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RECEITA ORTODOXA
Declaração do Tesouro de que não comprará agora moeda dos EUA fortalece real; Bolsa sobe 2,17%
Dólar cai 1,5% e fecha abaixo de R$ 2,30
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Nem parece que há apenas 15
dias o dólar bateu em R$ 2,46 e
ameaçou deixar para trás os tempos de real valorizado. Ontem,
pela primeira vez desde abril de
2002, o dólar fechou abaixo dos
R$ 2,30. E nada indica que tenha
encontrado seu piso.
A expressiva queda de 1,50% registrada ontem levou a moeda
norte-americana aos R$ 2,295. A
declaração do secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, de
que não vê "urgência" em voltar a
comprar dólares no mercado acabou por empurrar a cotação da
moeda ainda mais para baixo
(leia texto nesta página).
O mercado achava que, com o
atual valor baixo da moeda, o BC
estivesse na iminência de voltar a
comprar dólares.
A moeda até chegou a subir um
pouco (0,56%, a R$ 2,343) na
abertura do mercado, mas mudou de tendência rapidamente.
O dia poderia ter sido menos
tranqüilo com a pesada agenda de
ontem: houve divulgação do IPCA de julho, reunião do Fed (banco central dos EUA) e o depoimento do empresário Marcos Valério de Souza à CPMI.
Mas nenhum dos eventos chegou a surpreender. O IPCA, que
subiu 0,25% (leia texto na pág.
B3), não assustou e ficou dentro
do esperado pelos analistas. A decisão do Fed de elevar os juros do
país para 3,5% também era amplamente prevista (leia texto na
pág. B4).
Sem surpresas desagradáveis, a
Bolsa de Valores de São Paulo encontrou espaço para subir consistentemente. O Ibovespa (índice
que reúne as 55 ações mais negociadas) teve alta de 2,17% e fechou
na máxima, aos 27.291 pontos,
maior patamar em cinco meses.
Mais uma vez, os papéis de bancos marcaram presença entre os
mais rentáveis. A ação PN do Bradesco subiu 5,42%, e a ON do
Banco do Brasil, 4,54%. O Global
40, um dos títulos da dívida brasileira mais negociados no exterior,
teve alta de 1,14% ontem. O movimentou ajudou a derrubar o risco-país um pouco mais. O risco
brasileiro encerrou o dia aos 382
pontos (baixa de 1,29%).
O fato de a administradora de
fundos de investimentos Pimco
(Pacific Investment Management
Co) ter dito que os investidores
devem continuar aplicando em títulos de emergentes contribuiu
para dar novo ânimo aos títulos
brasileiros negociados lá fora.
Mohamed El-Erian, diretor-executivo da Pimco, disse à
Bloomberg que "a valorização da
moeda chinesa terá pouca influência sobre a possibilidade de
diminuição da demanda do país
asiático por commodities de
emergentes".
Copom
O resultado do IPCA não teve
forças para modificar as projeções futuras de juros. Os analistas
continuam divididos em relação à
decisão do Copom (Comitê de
Política Monetária) sobre a taxa
básica -a Selic. Há um grupo
que afirma ser possível que a taxa
comece a ser reduzida já na reunião do Copom da próxima semana. Outro (talvez um pouco
mais numeroso) espera redução
apenas a partir de setembro.
"O BC tem seguido à risca seu
plano. Disse que esperaria ver a
inflação convergir para as metas
para iniciar o processo de redução
da Selic. Há indicações convincentes de que isso está ocorrendo.
Assim, vejo condições de a taxa
começar a cair neste mês, em 0,25
ponto percentual", afirma Joel
Bogdanski, gerente de política
monetária do Banco Itaú.
As taxas de juros futuros tiveram leve baixa no pregão de ontem da BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros).
A Selic está hoje em 19,75%
anuais. Para o fim de 2005, a projeção média do mercado financeiro é que a taxa básica da economia
esteja em 18% anuais.
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