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Empresários demonstram insatisfação e faltam a reuniões; conselheiros chamam propostas de inócuas
Membros criticam estrutura do "Conselhão"
DA REPORTAGEM LOCAL
Mesmo antes de chegar ao governo, o documento que o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) elaborou
para estimular o crescimento do
país foi criticado por integrantes
do próprio conselho e por empresários. O conjunto de medidas, na
avaliação deles, não será capaz de
fazer a economia crescer. Mais:
contém sugestões difíceis de serem executadas pelo governo.
Além disso, passados quase seis
meses da criação do "Conselhão",
cresce a insatisfação de parte dos
conselheiros com a forma de funcionamento do CDES, criado pelo
presidente Lula para aproximar a
sociedade do governo. A participação de conselheiros também
caiu.
Para alguns conselheiros, os temas discutidos tratam de soluções para o país a longo prazo. O
que eles querem são ações mais
imediatas, para retomar o crescimento econômico ainda neste
ano, embora reconheçam a importância de discutir reformas estruturais -como a previdenciária, a tributária e a trabalhista.
A ausência de conselheiros titulares, notada na reunião de junho,
reforça o desânimo de parte dos
integrantes do CDES, na análise
de alguns conselheiros.
Enquanto 79 membros -representantes da sociedade civil,
dos empresários e de trabalhadores- compareceram à primeira
reunião do "Conselhão", em fevereiro, 67 foram ao encontro do dia
12 de junho, como informam as
atas que constam no site do conselho (www.cdes.gov.br). A lista
de presença foi maior na primeira
plenária, que contou com a participação do presidente Lula.
Entre os conselheiros do governo, a lista de presença também diminuiu. Em fevereiro, dez ministros participaram da primeira
plenária do CDES. Em junho, foram quatro. Um dos ministros
enviou seu "suplente" e outros
quatro não compareceram.
Outro lado
Para o secretário-adjunto do
Conselho de Desenvolvimento
Econômico e Social, Jairo Jorge, a
presença dos conselheiros é "alta". "Tomando as médias das
quatro reuniões, temos uma ausência entre 2% e 4%. A presença
de suplentes é de aproximadamente 10%. O que indica uma
presença significativa na ordem
de 85% a 90% dos titulares", diz.
"Gostaria que o conselho fosse
mais efetivo. Mas, ao mesmo tempo, não podemos esperar que
funcione como a gerência de produção de uma fábrica", afirma
Daniel Feffer, vice-presidente corporativo da Suzano Holding.
Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical, diz que as
pessoas vão às reuniões para ocupar "espaço" na imprensa. "O
conselho discute problemas para
daqui a dez anos. Mas nem sabemos se o povo vai chegar lá com
tanta fome e violência. É muita
conversa fiada", afirma.
Prato pronto
Uma das principais queixas de
conselheiros ouvidos pela Folha,
que preferiram não se identificar,
é que o governo chega ainda com
"o prato pronto" na hora de debater os temas. Caso da discussão
sobre a reforma tributária. O governo quer "homologar" suas decisões no conselho, afirmam.
Apesar das críticas, os conselheiros são unânimes em afirmar
que o "Conselhão" é um importante canal entre o governo e a sociedade. Até por isso, alguns conselheiros ficam intimidados na
hora de fazer críticas.
"Se houvesse duas frentes de
discussão, com um grupo tratando assuntos mais ligados à atual
situação do país e outro de saídas
para o futuro, esse desânimo de
alguns poderia ser atenuado", diz
Jorge Nazareno, presidente do
Sindicato dos Metalúrgicos de
Osasco (Força Sindical).
Luiz Marinho, presidente da
CUT, diz que o conselho não é
uma "padaria". "Você não chega,
faz a massa, põe no forno e sai
com o pãozinho pronto. É um fórum de idéias e de debates, que está cumprindo, sim, o seu papel."
Discussões
Para Synésio Batista da Costa,
presidente da Abrinq (associação
dos fabricantes de brinquedos),
sugerir mudança na taxa de câmbio é uma decisão equivocada.
"Manter a taxa de câmbio entre e
R$ 3 e R$ 3,20 só seria possível se o
Banco Central comprasse dólar.
Para isso teria de queimar suas reservas. Por que o governo faria isso?", questiona o empresário, que
não integra o conselho.
Para Marinho, a taxa de câmbio
deve ficar como está. "Não concordo com essa sugestão do conselho. O câmbio tem de se regular
sem interferência", diz.
Na opinião de empresários que
integram o conselho, criar linhas
de financiamento para renovar o
parque industrial é uma medida
inócua. Dizem que a indústria trabalha hoje com ociosidade média
de 20%. Em alguns setores, esse
percentual chega a 40%, como o
siderúrgico. Com essa folga na
produção, os empresários não
têm intenção de investir.
Para esses representantes do
"Conselhão", incentivar acordos
setoriais para favorecer indústrias
que estão em dificuldades também são medidas paliativas. Há
críticas também em relação à proposta de diminuir as taxas de juros cobradas pelos bancos -o
que seria interferência no mercado financeiro.
(FF e CR)
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