não for excluída, seus filhos não serão prejudicados.
Nos Estados Unidos, os
maiores beneficiados por políticas de ação afirmativa são,
primeiro, mulheres brancas,
depois as mulheres negras, seguidas dos homens negros e
dos homens brancos. Mas todos foram beneficiados, diz ele.
Com base na promoção da
igualdade, será admissível a
adoção de cotas compensatórias, pontuais, em setores em
que as exclusões persistam.
Diz ele que as "cotas isoladas" são como analgésicos que
atacam os efeitos, sem destruir
as causas. Para cada negro que
entrar na universidade por cotas, milhares continuarão sendo excluídos no mercado de
trabalho e seus filhos serão
também "desigualizados".
Além disso, os beneficiários
das cotas isoladas serão definitivamente marcados pelo estigma do "incapaz beneficiado", o que resulta em danos irreparáveis que acabarão atingindo até mesmo negros que
não foram beneficiados.
Conclui o advogado: "Tenho
pavor da frustração e da revolta que surgirão quando o STF
se pronunciar quanto à constitucionalidade das cotas nas
universidades, o que talvez interesse à sobrevivência de muitas ONGs".
Os filhos de Militão estudam
no Colégio Salesiano - Santana, instituição filantrópica que
deveria destinar 20% das 3.500
vagas a estudantes pobres da
região. Em sete anos, nenhum
estudante negro foi beneficiado, diz ele, mas apenas amigos
que nunca são negros: filhos de
"autoridades" civis, judiciárias, militares, jornalistas amigos etc., menos pobres negros.
Ele está movendo uma ação judicial no Fórum de Santana,
exigindo a democratização do
acesso.
Como diria dona Ivone Lara,
"um sorriso negro, um abraço
negro, traz felicidade".
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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