São Paulo, segunda-feira, 10 de maio de 2004

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RECEITA ORTODOXA

Para o vice-diretor Charles Collyns, aceitar taxa de inflação um pouco mais alta só traria incertezas ao mercado

Meta maior reduz credibilidade do BC, diz FMI

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Tolerar inflação um pouco mais alta para obter crescimento econômico maior poderia minar a credibilidade do Banco Central no combate ao aumento de preços, na avaliação de um dos responsáveis no FMI (Fundo Monetário Internacional) para acompanhar o Brasil, Charles Collyns.
"O aspecto mais importante da política monetária é que o compromisso antiinflacionário do Banco Central tenha credibilidade total. Qualquer coisa que possa minar a credibilidade do compromisso do BC tende a aumentar as incertezas nos mercados financeiros sobre o curso futuro da inflação, o que colocaria pressões altistas nas taxas de juros", disse Collyns à Folha, por e-mail.
Tem havido um forte debate no governo sobre a viabilidade de o BC perseguir meta de inflação mais alta nos próximos anos de modo a abrir espaço para uma política monetária mais frouxa. Ou seja, ao ser mais complacente com o aumento de preços, o BC poderia reduzir mais rapidamente os juros, o que contribuiria, em tese, para um crescimento mais forte da economia.
Para Collyns, vice-diretor do FMI para o Hemisfério Ocidental (região que inclui a América do Sul), uma vez perdida a credibilidade, qualquer tentativa mais agressiva do BC de relaxar a política monetária seria "provavelmente contraproducente, resultando em inflação mais alta, menor crescimento econômico e um impacto negativo na pobreza".
Collyns se referiu ao papel dos bancos centrais como um todo, de forma generalizada. Mas ressaltou que, para o caso brasileiro, "especificamente, vale a pena notar que as taxas de juros reais já estão em níveis historicamente baixos". "A manutenção da política fiscal forte vai ajudar a trazê-las [as taxas reais de juros] mais para baixo futuramente", completou.

Incertezas
"Está bem entendido hoje que trazer a inflação para baixo é muito positivo para o crescimento da economia no longo prazo. Inflação baixa reduz incertezas e permite que os sinais de preços trabalhem bem numa economia de mercado", completou Collyns.
Ele destacou ainda que a inflação baixa contribui para evitar a necessidade de movimentos bruscos no câmbio. Em um cenário de alta de preços, apreciações da moeda ajudam a controlar a inflação, pois tornam os produtos importados mais baratos. "Como o próprio presidente Lula já destacou, inflação baixa é bom também para as pessoas pobres, as quais não se encontram numa posição favorável para se proteger do impacto da inflação", disse.
Collyns concorda com a idéia do governo brasileiro de que projetos públicos de infra-estrutura são importantes para o crescimento econômico sustentado. Lembrou que a diretoria do FMI aceitou iniciar, com governos interessados, estudos para projetos pilotos que terão como objetivo excluir investimentos públicos em infra-estrutura considerados produtivos dos cálculos do superávit primário (economia de receita para pagar juros da dívida).


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