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LUÍS NASSIF
Crise e transformações
Jorge Frederico Gerdau está
exultante com a crise. Com
ele, mais alguns brasileiros. Não
que torçam pela crise em si ou
pela desestabilização do governo, mas pelas possibilidades que
abre. O Brasil só é movido a crises. E, graças a ela, uma luta de
15 anos, vitoriosa no setor privado, começa a se tornar bandeira
nacional: a bandeira da qualidade e do "choque de gestão".
O movimento pela qualidade
mudou a face do setor privado
no país, transformando as grandes empresas brasileiras, de paquidermes ninados na reserva
de mercado, em modelos mundiais de gestão. Faltava o setor
público.
Na semana passada foi a vez
da Prefeitura do Município de
São Paulo, comandada por José
Serra, acertar um convênio com
o Movimento Brasil Competitivo (MBC), uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) financiada por
grandes empresários para levar
gestão ao setor público.
Finalmente, dias atrás houve
uma reunião do presidente da
República, Luiz Inácio Lula da
Silva, do ministro da Fazenda,
Antonio Palocci Filho, e da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, com empresários
do MBC.
A política nacional e o governo federal se renderam a uma
bandeira óbvia, que estava solta
há muitos anos. São 15 anos
martelando o ferro frio. Nesse
período, o único presidente a
perceber o potencial de transformação da gestão foi Fernando
Collor, que deu gás ao Programa Brasileiro de Qualidade e
Produtividade.
No governo Fernando Henrique Cardoso, o tema sensibilizou o então chefe da Casa Civil,
Clóvis Carvalho, e o ministro da
Administração, Luiz Carlos
Bresser Pereira, mas jamais se
transformou em bandeira de
governo.
Virou um prêmio de qualidade do setor público que, nos estertores do governo FHC, transformou-se no MBC, por meio do
qual um grupo de empresários
de ponta faz doações, vinculadas para investimentos em tecnologia de gestão, destinadas a
melhorar a administração pública. Depois, se vai buscar parceria no setor público. Já foram
fechados convênios com os ministérios do Exército e do Desenvolvimento Social.
Agora, o tema entrou definitivamente no discurso político geral. Nos próximos dias, terá início o maior dos desafios, o da reforma gerencial da Previdência
Social. O setor privado já iniciou
a captação de recursos para
bancar a consultoria. Lula garantiu a escolha de um executivo profissional para dirigir a
pasta. Os diagnósticos iniciais
indicaram uma possibilidade de
economia anual da ordem de
R$ 30 bilhões a R$ 50 bilhões,
apenas tapando os vazamentos
do sistema.
Se o grupo quiser acelerar ainda mais o ajuste, aliás, seria
conveniente convocar o Banco
do Brasil. Hoje em dia é possível
a qualquer pessoa saber seu saldo de qualquer lugar, por meio
da internet. Nos próximos dias,
essa tecnologia estará disponível em telefones celulares.
Espelho
O sistema de pagamentos da
Previdência é um espelho dos
procedimentos bancários. O
conceito de atendimento é o
mesmo. Os bancos já possuem
processos bem ajustados, já desenvolveram tecnologias de segurança para evitar fraudes,
diariamente estão pagando cheques depositados, faturas de
cartão de crédito. Aliás, muito
mais fácil do que um sistema
bancário, porque a Previdência
apenas arrecada e paga, sem ter
riscos de crédito.
Com o redesenho de processos
por parte dos consultores, com a
parceria com os bancos públicos, será possível reduzir as
fraudes da Previdência em pouquíssimo tempo.
Dispondo de um sistema integrado de atendimento, fornecido pelo Banco do Brasil, nada
impedirá que, além da rede própria, o INSS possa ter postos de
atendimento em lotéricas e em
outras redes de correspondentes
bancários.
Essa possibilidade existia há
tempos. Jamais foi implementada porque o aumento da fiscalização dos repasses não interessava a muitos. Assim, as fiscalizações restringiam-se a recadastramentos humilhantes que, em
pouco tempo, perdiam valor.
Agora, esses novos valores vieram para ficar, seja qual for o
governo ou o próximo presidente.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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