São Paulo, quinta-feira, 10 de abril de 2008

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Emergentes vão puxar crescimento global

DO ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

A economia global em 2008 será marcada por uma importante inversão de papéis entre os países desenvolvidos e os emergentes.
No crescimento mundial de 3,7% neste ano, na projeção do FMI (Fundo Monetário Internacional), haverá uma participação recorde do desempenho de países como China, Índia, Rússia e mesmo o Brasil em relação ao de EUA, União Européia e Japão.
Na média geral, enquanto os países desenvolvidos devem crescer 1,3% neste ano (menos da metade do resultado de 2007), os emergentes como um todo devem alcançar a média de 6,7% (7,9% no ano passado).
Essa diferença entre o crescimento médio dos 141 emergentes monitorados pelo FMI e dos 31 países desenvolvidos será, em 2008, a maior já registrada nas estatísticas do relatório "Panorama da Economia Mundial", que remontam a 1990.
As duas maiores zonas econômicas do mundo, os EUA e os países que têm o euro como moeda, devem crescer apenas 0,5% e 1,4%, respectivamente, em 2008. Já Brasil (4,8%), China (9,3%), Índia (7,9%) e Rússia (6,8%) deverão se expandir bem mais.
Não fosse esse passo mais intenso entre os emergentes, que ganhou ritmo nos últimos cinco anos, a desaceleração de EUA e países europeus em 2008 teria conseqüências negativas muito maiores para a economia global.
Juntas, as economias avançadas ainda respondem pela maior fatia do PIB mundial. Em 2007, a participação total dos países desenvolvidos no PIB global foi de 56,4% (sendo de 37,5% o peso exclusivo de EUA e países da zona do euro somados).
Já a participação dos emergentes atingiu 43,6%, com China (10,8%) e Índia (4,6%) à frente. O peso brasileiro ficou em 2,8%.
Pelas projeções do Fundo, a liderança dos emergentes deve se repetir em 2009, já que a recuperação da economia norte-americana (que deve atravessar uma "recessão leve" neste ano) se consolidaria apenas ao final do ano que vem.

Recessão e inflação
Isso, se tudo correr como o previsto, pois o FMI não descarta o risco de a crise nos mercados contaminar mais profundamente o setor produtivo. O Fundo calcula em 25% a possibilidade de o mundo como um todo entrar em recessão e crescer abaixo de 3%.
Pior: a expectativa é que a inflação continue a subir em várias partes do mundo, puxada pelos preços das commodities agrícolas e do petróleo.
Epicentro da atual crise, no mercado imobiliário dos EUA, os preços dos imóveis poderão sofrer uma nova queda de até 10% em 2008 -em 2007 já houve igual redução.
"Nos EUA (com peso de 21,4% no PIB global), por trás do cenário de falta de confiança no mercado financeiro, esperamos também que o consumo se mantenha bastante fraco. Isso combinado a uma deterioração no mercado de trabalho, baixo crescimento na renda disponível, preços de energia em alta e novos apertos nos empréstimos para o setor imobiliário", afirmou o economista-chefe do FMI, Simon Johnson.
Nesse cenário, apesar de os emergentes puxarem a economia global em 2008, eles poderão acabar afetados mais profundamente caso a recuperação dos EUA leve mais tempo.
"Os riscos para a economia mundial pendem hoje para o lado mais negativo, especialmente se a atual contração no mercado de crédito se transformar em colapso geral. Os emergentes não estarão fora de perigo diante de sérios problemas nas economias desenvolvidas", diz o FMI.

Previsões erradas
Há um ano, antes de a atual crise se agravar, o FMI não previa uma "contaminação" da turbulência financeira da época na economia global. O próprio Simon Johnson usou uma metáfora canina para ilustrar a situação. "Não creio que o "rabo financeiro" consiga balançar o "cachorro econômico'"", disse.
Questionado ontem sobre a atual "tremedeira no cachorro", Simon disse: "Creio que muitos de nós aprenderam bastante, nos últimos meses, sobre cachorros, rabos e suas correlações. O que apresentamos hoje é a melhor visão que conseguimos ter deste momento da economia global".


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