São Paulo, Segunda-feira, 10 de Maio de 1999
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INFLAÇÃO
Chegada do inverno, reajuste de matérias-primas têxteis importadas e aumento do consumo na Ásia favorecem a alta, afirmam analistas
Preços das roupas tendem a subir até julho

Lili Martins/Folha Imagem
Peças expostas em lojas de shoppings em SP; preços de roupas devem continuar subindo pelo menos até o mês de julho


FÁTIMA FERNANDES
da Reportagem Local

Os preços das roupas devem continuar subindo pelo menos até julho, considerado o pico do inverno, seguindo tendência contrária à da inflação média, que é de queda.
A proximidade do inverno, os reajustes das matérias-primas têxteis em razão da alta do dólar e a retomada do consumo nos países asiáticos favorecem os aumentos de preços, segundo Fábio Silveira, analista setorial da consultoria Tendências.
O algodão, que representa cerca de 60% da matéria-prima consumida pela indústria têxtil, está mais caro do que há quatros meses. "Mesmo que o preço do insumo não se altere no mercado internacional, o Brasil tem de desembolsar mais reais para importar os mesmos volumes", diz ele.
Para Silveira, o preço do algodão atingiu o fundo do poço ou a cotação mais baixa no último trimestre do ano passado e no primeiro trimestre deste ano. A tendência, diz, é de os preços subirem com "impacto suave" na inflação no Brasil.
Outros dois fatores que pesam para o aumento no preço das roupas, diz, são a recuperação do consumo na Ásia e a diminuição de 25% na safra de algodão dos Estados Unidos, grande produtor.
Os artigos sintéticos, na análise de Silveira, também vão ficar mais caros. "A recuperação da economia dos países asiáticos abre espaço para aumentos de preços das fibras sintéticas, à base de petróleo."
Até julho, prevê, os preços das roupas sobem a ponto de a variação acumulada em 12 meses passar a ser positiva. Mas, ainda assim, diz Silveira, os aumentos ficarão abaixo da inflação geral.
O último levantamento de preços divulgado pela Fipe mostra que no acumulado do últimos 12 meses, terminado em abril, os preços das confecções caíram 3,79%. No mesmo período, a inflação geral foi de 0,66%. Desde o início do real até o mês passado, os preços das roupas caíram 11%. A inflação no período foi de 70%.
Dá para mostrar o que aconteceu na prática com os preços das roupas tomando como exemplo o preço de uma camiseta feminina que custava R$ 10 em julho de 94.
Se tivesse acompanhado a inflação no período, essa camiseta deveria custar em abril R$ 17. Só que, pelo levantamento da Fipe, o preço desse artigo caiu 33,7% no período. Passou a custar, portanto, R$ 6,70.
"Vai haver recuperação nos preços das roupas nos próximos meses, mas no acumulado dos últimos 12 meses, até dezembro de 99, os aumentos vão ficar abaixo do índice geral da inflação no período por conta das quedas registradas."
Para Heron do Carmo, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor da Fipe, o pico dos aumentos de preços do vestuário vai ocorrer neste mês, puxado pelo Dia das Mães. "Depois a pressão será menor."
Nabil Sahyoun, presidente da Alshop, associação que reúne os lojistas de shoppings, diz que as roupas estão custando "um pouco mais em maio" em razão da alta do dólar. "Essa não é uma tendência."
"Nossas roupas de inverno custam o mesmo do que no ano passado", diz Paulo Humberg, superintendente de marketing da Lojas Americanas. Segundo ele, em 98 as lojas estavam abastecidas de roupas de inverno importadas. "Este ano, para não aumentar preços, essas peças foram substituídas por nacionais."
A artista plástica Cristina Sá, que, na tarde de sexta-feira, estava na loja Le Lis Blanc, do shopping Iguatemi, escolhendo presente para a mãe, diz que os preços das roupas de inverno estão parecidos com os do ano passado.
"Só que, quando comparamos com os Estados Unidos, os preços das roupas no Brasil continuam bem mais caros." Cristina vai ao exterior três a quatro vezes por ano e compra a maioria das roupas fora do país.
Cecília Tuneu, 20, que trabalha numa corretora de valores, também acha que as roupas no Brasil são caras. "Não é muito pagar R$ 70 por uma calça?", pergunta Cecília, que também estava à procura na mesma loja por um presente.
Os preços não mudaram, mas o consumidor perdeu poder de compra, afirma Luzenilda Figueiredo, gerente da loja Meia de Seda do shopping West Plaza.
Segundo ela, as lingeries e meias estão custando o mesmo do que há um ano. A competição entre os fabricantes de lingeries está acirrada, diz ela. "Eles não conseguem aumentar preços."
Na Practory, confecção de roupa feminina no West Plaza, os preços também não mudaram, informa Renata Moreira Franco, gerente.


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