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Inflação surpreende e sobe 0,48%, puxada por alimentos
IBGE vê sinas de mudança de patamar no preço da comida e novas pressões
IPCA fecha primeiro
trimestre com 1,52%; no
acumulado de 12 meses, vai
a 4,73%, acima do centro da
meta para 2008, de 4,5%
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Sob forte pressão da alta dos
alimentos, o IPCA (Índice de
Preços ao Consumidor Amplo)
ficou em 0,48% em março, pouco abaixo do 0,49% em fevereiro. O índice ficou acima da expectativa do mercado -entre
0,30% e 0,40%- e pode estimular o Banco Central a elevar
a taxa de juros em reunião na
semana que vem.
O IPCA fechou o primeiro
trimestre em 1,52%, mais do
que o 1,26% do primeiro trimestre de 2007. No acumulado
de 12 meses, o índice bateu em
4,73%. A cada mês, o indicador
oficial de inflação se afasta mais
do centro da meta traçada pelo
governo -de 4,5% para este
ano, com intervalo de tolerância de dois pontos para cima ou
para baixo.
Para Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices
de Preço do IBGE, há "sinais de
que os preços dos alimentos
mudaram de patamar" -para o
alto. O motivo, diz, é a alta das
commodities no mercado internacional. Segundo ela, a
crescente demanda mundial
por alimentos, especialmente
em países emergentes com
crescimento forte, como os
asiáticos e alguns africanos,
além da expansão do consumo
doméstico -puxado pelo incremento de renda-, inflacionam o custo dos alimentos.
Só em março o grupo alimentação subiu 0,89% -mais do
que o 0,60% de fevereiro. No
trimestre, avançou 3,04% e superou o 1,28% de igual período
do ano passado. Nunes disse
ainda que a inflação está "mais
espalhada agora do que no início do ano", quando os reajustes ficaram concentrados apenas em alimentos e mensalidades escolares.
Em março, também impulsionaram o índice energia elétrica (1,40%), álcool combustíveis (1,73%) e gasolina (0,76%)
-preços administrados que se
mantinham mais contidos.
Para abril, Nunes ressalta
que estão previstas novas pressões inflacionárias, decorrentes dos reajustes de remédios,
energia elétrica e aço -este último bate especialmente em
veículos e artigos para o lar.
Na visão de Nunes, também
não há indícios de que a pressão
dos alimentos cederá. É que os
preços no atacado já mostram
nova rodada de aumentos, e as
cotações internacionais seguem em trajetória de alta.
Para o economista Eduardo
Moreira, da administradora de
recursos BNYMellon/ARX, há,
de fato, um crescimento da demanda por alimentos em razão
da China e também da alocação
de estoques de milho para a
produção de biocombustível.
O economista não acredita,
porém, que o grupo alimentação suba no mesmo ritmo de
2007, quando a taxa superou os
10%. É que no ano passado foram registradas restrições de
oferta (em feijão, leite, carne e
trigo, por exemplo), que não se
repetirão em 2008.
Ao falar do reajuste do aço, o
economista diz que é possível
que ele nem chegue a pressionar veículos e eletrodomésticos, dependendo da concorrência com importados.
Mesmo com a pressão nos
primeiros meses deste ano,
Moreira avalia que a inflação ficará muito próxima do centro
da meta -pouco acima ou ligeiramente abaixo, mas sem bater
nos 5%. Ele diz que o câmbio
-que permite importar produtos mais baratos- joga a favor.
Para a consultoria LCA, o resultado de março é "pontual" e
não altera sua projeção para o
ano -4,3%. "Boa parte da alta
superior à que esperávamos
[0,36%] em março deveu-se a
pressões pontuais, que deverão
ser "devolvidas" nos próximos
meses. O bom comportamento
dos preços dos serviços e a deflação dos bens duráveis sugerem continuar contidas as
pressões associadas à demanda
aquecida e ao repasse dos aumentos de custos."
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