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Antes poupados, imóveis de Manhattan começam a perder valor
Enquanto em partes dos EUA preços dão sinais de recuperação, movimento de queda está só começando em Nova York; casas de luxo são as mais atingidas
JOSH BARBANEL
DO "NEW YORK TIMES"
Embora as vendas tenham se
recuperado um pouco em alguns dos mercados de habitação mais abalados do oeste dos
Estados Unidos, criando um
vislumbre de esperança de que
os preços no país possam estar
chegando ao fim da queda, o
mercado imobiliário de Manhattan acaba de começar um
sério declínio, que acompanha
o recuo do setor de serviços financeiros de Nova York. Os
analistas de habitação dizem
que a queda pode persistir por
muito tempo, mesmo depois da
cura dos demais mercados.
Os preços dos apartamentos
voltaram a se tornar o assunto
da cidade em Manhattan, mas
desta vez o tom é de incerteza e
gira em torno da queda dos números. Ainda que os corretores
de imóveis digam estar vendo
mais atividade nos últimos
tempos, especialmente da parte de compradores de primeiro
imóvel interessados em aproveitar os juros baixos, os analistas de habitação estão prevendo uma desaceleração prolongada nos preços e vendas que
pode durar até cinco anos.
No primeiro trimestre deste
ano, as vendas de apartamentos "co-op" (em regime de cooperativa, pelo qual os futuros
moradores adquirem cotas do
edifício para habitarem nele)
em Manhattan caíram quase
60% ante igual período de
2008. Os preços médios desses
apartamentos caíram até 24%
no período, de acordo com diversos relatórios de mercado
divulgados nesta semana.
Os preços das unidades em
condomínios se mantiveram,
até o momento, mas apenas
porque compradores que assinaram contratos muito antes
da crise estavam agora concluindo a aquisição de apartamentos em edifícios em final de
construção. Alguns compradores estão tentando renegociar
contratos, ou renegá-los. Apartamentos em condomínios e
"co-ops", somados, respondem
por 98% dos imóveis residenciais à venda em Manhattan.
O desgaste é mais severo no
limite mais sofisticado do mercado. Existem cerca de 350
apartamentos e casas à venda
em Manhattan cujo preço de
referência supera os US$ 10 milhões (R$ 22 milhões), e esse
estoque cresce. Ao ritmo atual
de vendas, absorver todos esses
imóveis requereria seis anos.
"Nos últimos três anos,
maior era sempre melhor", disse Dolly Lenz, corretora da
imobiliária Prudential Douglas
Elliman. "Agora a chave são
apartamentos menores, de
qualidade e a preços acessíveis.
Antes, ninguém queria saber
quanto custava o condomínio.
Agora todo mundo quer."
Menos hipotecas
Manhattan foi poupada de
alguns dos problemas de habitação que o restante do país teve de enfrentar durante essa
desaceleração. O índice de hipotecas executadas lá continua
baixo. Embora milhares de unidades em novos condomínios
tenham sido construídas na
ilha, a maioria se destinava a
moradores, e não a especuladores, como era comum em Miami e em outros mercados excessivamente saturados.
Mas os preços da moradia em
Manhattan foram propelidos a
uma imensa alta devido aos resultados e bonificações excelentes de Wall Street e caíram
abruptamente quando o jogo
virou no fim do ano passado.
A rápida queda de preços pode ser acompanhada por meio
da experiência da filantropa e
documentarista Abigail Disney, que um ano atrás colocou
seu imenso apartamento de 17
cômodos na West End Avenue
à venda por US$ 13,5 milhões.
Já que os imóveis de luxo vinham atraindo ofertas cada vez
mais altas da parte dos titãs das
finanças, Disney pediu pelo
apartamento 20% a mais do
que havia pago. O cantor e ator
Harry Belafonte criou o imenso
espaço muitos anos atrás ao adquirir dois apartamentos menores e derrubar as paredes
que os separavam.
Depois de uma série de cortes de preços, Disney enfim encontrou compradores para o
imóvel, por pouco menos de
US$ 7,5 milhões, 46% abaixo de
sua pedida inicial. Mas, para fechar o negócio, ela teve de aceitar um acordo sob o qual pagará
pela reconstrução das paredes
de separação, o que transformará o imóvel em dois apartamentos, a serem vendidos para
dois compradores diferentes.
Sufoco no crédito
A despeito dos esforços do
governo para aliviar a situação
do crédito em todo o país, o
mercado de Nova York está
sendo sufocado pela disponibilidade limitada de crédito, especialmente para as hipotecas
conhecidas como "jumbo", ou
de valor superior a US$
729.750. Mais de metade das
vendas de apartamentos em
Manhattan têm valores mais
altos até mesmo que o limite
expandido das hipotecas convencionais, as quais portam taxas de juros mais baixas.
Jonathan Miller, um avaliador de imóveis que produz um
relatório trimestral sobre o
mercado de Manhattan, diz que
a queda continuará pelo resto
deste ano e pelo próximo, especialmente se o crédito continuar difícil. Depois disso, afirmou, eliminar o excedente de
estoque pode demorar anos.
A recuperação do setor de
habitação também dependerá
do estado da economia, e muitos analistas consideram que a
cidade de Nova York pagará um
preço desproporcional até que
a recessão se encerre. Em Nova
York, o setor financeiro responde por mais de 30% dos salários totais e por pelo menos
parte da renda em metade dos
domicílios de renda muito elevada, de acordo com a controladoria municipal das finanças.
Embora o índice de emprego
tenha caído no país no ano passado, na verdade cresceu em
Nova York, até setembro. Desde então, a cidade perdeu quase
85 mil empregos, até o fim de
janeiro, e a controladoria municipal prevê a perda de 121 mil
em 2009 e 83 mil em 2010.
Os condomínios em construção sofreram um baque especialmente forte, porque as novas regras hipotecárias dificultam aos compradores obter
empréstimos convencionais a
menos que 70% das unidades
do edifício estejam vendidas.
Mudança de projetos
Isso fez com que muitos incorporadores tivessem de correr para alterar projetos de modo a transformar condomínios
em imóveis para locação, ou a
encontrar fontes alternativas
de financiamento.
Na John Street, região sul de
Manhattan, a Rockrose Development está convertendo um
edifício Art Déco de 27 andares
construído antes da Segunda
Guerra Mundial em um condomínio com centenas de unidades; a Rockrose ofereceu um
sistema que se resume em "alugue para comprar" e prometeu
que recompraria os apartamentos adquiridos em prazo de
cinco anos e por 110% do valor
da compra. A incorporadora
também começou a oferecer
unidades em lotes de 15 apartamentos a investidores.
No fim dos anos 80, uma onda de construção de condomínios residenciais em Nova York
levou a um excedente de oferta
nessa categoria. Os preços atingiram um pico em 1989, caíram
muito em 1991, chegaram ao
ponto mais baixo em 1993 e se
estabilizaram em 1995 e 1996.
Shaun Osher, presidente-executivo do Core Group Marketing, disse que nas últimas
semanas começou a ver mais
atividade, ainda que a preços
muito mais baixos, com redução de até 40% nos preços dos
apartamentos de luxo.
Miller diz que durante a última grande crise dos imóveis na
ilha, quando os apartamentos
menores ficaram tão baratos
que ele chegou a considerar a
hipótese de comprar um deles
pagando com o cartão de crédito, as pessoas imaginavam que
o mercado de imóveis de luxo
jamais se recuperaria. Mas o
mercado voltou.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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