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Manobra contábil "reduziu" dívida dos bancos em 42%
Estratégia foi utilizada até por grandes instituições nos EUA, como Citigroup, Bank of America e JPMorgan Chase
Segundo o Fed, prática vem sendo adotada nos últimos 5 trimestres; governo Obama ainda não conseguiu impor medidas para controlar setor
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Novos dados que acabam de
vir a público revelam que os
principais bancos norte-americanos continuam "torturando"
números e resultados a fim de
passar a impressão ao mercado
de estarem mais saudáveis do
que de fato estão.
Segundo informação divulgada pelo Fed (o banco central
regional) de Nova York, 18 bancos norte-americanos vêm inchando e desinchando sistematicamente os números relativos
ao seu endividamento nos últimos cinco trimestres com esse
objetivo.
Ao final de cada trimestre, os
bancos são obrigados a apresentar balanços completos. O
levantamento do Fed mostra
que, pouco antes de apresentarem os números ao mercado,
eles adotaram práticas contábeis legais que diminuíram em
42%, em média, seu nível de endividamento.
Logo depois da publicação
dos balanços, o volume de dívidas voltou a subir.
A estratégia foi adotada por
três dos maiores bancos norte-americanos (Citigroup, Bank of
America e JPMorgan Chase),
além de outros que estiveram
no centro da crise financeira do
final de 2008 e ao longo de
2009, como Goldman Sachs e
Morgan Stanley.
Na prática, a redução do endividamento no momento da
apresentação do balanço faz
com que o banco pareça mais
sólido do que realmente está.
O alto grau de endividamento bancário nos EUA foi o que
detonou a maior recessão do
pós Segunda Guerra na maior
economia do mundo e nos países avançados a partir de 2008.
Muitos bancos norte-americanos chegaram a emprestar
até US$ 35 para cada US$ 1 que
tinham em ativos. A maioria
dos empréstimos foi destinada
ao mercado imobiliário, que vivia uma "bolha" de crédito.
Em um determinado momento, os mutuários começaram a ter dificuldades em honrar suas dívidas, o que abriu
rombos enormes nas carteiras
dos bancos.
Segundo dados do IIF, entidade que reúne os maiores bancos do mundo, até agora a
maioria das instituições ainda
não conseguiu levantar capital
suficiente para cobrir as perdas
acumuladas ou potenciais resultantes da crise.
Desta vez, a prática mais comum (e potencialmente danosa) detectada pelo Fed é a de os
bancos se endividarem além da
conta para aumentar seu poder
de fogo. Os bancos usam dinheiro tomado em empréstimos no mercado para investir
em títulos e papéis que os remuneram mais do que eles pagam pelos créditos. Esses títulos comprados são então dados
em garantia para que os bancos
tomem novos empréstimos para comprar mais e mais títulos.
Assim, os bancos podem aumentar rapidamente o volume
de operações e ganhos sem colocar necessariamente dinheiro próprio nas operações. O risco é de os donos de parte desses
títulos entrar em crise e deixar
de remunerá-los, o que pode
ter forte impacto sobre toda essa cadeia de dívidas -como
aconteceu no setor imobiliário.
Mas, do ponto de vista dos
negócios mais tradicionais dos
bancos, de tomar dinheiro no
mercado e emprestar a empresas, o volume de operações continua ainda bem abaixo em relação ao final de 2008.
O governo Barack Obama
vem perseguindo uma série de
medidas para impedir práticas
como a detectada pelo Fed de
Nova York, bem como impedir
que os bancos ofereçam compensações milionárias a seus
funcionários -o que acaba sendo um estímulo para que assumam riscos elevados.
Na prática, porém, nada nesse sentido foi adotado até agora. E os bancos vêm patrocinando um poderoso lobby no
Congresso para impedir que as
medidas entrem em prática.
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