São Paulo, domingo, 10 de julho de 2005

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ENTREVISTA

Segundo o economista Thomas Siems, do Fed, maior velocidade das informações diminui os efeitos dos ataques

Integração dos mercados atenua terrorismo

CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

A maior velocidade e o maior grau de integração entre os mercados financeiros mundiais são comumente apontados como os principais responsáveis pelo efeito dominó gerado pelas grandes crises globais.
Para Thomas Siems, economista sênior do Federal Reserve de Dallas (sucursal do Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos), entretanto, é essa maior rapidez de comunicação entre os mercados que pode blindar as economias mundiais contra os desdobramentos econômicos negativos de um ataque terrorista, como os que ocorreram na quinta-feira em Londres.
Em artigo publicado recentemente, o economista, ao lado do seu colega Andrew H. Chen, traçou uma série histórica dos principais atentados militares ou terroristas da história e o seu impacto no desempenho do principal índice da Bolsa de Nova York, o Dow Jones.
A conclusão dos autores é que hoje, após os ataques ao World Trade Center, em 2001, os mercados parecem sofrer conseqüências apenas transitórias. O motivo: a mesma velocidade da informação que serve para divulgar as notícias ruins também serve para apaziguar o ânimo dos mercados ao divulgar informações precisas sobre a extensão e a gravidade dos ataques.
A seguir, entrevista concedida à Folha por Siems.

Folha - Apesar da gravidade dos ataques terroristas em Londres, as Bolsas mundiais não pareceram ter sido muito afetadas. No final do pregão de quinta-feira, o índice Dow Jones fechou em alta. Como o sr. avalia isso?
Thomas Siems -
Acho que a recuperação foi mesmo muito mais forte do que se esperava. Parece-me que os mercados estão mais preparados para esse tipo de evento. Mas, se outros ataques como esse ocorrerem num curto espaço de tempo, esse quadro de tranqüilidade pode mudar.

Folha - Por que a recuperação dos mercados foi tão rápida?
Siems -
Em Londres, já havia um histórico de atentados terroristas por causa do IRA (Exército Republicano Irlandês). Além disso, já se sabia que a cidade era um potencial alvo do terrorismo desde os ataques de 11 de setembro de 2001. Também ajudou o fato de os discursos de Tony Blair [premiê britânico] e de outros líderes passarem uma mensagem mais otimista e de determinação de combate a atividades terroristas.

Folha - O sr. concorda com a análise de que o mercado já precificou as ameaças de ataques terroristas?
Siems -
Isso é mais ou menos verdade. Há provavelmente algum ajuste ao risco de ataques terroristas nos preços de alguns ativos. No entanto eventos que não são previsíveis -seja uma catástrofe natural, seja um evento relacionado ao terrorismo- podem ter sérias conseqüências para os preços dos ativos por causa do medo e da incerteza. Esses dois fatores fazem com que os investidores tendam a buscar abrigo em instrumentos financeiros mais seguros. Hoje, com a maior disponibilidade e velocidade de informações, os mercados conseguem se recuperar de forma mais rápida do que antigamente.

Folha - Os bancos centrais e o sistema financeiro podem fazer alguma coisa para minimizar os eventuais efeitos negativos provocados nas economias por causa de ataques terroristas?
Siems -
Acreditamos que os sistemas bancário e financeiro podem exercer um papel importante em oferecer os níveis adequados de liqüidez para promover a estabilidade dos mercados e abafar o pânico.

Folha - Na quinta-feira, o BCE (Banco Central Europeu), o Banco da Inglaterra (banco central do país) e o Fed (banco central dos Estados Unidos) concluíram, após os ataques, que os mercados estavam bem e que não havia necessidade de injeção de liqüidez. O sr. concorda com essa avaliação?
Siems -
Os responsáveis pela política monetária têm de levar em consideração uma série de fatores antes de escolher essa ou aquela política. Não acreditamos que após um evento dessa natureza os bancos centrais devam, automaticamente, reduzir as taxas de juros. Mas é verdade que eles têm de ser rápidos, eficientes e flexíveis para responder à situação.

Folha - É possível indicar quais são os países mais vulneráveis a impactos econômicos negativos de ataques terroristas?
Siems -
É difícil dizer quais são os países mais vulneráveis. Porém mais uma vez quero enfatizar que muito do impacto desses eventos dependerá da atuação dos sistemas financeiro e bancário de cada país. De forma geral, após um ataque terrorista, é provável que todos os mercados sejam atingidos. Mas, quanto mais informações forem divulgadas, quanto maior for a disposição dos governos envolvidos em resolver o problema, mais rápida e mais eficiente será a recuperação dos mercados.
Um exemplo disso é a reação dos mercados em Londres e nos Estados Unidos depois dos ataques da semana passada. Após o choque inicial, os impactos negativos foram bem menores do que o esperado [leia ao lado].

Folha - O sr. acredita que os mercados hoje, especialmente nos Estados Unidos, estão mais preparados para enfrentar o terrorismo?
Siems -
Sim. Nossa principal crença é que a menor vulnerabilidade dos mercados hoje é resultado do melhor nível de informação e da tecnologia nas informações para os investidores. Isso faz com que os mercados se tornem mais eficientes. Mas, infelizmente, o terrorismo é uma ameaça permanente com a qual os mercados vão ter que aprender a conviver.

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