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RECEITA ORTODOXA
Para o vice-diretor Charles Collyns, aceitar taxa de inflação um pouco mais alta só traria incertezas ao mercado
Meta maior reduz credibilidade do BC, diz FMI
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Tolerar inflação um pouco mais
alta para obter crescimento econômico maior poderia minar a
credibilidade do Banco Central
no combate ao aumento de preços, na avaliação de um dos responsáveis no FMI (Fundo Monetário Internacional) para acompanhar o Brasil, Charles Collyns.
"O aspecto mais importante da
política monetária é que o compromisso antiinflacionário do
Banco Central tenha credibilidade total. Qualquer coisa que possa
minar a credibilidade do compromisso do BC tende a aumentar as
incertezas nos mercados financeiros sobre o curso futuro da inflação, o que colocaria pressões altistas nas taxas de juros", disse
Collyns à Folha, por e-mail.
Tem havido um forte debate no
governo sobre a viabilidade de o
BC perseguir meta de inflação
mais alta nos próximos anos de
modo a abrir espaço para uma
política monetária mais frouxa.
Ou seja, ao ser mais complacente
com o aumento de preços, o BC
poderia reduzir mais rapidamente os juros, o que contribuiria, em
tese, para um crescimento mais
forte da economia.
Para Collyns, vice-diretor do
FMI para o Hemisfério Ocidental
(região que inclui a América do
Sul), uma vez perdida a credibilidade, qualquer tentativa mais
agressiva do BC de relaxar a política monetária seria "provavelmente contraproducente, resultando em inflação mais alta, menor crescimento econômico e um
impacto negativo na pobreza".
Collyns se referiu ao papel dos
bancos centrais como um todo,
de forma generalizada. Mas ressaltou que, para o caso brasileiro,
"especificamente, vale a pena notar que as taxas de juros reais já estão em níveis historicamente baixos". "A manutenção da política
fiscal forte vai ajudar a trazê-las
[as taxas reais de juros] mais para
baixo futuramente", completou.
Incertezas
"Está bem entendido hoje que
trazer a inflação para baixo é muito positivo para o crescimento da
economia no longo prazo. Inflação baixa reduz incertezas e permite que os sinais de preços trabalhem bem numa economia de
mercado", completou Collyns.
Ele destacou ainda que a inflação baixa contribui para evitar a
necessidade de movimentos
bruscos no câmbio. Em um cenário de alta de preços, apreciações
da moeda ajudam a controlar a
inflação, pois tornam os produtos
importados mais baratos. "Como
o próprio presidente Lula já destacou, inflação baixa é bom também para as pessoas pobres, as
quais não se encontram numa posição favorável para se proteger
do impacto da inflação", disse.
Collyns concorda com a idéia
do governo brasileiro de que projetos públicos de infra-estrutura
são importantes para o crescimento econômico sustentado.
Lembrou que a diretoria do FMI
aceitou iniciar, com governos interessados, estudos para projetos
pilotos que terão como objetivo
excluir investimentos públicos
em infra-estrutura considerados
produtivos dos cálculos do superávit primário (economia de receita para pagar juros da dívida).
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