|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ENTREVISTA
Segundo o economista Thomas Siems, do Fed, maior velocidade das informações diminui os efeitos dos ataques
Integração dos mercados atenua terrorismo
CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL
A maior velocidade e o maior
grau de integração entre os mercados financeiros mundiais são
comumente apontados como os
principais responsáveis pelo efeito dominó gerado pelas grandes
crises globais.
Para Thomas Siems, economista sênior do Federal Reserve de
Dallas (sucursal do Federal Reserve, banco central dos Estados
Unidos), entretanto, é essa maior
rapidez de comunicação entre os
mercados que pode blindar as
economias mundiais contra os
desdobramentos econômicos negativos de um ataque terrorista,
como os que ocorreram na quinta-feira em Londres.
Em artigo publicado recentemente, o economista, ao lado do
seu colega Andrew H. Chen, traçou uma série histórica dos principais atentados militares ou terroristas da história e o seu impacto no desempenho do principal
índice da Bolsa de Nova York, o
Dow Jones.
A conclusão dos autores é que
hoje, após os ataques ao World
Trade Center, em 2001, os mercados parecem sofrer conseqüências apenas transitórias. O motivo: a mesma velocidade da informação que serve para divulgar as
notícias ruins também serve para
apaziguar o ânimo dos mercados
ao divulgar informações precisas
sobre a extensão e a gravidade dos
ataques.
A seguir, entrevista concedida à
Folha por Siems.
Folha - Apesar da gravidade dos
ataques terroristas em Londres, as
Bolsas mundiais não pareceram ter
sido muito afetadas. No final do
pregão de quinta-feira, o índice
Dow Jones fechou em alta. Como o
sr. avalia isso?
Thomas Siems - Acho que a recuperação foi mesmo muito mais
forte do que se esperava. Parece-me que os mercados estão mais
preparados para esse tipo de
evento. Mas, se outros ataques como esse ocorrerem num curto espaço de tempo, esse quadro de
tranqüilidade pode mudar.
Folha - Por que a recuperação dos
mercados foi tão rápida?
Siems - Em Londres, já havia um
histórico de atentados terroristas
por causa do IRA (Exército Republicano Irlandês). Além disso, já
se sabia que a cidade era um potencial alvo do terrorismo desde
os ataques de 11 de setembro de
2001. Também ajudou o fato de os
discursos de Tony Blair [premiê
britânico] e de outros líderes passarem uma mensagem mais otimista e de determinação de combate a atividades terroristas.
Folha - O sr. concorda com a análise de que o mercado já precificou
as ameaças de ataques terroristas?
Siems - Isso é mais ou menos
verdade. Há provavelmente algum ajuste ao risco de ataques
terroristas nos preços de alguns
ativos. No entanto eventos que
não são previsíveis -seja uma
catástrofe natural, seja um evento
relacionado ao terrorismo- podem ter sérias conseqüências para
os preços dos ativos por causa do
medo e da incerteza. Esses dois fatores fazem com que os investidores tendam a buscar abrigo em
instrumentos financeiros mais seguros. Hoje, com a maior disponibilidade e velocidade de informações, os mercados conseguem
se recuperar de forma mais rápida
do que antigamente.
Folha - Os bancos centrais e o sistema financeiro podem fazer alguma coisa para minimizar os eventuais efeitos negativos provocados
nas economias por causa de ataques terroristas?
Siems - Acreditamos que os sistemas bancário e financeiro podem exercer um papel importante em oferecer os níveis adequados de liqüidez para promover a
estabilidade dos mercados e abafar o pânico.
Folha - Na quinta-feira, o BCE
(Banco Central Europeu), o Banco
da Inglaterra (banco central do
país) e o Fed (banco central dos Estados Unidos) concluíram, após os
ataques, que os mercados estavam
bem e que não havia necessidade
de injeção de liqüidez. O sr. concorda com essa avaliação?
Siems - Os responsáveis pela política monetária têm de levar em
consideração uma série de fatores
antes de escolher essa ou aquela
política. Não acreditamos que
após um evento dessa natureza os
bancos centrais devam, automaticamente, reduzir as taxas de juros.
Mas é verdade que eles têm de ser
rápidos, eficientes e flexíveis para
responder à situação.
Folha - É possível indicar quais
são os países mais vulneráveis a
impactos econômicos negativos de
ataques terroristas?
Siems - É difícil dizer quais são
os países mais vulneráveis. Porém
mais uma vez quero enfatizar que
muito do impacto desses eventos
dependerá da atuação dos sistemas financeiro e bancário de cada
país. De forma geral, após um ataque terrorista, é provável que todos os mercados sejam atingidos.
Mas, quanto mais informações
forem divulgadas, quanto maior
for a disposição dos governos envolvidos em resolver o problema,
mais rápida e mais eficiente será a
recuperação dos mercados.
Um exemplo disso é a reação
dos mercados em Londres e nos
Estados Unidos depois dos ataques da semana passada. Após o
choque inicial, os impactos negativos foram bem menores do que
o esperado [leia ao lado].
Folha - O sr. acredita que os mercados hoje, especialmente nos Estados Unidos, estão mais preparados para enfrentar o terrorismo?
Siems - Sim. Nossa principal
crença é que a menor vulnerabilidade dos mercados hoje é resultado do melhor nível de informação
e da tecnologia nas informações
para os investidores. Isso faz com
que os mercados se tornem mais
eficientes. Mas, infelizmente, o
terrorismo é uma ameaça permanente com a qual os mercados vão
ter que aprender a conviver.
Texto Anterior: Bancos usaram recursos para a compra de ações Próximo Texto: Frases Índice
|