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LUÍS NASSIF
A lógica tributária
da venda do Pactual
De acordo com as últimas
informações, o UBS pagou
pelos 100% da operação do Banco Pactual no Brasil US$ 1 bilhão à vista, mais US$ 1,6 bilhão
a serem pagos em cinco anos
-portanto, US$ 2,6 bilhões.
Alem disso, o UBS permitiu
que os sócios retirassem o equivalente a US$ 800 milhões em
capital escondido na POBT, a
operação do Pactual nas Bahamas. Portanto o valor total da
transação chega perto de US$
3,5 bilhões. Como o capital do
Pactual no Brasil (a única entidade que a UBS alega ter comprado) fica em torno de US$ 300
milhões, existe um lucro tributável de mais de US$ 3 bilhões.
Se a transação fosse totalmente transparente e todos os sócios
vendessem na pessoa física -o
que não parece ser o caso, já que
existe uma teia de "offshores"-
, deveriam pagar uma tributação de 15% sobre o ganho de capital, ou seja, algo em torno de
US$ 450 milhões.
Como claramente não está tudo na pessoa física e existe um
emaranhado de holdings e fundações, no Brasil e em "offshores", o lucro sobre ganho de capital para empresas deveria ser
de 34%, já que grande parte
desses lucros deveria ser tributada como renda. Portanto existe
um contingente de impostos que
vai de US$ 450 milhões a US$
918 milhões. Colocando em cima disso multas que deveriam
ser recolhidas aos cofres públicos, pode-se chegar a um número nunca inferior a US$ 1 bilhão.
Existe uma garantia dos sócios vendedores para cobrir
uma parte dos eventuais passivos tributários. O pagamento do
US$ 1,6 bilhão nos próximos
anos também está condicionado a esses contingentes fiscais.
Pela primeira vez, a transação
coloca números objetivos, tangíveis, em algo que até então podia não ser perfeitamente mensurado, que eram as operações
do Pactual. Agora, é tratar de
acompanhar o que as autoridades farão. Não dá para alegar
que não tem jurisdição sobre
paraísos fiscais, como as Bahamas. Ontem, praticamente todos os jornais abordaram abertamente o dinheiro "offshore"
dos sócios do Pactual.
Há uma série de instrumentos
que são usados por auditores e
contadores para verificar se as
receitas foram geradas e alocadas corretamente nas praças em
que se encontram seus recursos
geradores. Os próprios auditores da POBT colocaram uma
ressalva ao dizer que o banco
das Bahamas não era capaz de
gerar resultados sem o Banco
Pactual no Brasil.
Havendo vontade política,
existe uma forma jurídica de as
autoridades brasileiras fecharem o cerco e melhorarem o superávit fiscal de maneira justa.
A transação requer aprovação
do Banco Central do Brasil. Em
2000, o BC requereu uma consolidação das atividades do Pactual com o POBT, para a qual
obteve uma resposta formal.
Depois disso, o BC jamais se
manifestou. Mas pode se manifestar agora, requerendo de ambas as partes, compradores e
vendedores, representações e
garantias sobre os impostos devidos resultantes dessa consolidação.
De qualquer maneira, isso encerra o assunto. Há dois grandes números: o capital do banco
no Brasil, de US$ 300 milhões, e
preço de venda, acima de US$ 3
bilhões. Esses números são públicos. A diferença entre eles é
lucro tributável.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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