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Emergentes vão puxar crescimento global
DO ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
A economia global em 2008
será marcada por uma importante inversão de papéis entre
os países desenvolvidos e os
emergentes.
No crescimento mundial de
3,7% neste ano, na projeção do
FMI (Fundo Monetário Internacional), haverá uma participação recorde do desempenho
de países como China, Índia,
Rússia e mesmo o Brasil em relação ao de EUA, União Européia e Japão.
Na média geral, enquanto os
países desenvolvidos devem
crescer 1,3% neste ano (menos
da metade do resultado de
2007), os emergentes como um
todo devem alcançar a média
de 6,7% (7,9% no ano passado).
Essa diferença entre o crescimento médio dos 141 emergentes monitorados pelo FMI e
dos 31 países desenvolvidos será, em 2008, a maior já registrada nas estatísticas do relatório
"Panorama da Economia Mundial", que remontam a 1990.
As duas maiores zonas econômicas do mundo, os EUA e
os países que têm o euro como
moeda, devem crescer apenas
0,5% e 1,4%, respectivamente,
em 2008. Já Brasil (4,8%), China (9,3%), Índia (7,9%) e Rússia
(6,8%) deverão se expandir
bem mais.
Não fosse esse passo mais intenso entre os emergentes, que
ganhou ritmo nos últimos cinco anos, a desaceleração de
EUA e países europeus em
2008 teria conseqüências negativas muito maiores para a
economia global.
Juntas, as economias avançadas ainda respondem pela
maior fatia do PIB mundial.
Em 2007, a participação total
dos países desenvolvidos no
PIB global foi de 56,4% (sendo
de 37,5% o peso exclusivo de
EUA e países da zona do euro
somados).
Já a participação dos emergentes atingiu 43,6%, com China (10,8%) e Índia (4,6%) à
frente. O peso brasileiro ficou
em 2,8%.
Pelas projeções do Fundo, a
liderança dos emergentes deve
se repetir em 2009, já que a recuperação da economia norte-americana (que deve atravessar
uma "recessão leve" neste ano)
se consolidaria apenas ao final
do ano que vem.
Recessão e inflação
Isso, se tudo correr como o
previsto, pois o FMI não descarta o risco de a crise nos mercados contaminar mais profundamente o setor produtivo. O
Fundo calcula em 25% a possibilidade de o mundo como um
todo entrar em recessão e crescer abaixo de 3%.
Pior: a expectativa é que a inflação continue a subir em várias partes do mundo, puxada
pelos preços das commodities
agrícolas e do petróleo.
Epicentro da atual crise, no
mercado imobiliário dos EUA,
os preços dos imóveis poderão
sofrer uma nova queda de até
10% em 2008 -em 2007 já
houve igual redução.
"Nos EUA (com peso de
21,4% no PIB global), por trás
do cenário de falta de confiança
no mercado financeiro, esperamos também que o consumo se
mantenha bastante fraco. Isso
combinado a uma deterioração
no mercado de trabalho, baixo
crescimento na renda disponível, preços de energia em alta e
novos apertos nos empréstimos para o setor imobiliário",
afirmou o economista-chefe do
FMI, Simon Johnson.
Nesse cenário, apesar de os
emergentes puxarem a economia global em 2008, eles poderão acabar afetados mais profundamente caso a recuperação dos EUA leve mais tempo.
"Os riscos para a economia
mundial pendem hoje para o lado mais negativo, especialmente se a atual contração no mercado de crédito se transformar
em colapso geral. Os emergentes não estarão fora de perigo
diante de sérios problemas nas
economias desenvolvidas", diz
o FMI.
Previsões erradas
Há um ano, antes de a atual
crise se agravar, o FMI não previa uma "contaminação" da
turbulência financeira da época na economia global. O próprio Simon Johnson usou uma
metáfora canina para ilustrar a
situação. "Não creio que o "rabo
financeiro" consiga balançar o
"cachorro econômico'"", disse.
Questionado ontem sobre a
atual "tremedeira no cachorro", Simon disse: "Creio que
muitos de nós aprenderam bastante, nos últimos meses, sobre
cachorros, rabos e suas correlações. O que apresentamos hoje
é a melhor visão que conseguimos ter deste momento da economia global".
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