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GLOBALIZAÇÃO
Desgosto com ex-sócios
Kasinski sai da Cofap sob protesto
FREDERICO VASCONCELOS
da Reportagem Local
Abraham Kasinski, fundador da
Cofap, a maior fabricante de autopeças do país, faz 80 anos amanhã
pagando uma promessa que não
pretendia cumprir: muito a contragosto, está deixando definitivamente a empresa.
Na verdade, são os novos controladores que estão deixando Kasinski. Ele vendeu sua participação
acionária (11% das ações com direito a voto) ao grupo alemão Mahle, por US$ 25 milhões, mas imaginava continuar, de alguma forma, na companhia.
Kasinski se afasta da Cofap sem
saber qual será o futuro da empresa, agora controlada pela italiana
Magneti Marelli, do grupo Fiat,
que adquiriu 40% das ações de
Leon e Nelson, sobrinhos de Abraham, e 30% das ações do Bradesco
(que ainda detém 10% do capital).
"Queria sair como Pelé"
Kasinski imaginava continuar
participando dos projetos de expansão da Cofap nos Estados Unidos e na Argentina, o que vinha tocando pessoalmente. Ele guarda
ressentimentos em relação a seus
ex-sócios mais recentes, o Bradesco e a Mahle.
"Eu queria sair como o Pelé",
confessa. "Não queria uma estátua, mas pelo menos sair com respeito. E é o que está faltando", diz.
Ele diz que o Bradesco tinha a
opção de compra da Metal Leve e o
convidou, em 1996, para comprarem juntos a empresa de José Mindlin. Kasinski diz que tinha que
procurar a Mahle, na Alemanha,
com a qual já vinha conversando
para fazer uma holding.
Ele diz que, depois, não foi cumprido o acordo que lhe garantia dirigir a Metal Leve e presidir o Conselho de Administração da Cofap
durante cinco anos.
O rompimento deixou no espaço
a idéia acalentada por Kasinski de
formar uma megaholding internacional, reunindo as fábricas de pistões da Cofap e da Mahle.
Novos tempos
A Cofap passará por um processo de auditoria, de 45 a 60 dias, para conferência dos números pelos
compradores. Para dirigir interinamente a empresa nesse período,
o nome mais cotado é o de Nelson
Higino, diretor do Bradesco.
A saída de Kasinski, num certo
sentido, reproduz o que aconteceu
há um ano na Metal Leve, de José
Mindlin. No novo cenário da indústria automobilística, marcado
pela agressiva internacionalização
do setor, não há mais espaço para a
figura forte do dono da empresa à
frente do negócio.
A diferença é que Mindlin, uma
personalidade mais afável, já havia
se afastado da direção executiva da
companhia, e sua maior paixão
sempre foram os livros e sua biblioteca. Kasinski, de temperamento difícil e acostumado ao comando, é um apaixonado pelo que
faz -fabricar e vender peças-, e
agora não sabe o que vai fazer.
"Honestamente, eu confesso
que não sei o que vai acontecer comigo. Eu tenho a impressão que
vai ser muito triste. Não estou habituado a ficar parado", diz.
Kasinski voltou a frequentar a
Fiesp e vai ocupar um escritório,
num imóvel da Cofap, no Pacaembu. Ele continuará dirigindo a fundação que mantém, entre outros
projetos, uma escola, um hospital
e um centro tecnológico.
"Com minha idade, não tenho
medo: 80 anos não é brincadeira,
mas com todo trabalho que fiz na
minha vida, eu deveria ter a aparência de 120", comenta sorrindo.
"Modéstia à parte, não preciso
trabalhar para garantir o futuro.
Eu vou receber um patrimônio
que dá pra viver o resto da vida
sem baixar o padrão."
Kasinski recebeu a Folha na última segunda-feira à tarde, na sala
do Conselho de Administração, na
sede da empresa, em Santo André.
Durante 4 horas, ele temperou
desabafos com a narração de episódios que confirmam sua imagem de empresário muito vivo,
com incrível capacidade de descobrir novas estratégias de vendas e
formas de ganhar dinheiro.
Divergências insuperáveis
Kasinski já havia criado antes a
mesma expectativa de afastamento da Cofap, quando fixara 11 de
julho de 1992 como o dia propício
para pendurar as chuteiras, ao
completar 75 anos de idade. O que
não aconteceu.
Naquela ocasião, eram os filhos
que queriam Abraham fora da empresa, em meio a uma disputa que
dificultava os negócios da Cofap.
As brigas familiares envolvendo
sucessão nas empresas costumam
ser resolvidas na Justiça. No caso
dos Kasinski, as pendências com
os filhos foram encerradas na alta
cúpula de um banco privado.
Foi quando o Bradesco concordou em participar de uma "operação de salvamento" da Cofap, há
um ano, com a recompra das ações
de Roberto e Renato, filhos de
Abraham (aos quais ele havia doado 51% das ações da empresa, mas
não o usufruto). O banco, contudo, exigiu que todas as ações estivessem livres de embaraços judiciais.
Com a nova composição, os sobrinhos Leon e Nelson haviam ficado com participação igual à do
Bradesco. A idéia acertada foi que
as decisões seriam sempre tomadas por maioria simples.
Mas novas divergências entre os
Kasinski -agora, envolvendo o
fundador e os dois sobrinhos-
voltaram a entravar a vida da empresa.
Sem dívida
O Bradesco, segundo Kasinski,
passou a exigir que todas as decisões fossem tomadas por unanimidade. "Meus sobrinhos, que
vendiam uma paixão desenfreada
por mim, sempre votavam contra", reclama Kasinski.
Apesar da discórdia, Kasinski diz
que está deixando para os novos
donos uma empresa US$ 700 milhões em caixa, "sem dever um
centavo a ninguém".
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