São Paulo, Quinta-feira, 10 de Junho de 1999
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EMPREGO FORMAL
52% das vagas foram fechadas entre setembro de 98 e fevereiro de 99; cortes foram maiores no interior
País perde 1,5 milhão de postos desde 95

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
da Reportagem Local

Desde a primeira posse do presidente Fernando Henrique Cardoso, em janeiro de 1995, o Brasil perdeu 1,454 milhão de empregos formais. E a tendência está se agravado: 52% dessas vagas foram fechadas entre setembro de 1998 e fevereiro passado.
Contrariando a versão oficial, os dados mostram que a maior parte das vagas eliminadas nesses seis meses estava no interior do país: só 248 mil dos postos de trabalho perdidos eram de áreas metropolitanas -os outros 67,5% estavam em cidades de menor porte.
A divisão por grandes áreas da economia revela que, embora a maior fatia do total de empregos eliminados esteja na indústria (31%), também houve perdas importantes nos setores de serviços (21%), construção civil (19%) e agricultura (16%).
As estatísticas são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego. Elas se referem apenas às contratações e demissões da economia formal.
O ano de 1998 foi o mais grave, até agora, do ponto de vista do emprego formal no governo FHC. Foram cortados 582 mil postos de trabalho, principalmente no segundo semestre.
Por coincidência, isso começou depois que o então candidato à reeleição adotou um discurso de campanha no qual dizia que quem venceu a inflação também iria vencer o desemprego. Até agosto de 1998, o saldo de postos de trabalho no ano havia sido positivo.
Na época, FHC era obrigado a lidar com as consequências da crise econômica mundial, que ameaçava colocar o Brasil como bola da vez. Isso se concretizou em janeiro, com a desvalorização do real e o aprofundamento da recessão.
Por conta disso, 1999 começou ainda pior do que os outros anos. Só nos dois primeiros meses do ano foram eliminadas 119 mil vagas formais. É um resultado mais negativo do que o verificado nos primeiros bimestres de 1998 (-107 mil vagas) e 1997 (-37 mil vagas).
Para o economista Marcio Pochmann (especialista em emprego da Unicamp), a perda desses postos de trabalho tem pouca relação com o impacto das novas tecnologias. Os cortes ocorridos em dezembro passado, na sua opinião, refletem a maior queda do nível de atividade no segundo semestre de 1998.
"Como se referem ao setor formal, essas demissões têm custo para as empresas", dia Pochmann. Portanto, se os empregadores continuam demitindo é sinal de que prevêem uma continuidade da crise no próximo período.
São Paulo foi o Estado mais afetado: perdeu 358 mil empregos formais entre setembro e fevereiro (ou 47% do total do país). Mas, contrariando a versão de que o desemprego é um problema da capital, dois terços das vagas cortadas estavam no interior do Estado.
Os primeiros efeitos da desaceleração da economia se manifestam na indústria, o que explica a maior concentração de demissões em Estados industrializados, como São Paulo, Minas Gerais (-150 mil vagas fechadas) e Paraná (-66 mil).
Já os cortes na construção civil podem estar ligados à perda de renda (que limita as pequenas reformas e construções) e ao período pós-eleitoral (que desacelera as obras públicas).
A eliminação de vagas na agricultura pode estar relacionada ao período de plantio, que emprega menos pessoas do que o da colheita.
"O primeiro trimestre de 1999 foi relativamente melhor do que as previsões dos economistas, mas até agora isso não se refletiu no emprego. A desvalorização do real poderia ter um impacto positivo sobre as exportações e o emprego, mas desde que houvesse uma política de substituição de importações", diz Pochmann.


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