São Paulo, domingo, 10 de junho de 2001

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Para diretor do Iedi, abertura não é garantia de desenvolvimento

DA REPORTAGEM LOCAL

Os resultados da pesquisa Datafolha surpreenderam o diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), Julio Sérgio Gomes de Almeida. "A hipótese de que o livre comércio traz sempre resultados positivos acabou sendo ideologizada e aceita. Mas não há evidência de que a abertura comercial promova desenvolvimento."
Para o diretor do Iedi, são poucas as afirmações que podem ser feitas a respeito dos efeitos da entrada do Brasil na Alca. "Por enquanto, tudo depende de como serão as negociações."
Na avaliação de Almeida, o Brasil enfrentará dois grandes problemas para conseguir condições para que a Alca tenha efeitos positivos: a competitividade da economia brasileira e o poder de negociação com os EUA.
"No campo da competitividade, não há nenhuma preparação, não existe uma política organizada para preparar a indústria para a abertura", diz.
Com relação à disposição dos EUA de negociar mais que uma queda de tarifas, o diretor-executivo do Iedi é cético. "A postura que os EUA tiveram até agora é a de querer empurrar um acordo pela goela dos seus supostos parceiros."

Sem interesse
Para Almeida, uma negociação apenas para queda de tarifas não interessa ao Brasil. "As tarifas nos EUA já são baixas. O problema são as barreiras não-tarifárias, as leis antidumping e a política agrícola. Se não houver nenhum interesse dos EUA em negociar esses pontos, não há motivo para o Brasil entrar na Alca."
A tarifa média de exportação dos EUA, segundo os cálculos de Almeida, é de 4,8%. A tarifa média no Brasil fica em 13%. "Ou seja, para os EUA é mais fácil e indolor zerar suas tarifas. Se a negociação da Alca só se resumir a isso, não será boa para o Brasil."
O diretor-executivo do Iedi argumenta também que o Brasil não deveria abrir mão da diversificação de sua pauta de exportações. Hoje, cerca de um terço das exportações brasileiras vão para os EUA, um terço vai para a Europa e o mesmo volume para países do Mercosul.
"Não faz sentido nos tornarmos mais dependentes do mercado norte-americano desse ponto de vista", avalia.
Segundo Almeida, uma das prioridades dos negociadores brasileiros será garantir que a entrada na Alca resulte em melhoria das contas externas brasileiras. "Se não pudermos exportar mais, se o resultado nas contas externas, cujo desequilíbrio é um grande problema para nossa economia, piorar, é melhor não aceitar o acordo."



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