São Paulo, Quinta-feira, 10 de Junho de 1999
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TELEFONIA
Dieese calcula que 20,5% dos empregos que havia na Telebrás desapareceram; empresas alegam modernização
Privatização das teles extingue 18 mil vagas

FERNANDO GODINHO
da Sucursal de Brasília

A privatização do Sistema Telebrás, que aconteceu em julho do ano passado, provocou o desaparecimento de 17.968 empregos no setor de telefonia do país.
Isso representa uma redução de 20,52% no número de empregos que havia na Telebrás antes de sua venda.
Os números foram calculados pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) a partir das demissões homologadas nos sindicatos entre agosto de 98 e maio de 99.
O levantamento inclui as quatro holdings de telefonia fixa, as oito holdings de telefonia celular e a própria holding controladora do Sistema Telebrás, que continuou existindo após a venda da estatal para a iniciativa privada.
O desemprego provocado pela privatização do serviço de telefonia pode ser maior que o registrado pelo Dieese, pois o levantamento não registra as demissões homologadas nas delegacias regionais do Trabalho.

Novos serviços
As empresas consultadas pela Folha argumentam que as demissões realizadas serviram para modernizar suas estruturas operacionais e estão sendo compensadas pela contratação de serviços terceirizados e pela admissão de novos funcionários nas áreas comercial e de atendimento ao usuário.
Antes da privatização da Telebrás, o governo anunciou que a venda das empresas criaria 100 mil empregos diretos e 1,5 milhão de empregos indiretos.

Concentração
As demissões catalogadas pelo Dieese estão concentradas nas quatro holdings de telefonia fixa (Tele Norte Leste, Tele Centro Sul, Telefônica e Embratel) e ocorreram, principalmente, por meio de programas de desligamento incentivado.
Segundo o estudo do Dieese, nessas quatro empresas ocorreram 14.700 demissões (ou 81,8% das dispensas catalogadas).

Tele Norte Leste
Entre elas, o maior volume de demissões ocorreu na Tele Norte Leste (7.395 dispensas), holding que está em 16 Estados do país (entre eles Rio de Janeiro, Minas Gerais e todos os da região Nordeste) e registrou um lucro líquido de R$ 176 milhões no ano passado. Procurada pela Folha, a empresa não quis comentar o estudo do Dieese.
Na Telefônica, foram extintos 3.801 empregos -ou 15,57% do número de funcionários que havia antes da privatização.
O diretor de Recursos Humanos da Telefônica, José Carlos Misiara, disse que as demissões foram feitas por meio de programas de dispensa incentivada e atingiram, principalmente, funcionários que já podiam se aposentar.
Paralelamente, a Telefônica criou uma subsidiária para fazer o atendimento dos usuários que já admitiu cerca de 2.000 pessoas, sendo que a operadora criou 5.500 novos empregos terceirizados entre novembro de 98 e março de 99.
"Mais de 80% do pessoal que saiu podia se aposentar. As demissões renovaram a empresa e permitiram que funcionários mais jovens fossem promovidos. As estatais tinham uma população envelhecida", disse o diretor da Telefônica.

Tele Centro Sul
Na segunda-feira, a Tele Centro Sul anunciou a demissão de 1.300 empregos (sendo que outros 1.128 saíram antes por meio de um programa de demissões voluntárias).
Até agora, a empresa reduziu em 24,76% seu quadro de pessoal, segundo o Dieese. De acordo com a Tele Centro Sul, cerca de 400 vagas terceirizadas foram criadas para as áreas comercial e de atendimento ao usuário.

Embratel
Na Embratel, as demissões totalizaram 1.500 pessoas (uma redução de 15,43%). "Já contratamos 500 novos funcionários após a privatização, e outros 250 serão contratados até o final do ano", informou o chefe do Departamento de Recursos Humanos da empresa, Joaquim de Souza Correia.


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