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OPINIÃO ECONÔMICA
Uma lição a aprender
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
Tenho insistido nesta coluna sobre a nova natureza da
integração econômica do Brasil
no mundo, talvez o fato mais
marcante dos últimos anos para o
analista que acompanha o pulsar
de nossa economia. Essa integração se deu, de forma ampla, nos
canais comercial e financeiro. Na
parte comercial, o dinamismo extraordinário trazido ao comércio
internacional e aos preços das
commodities pelo crescimento
chinês elevou de forma excepcional as exportações brasileiras e
gerou uma melhora em nossas
condições de solvência externa.
Do lado financeiro, a integração veio pelo excesso de liquidez
internacional condicionado pelo
desequilíbrio comercial americano e pela política monetária no
Japão. Outro fator favorável nesse
campo foi a dinâmica deflacionária criada nos últimos anos pelos
ganhos de produtividade na economia chinesa. Com custos de
trabalho cadentes, um parque industrial com tecnologia de ponta
e uma política de defesa da taxa
de câmbio, a China vem contribuindo de forma importante para
manter baixa a inflação mundial.
Isso ocorre apesar do aumento
significativo dos preços do petróleo e de outras commodities gerado pelo dinamismo de sua economia. O resultado final tem sido
uma mobilização maciça de recursos financeiros para o mundo
"emergente", reforçando os processos de ajuste externo e dos
mercados internos de crédito desses países.
Essa nova situação de crescimento econômico mundial acelerado com inflação baixa mudou a
cara da nossa economia. Em um
primeiro momento, pelo crescimento vigoroso de nossas exportações; depois, pela redução do
chamado risco Brasil, que ocorreu
de forma concomitante com o
alongamento dos prazos das operações de crédito no mercado interno. Por exemplo, pela primeira
vez na nossa história o consumidor pode comprar um carro e pagar em 72 prestações fixas.
Mas essa lufada de vento externo tem sido muito mal utilizada,
porque mal compreendida, pelo
governo Lula. Para usar uma linguagem náutica, a equipe econômica, em vez de ajustar as velas
no barco Brasil para ganhar velocidade com esses novos ventos,
decidiu posicioná-las de modo a
manter a baixa velocidade dos últimos 12 anos. Os timoneiros do
Copom olharam para trás, anularam os efeitos do vento externo e
mantiveram a economia crescendo na mesma velocidade de antes.
O restante do governo tampouco
serviu de bússola, pois operou a
política fiscal e as iniciativas regulatórias no mercado creditício
de forma inconsistente com o que
deveria ser o objetivo principal:
acabar com a anomalia que são
os juros reais de 10% ao ano.
A decisão desta semana de
manter o ritmo de redução da Selic em meio ponto percentual ao
mês reforça essa política. E o resultado da produção industrial
de janeiro serviu para mostrar a
"eficiência" dos navegadores da
política de juros no Brasil. A produção industrial de janeiro caiu
1,3% em relação a dezembro, tendo crescido apenas 3,2% em relação a janeiro de 2005 (no caso da
indústria de transformação, que
mais emprega, o resultado foi
ainda pior, com aumento de apenas 2,7% em relação ao mesmo
período). Como sempre, o discurso oficial do governo foi o de prometer o nirvana do crescimento
maior para o futuro próximo:
"Foi ruim em janeiro, mas vai ser
muito bom nos próximos meses".
O Brasil tem hoje um crescimento medíocre, muito abaixo do
dos demais países "emergentes".
Esse descolamento é resultado da
política do governo Lula, que deverá ser julgado por isso. Além do
crescimento pífio, outros resultados negativos, embora menos visíveis, estão sendo colhidos. O pior
deles é a interrupção dos investimentos em infra-estrutura, para
acomodar os gastos explosivos e
malfeitos do governo. Há a falsa
impressão de austeridade fiscal a
partir de um superávit primário
elevado obtido pelo aumento de
impostos, que, no entanto, não é
suficiente para pagar as crescentes despesas de juros. Estamos,
mais uma vez, usando o estímulo
externo para financiar o consumo em detrimento dos investimentos.
A fábula da cigarra e da formiga é a imagem que me parece
mais adequada para representar
a situação em que vivemos.
Quando chegarem os ventos gelados do inverno da economia global -e eles vão chegar em algum
momento- vamos chorar o tempo que estamos perdendo.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 63,
engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo FHC).
E-mail - lcmb2@terra.com.br
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