São Paulo, sábado, 10 de julho de 2004

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PRESSÃO

Inflação medida pelo IPCA acelera e atinge 0,71% em junho, puxada por reajustes dos combustíveis e dos alimentos

Preços registram maior alta desde janeiro

ANA PAULA GRABOIS
DA FOLHA ONLINE, NO RIO

O aumento dos combustíveis e dos alimentos provocou aceleração da inflação em junho. O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) subiu para 0,71%, após alta de 0,51% em maio, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Embora já esperada pelo mercado, a taxa foi a maior desde janeiro, quando ficou em 0,76%. Com o resultado de junho, o IPCA acumulado em 12 meses ficou em 6,06%, acima do centro da meta de inflação para este ano, de 5,5%, fixada pelo governo federal.
O reajuste da gasolina nas refinarias da Petrobras, de 10,8%, foi o fator que mais contribuiu para o aumento do índice. Em vigor desde 15 de junho, o aumento deixou o preço da gasolina nos postos 3,52% mais alto no mês passado. O álcool foi o segundo item que mais pesou na inflação. Devido à alta da cotação da cana-de-açúcar, teve aumento de 11,35%.
Os alimentos, cuja produção foi prejudicada pelo frio, registraram inflação de 0,72%, após uma alta de 0,23% em maio. Entre os maiores aumentos, destacam-se os da cebola (29,21%), do tomate (28,43%) e das hortaliças (6,34%).
Somente os grupos transportes (que inclui a gasolina) e alimentos corresponderam a 70% da inflação de junho. Para a gerente do Sistema de Índices de Preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, houve um propagação maior da inflação entre os itens abrangidos pelo índice. Segundo ela, tal movimento não é preocupante. "Essa inflação não se mostra como um início de um ciclo de altas", disse.

Preços administrados
Para o economista da consultoria Global Invest Paulo Gomes, na melhor das hipóteses o IPCA deste ano deve fechar em 6,5%.
"A inflação continua preocupando e subindo", disse. Além do reajuste de tarifas em julho e agosto, Gomes prevê que o reaquecimento econômico vá provocar uma pressão sobre os preços no último trimestre deste ano.
Já o economista do Grupo de Conjuntura da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Carlos Thadeu de Freitas não descarta um descumprimento da meta, no caso de os preços do petróleo e de outras commodities não cederem no mercado internacional. "O centro da meta não vai ser cumprido porque os preços administrados variam muito e não deixam espaço aos preços livres. É a armadilha da indexação", disse.
Alexandre Sant'Anna, economista da administradora de recursos ARX Capital, prevê uma parada no corte dos juros pelo governo até o final do ano.
"Chegamos a um patamar alto de inflação, e fica muito difícil o Banco Central cortar os juros."

Pressões
Para o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), vinculado ao Ministério do Planejamento, a retomada da consumo interno e as pressões das tarifas em julho e agosto recomendam cuidado ao BC no corte da taxa de juros, atualmente em 16% ao ano. Segundo nota da área de conjuntura do Ipea, "a manutenção de uma política monetária cautelosa parece ser a política mais apropriada no futuro imediato".
A inflação de julho sofrerá impacto dos reajustes dos planos de saúde, da telefonia fixa e da energia elétrica em São Paulo e em Curitiba. A maior parte das tarifas é indexada pelos índices gerais de preços da FGV (Fundação Getúlio Vargas), mais sensíveis do que o IPCA às oscilações das cotações do câmbio e das commodities.


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