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São Paulo, domingo, 10 de agosto de 2003

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Empresários demonstram insatisfação e faltam a reuniões; conselheiros chamam propostas de inócuas

Membros criticam estrutura do "Conselhão"

DA REPORTAGEM LOCAL

Mesmo antes de chegar ao governo, o documento que o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) elaborou para estimular o crescimento do país foi criticado por integrantes do próprio conselho e por empresários. O conjunto de medidas, na avaliação deles, não será capaz de fazer a economia crescer. Mais: contém sugestões difíceis de serem executadas pelo governo.
Além disso, passados quase seis meses da criação do "Conselhão", cresce a insatisfação de parte dos conselheiros com a forma de funcionamento do CDES, criado pelo presidente Lula para aproximar a sociedade do governo. A participação de conselheiros também caiu.
Para alguns conselheiros, os temas discutidos tratam de soluções para o país a longo prazo. O que eles querem são ações mais imediatas, para retomar o crescimento econômico ainda neste ano, embora reconheçam a importância de discutir reformas estruturais -como a previdenciária, a tributária e a trabalhista.
A ausência de conselheiros titulares, notada na reunião de junho, reforça o desânimo de parte dos integrantes do CDES, na análise de alguns conselheiros.
Enquanto 79 membros -representantes da sociedade civil, dos empresários e de trabalhadores- compareceram à primeira reunião do "Conselhão", em fevereiro, 67 foram ao encontro do dia 12 de junho, como informam as atas que constam no site do conselho (www.cdes.gov.br). A lista de presença foi maior na primeira plenária, que contou com a participação do presidente Lula.
Entre os conselheiros do governo, a lista de presença também diminuiu. Em fevereiro, dez ministros participaram da primeira plenária do CDES. Em junho, foram quatro. Um dos ministros enviou seu "suplente" e outros quatro não compareceram.

Outro lado
Para o secretário-adjunto do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, Jairo Jorge, a presença dos conselheiros é "alta". "Tomando as médias das quatro reuniões, temos uma ausência entre 2% e 4%. A presença de suplentes é de aproximadamente 10%. O que indica uma presença significativa na ordem de 85% a 90% dos titulares", diz.
"Gostaria que o conselho fosse mais efetivo. Mas, ao mesmo tempo, não podemos esperar que funcione como a gerência de produção de uma fábrica", afirma Daniel Feffer, vice-presidente corporativo da Suzano Holding.
Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical, diz que as pessoas vão às reuniões para ocupar "espaço" na imprensa. "O conselho discute problemas para daqui a dez anos. Mas nem sabemos se o povo vai chegar lá com tanta fome e violência. É muita conversa fiada", afirma.

Prato pronto
Uma das principais queixas de conselheiros ouvidos pela Folha, que preferiram não se identificar, é que o governo chega ainda com "o prato pronto" na hora de debater os temas. Caso da discussão sobre a reforma tributária. O governo quer "homologar" suas decisões no conselho, afirmam.
Apesar das críticas, os conselheiros são unânimes em afirmar que o "Conselhão" é um importante canal entre o governo e a sociedade. Até por isso, alguns conselheiros ficam intimidados na hora de fazer críticas.
"Se houvesse duas frentes de discussão, com um grupo tratando assuntos mais ligados à atual situação do país e outro de saídas para o futuro, esse desânimo de alguns poderia ser atenuado", diz Jorge Nazareno, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco (Força Sindical).
Luiz Marinho, presidente da CUT, diz que o conselho não é uma "padaria". "Você não chega, faz a massa, põe no forno e sai com o pãozinho pronto. É um fórum de idéias e de debates, que está cumprindo, sim, o seu papel."

Discussões
Para Synésio Batista da Costa, presidente da Abrinq (associação dos fabricantes de brinquedos), sugerir mudança na taxa de câmbio é uma decisão equivocada. "Manter a taxa de câmbio entre e R$ 3 e R$ 3,20 só seria possível se o Banco Central comprasse dólar. Para isso teria de queimar suas reservas. Por que o governo faria isso?", questiona o empresário, que não integra o conselho.
Para Marinho, a taxa de câmbio deve ficar como está. "Não concordo com essa sugestão do conselho. O câmbio tem de se regular sem interferência", diz.
Na opinião de empresários que integram o conselho, criar linhas de financiamento para renovar o parque industrial é uma medida inócua. Dizem que a indústria trabalha hoje com ociosidade média de 20%. Em alguns setores, esse percentual chega a 40%, como o siderúrgico. Com essa folga na produção, os empresários não têm intenção de investir.
Para esses representantes do "Conselhão", incentivar acordos setoriais para favorecer indústrias que estão em dificuldades também são medidas paliativas. Há críticas também em relação à proposta de diminuir as taxas de juros cobradas pelos bancos -o que seria interferência no mercado financeiro. (FF e CR)


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