São Paulo, quarta-feira, 10 de agosto de 2005

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RECEITA ORTODOXA

Declaração do Tesouro de que não comprará agora moeda dos EUA fortalece real; Bolsa sobe 2,17%

Dólar cai 1,5% e fecha abaixo de R$ 2,30

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Nem parece que há apenas 15 dias o dólar bateu em R$ 2,46 e ameaçou deixar para trás os tempos de real valorizado. Ontem, pela primeira vez desde abril de 2002, o dólar fechou abaixo dos R$ 2,30. E nada indica que tenha encontrado seu piso.
A expressiva queda de 1,50% registrada ontem levou a moeda norte-americana aos R$ 2,295. A declaração do secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, de que não vê "urgência" em voltar a comprar dólares no mercado acabou por empurrar a cotação da moeda ainda mais para baixo (leia texto nesta página).
O mercado achava que, com o atual valor baixo da moeda, o BC estivesse na iminência de voltar a comprar dólares.
A moeda até chegou a subir um pouco (0,56%, a R$ 2,343) na abertura do mercado, mas mudou de tendência rapidamente.
O dia poderia ter sido menos tranqüilo com a pesada agenda de ontem: houve divulgação do IPCA de julho, reunião do Fed (banco central dos EUA) e o depoimento do empresário Marcos Valério de Souza à CPMI.
Mas nenhum dos eventos chegou a surpreender. O IPCA, que subiu 0,25% (leia texto na pág. B3), não assustou e ficou dentro do esperado pelos analistas. A decisão do Fed de elevar os juros do país para 3,5% também era amplamente prevista (leia texto na pág. B4).
Sem surpresas desagradáveis, a Bolsa de Valores de São Paulo encontrou espaço para subir consistentemente. O Ibovespa (índice que reúne as 55 ações mais negociadas) teve alta de 2,17% e fechou na máxima, aos 27.291 pontos, maior patamar em cinco meses.
Mais uma vez, os papéis de bancos marcaram presença entre os mais rentáveis. A ação PN do Bradesco subiu 5,42%, e a ON do Banco do Brasil, 4,54%. O Global 40, um dos títulos da dívida brasileira mais negociados no exterior, teve alta de 1,14% ontem. O movimentou ajudou a derrubar o risco-país um pouco mais. O risco brasileiro encerrou o dia aos 382 pontos (baixa de 1,29%).
O fato de a administradora de fundos de investimentos Pimco (Pacific Investment Management Co) ter dito que os investidores devem continuar aplicando em títulos de emergentes contribuiu para dar novo ânimo aos títulos brasileiros negociados lá fora.
Mohamed El-Erian, diretor-executivo da Pimco, disse à Bloomberg que "a valorização da moeda chinesa terá pouca influência sobre a possibilidade de diminuição da demanda do país asiático por commodities de emergentes".

Copom
O resultado do IPCA não teve forças para modificar as projeções futuras de juros. Os analistas continuam divididos em relação à decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) sobre a taxa básica -a Selic. Há um grupo que afirma ser possível que a taxa comece a ser reduzida já na reunião do Copom da próxima semana. Outro (talvez um pouco mais numeroso) espera redução apenas a partir de setembro.
"O BC tem seguido à risca seu plano. Disse que esperaria ver a inflação convergir para as metas para iniciar o processo de redução da Selic. Há indicações convincentes de que isso está ocorrendo. Assim, vejo condições de a taxa começar a cair neste mês, em 0,25 ponto percentual", afirma Joel Bogdanski, gerente de política monetária do Banco Itaú.
As taxas de juros futuros tiveram leve baixa no pregão de ontem da BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros).
A Selic está hoje em 19,75% anuais. Para o fim de 2005, a projeção média do mercado financeiro é que a taxa básica da economia esteja em 18% anuais.


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